O quarto estava envolto da briza suave noturna, apenas as velas iluminavam o local com uma luz fraca e trêmula. O coração batia no ritmo da paixão que a preenchia dia após dia de forma inexplicável a consumindo aos poucos. Um destino bonito demais para se acreditar, porém, mesmo assim ela o aguardava todas as noites.
A sombra dele emergiu, seus cabelos loiros brilhavam à luz fraca e seus olhos amarelados a traziam arrepios de medo e excitação, como uma viagem do céu até o inferno. Sua figura era imponente e se aproximava com passos silenciosos, por mais que seu toque fosse gélido, sua voz era como feitiço, a enlaçando em um beijo mortal.
Surpresa pela atitude, seus olhos refletiam medo e desejo mas logo se fecharam no enlace dos lábios, dando espaço para um ambiente mais íntimo.
Os lábios do demônio se encontraram com a pele quente, prometendo um prazer inigualável, mas também uma agonia indescritível. Cega, era incapaz de disernir o perigo, até sentir as presas fincando sua pele, de forma fria e faminta.
Começando a sugar seu sangue, em um ato cruel, a dor e o prazer se misturavam em uma sinfonia de emoções, enquanto a vítima desfalecia em pânico, deixando suas lágrimas de angústia molharem sua face. A escuridão pairava sobre ela, tendo até sua última gota drenada.
Quando se afastou, o corpo em seus braços estava imóvel e pesado, como uma boneca de porcelana, deixando nela sua cicatriz. Estando devidamente alimentado, desapareceu nas sombras, tendo seu nome como uma parte obscura e oculta daquele império: Angústia.
À espreita, em busca de suas presas, permanecia sedento pela dor e remorso humano. Mais de cem anos haviam se passado desde seu último ataque, e ele se movia nas sombras com fome por sua próxima vítima.
Nas proximidades de uma vila isolada, percebeu um jovem solitário sentado perto de sua humilde casa. A luz das velas iluminava seu belo rosto, destacando os traços de seu perfil. O rapaz estava imerso em lágrimas sôfregas e intensas, que escorriam pela sua pele enquanto seu corpo se contraia em dor.
A vila ficava no vale entre duas montanhas majestosas, cercada por uma densa floresta, sendo ali o lar de Hoseok, no qual sua beleza era indescritível, bem distinta dos rostos comuns. Uma obra-prima esculpida pela natureza, sendo o perfeito equilíbrio entre a delicadeza e a brutalidade.
A cena de beleza e sofrimento era um contraste irresistível para o demônio e a dor que emanava do jovem soava como um chamado sorrateiro, em uma sinfonia de tormento que o hipnotizava. Em passos silenciosos se aproximava de maneira sorrateira, o observando atentamente, com seu olhar fixo em Hoseok, que tinha seu rosto banhado por lágrimas. As vestimentas do rapaz aparentavam estar rasgadas e seu rosto surrado.
Perdido em seu próprio sofrimento, não percebeu a presença, continuando a chorar. Sua alma parecia estar sendo devorada por uma tristeza e arrependimento profundo, com seus pulsos fechados e corpo curvado, seu choro era alto e sôfrego. No entanto, ele não ficaria sozinho por muito tempo.
O demônio aproximou-se com passos sorrateiros, observando o jovem por alguns instantes antes de abordá-lo. — O que faz aqui fora tão tarde da noite? — Com um sorriso nos lábios, perguntou com um ar superior.
Hoseok ergueu o rosto, dando um sobressalto pelo inesperado som. Seus olhos se encontraram brevemente, um contraste gritante com a simplicidade da vila. "Quem passaria por aqui tão tarde da noite?" — Hoseok se questionava.
A presença vestia roupas escuras adornadas com detalhes em ouro e sua pele parecia com a de uma porcelana. — Peço desculpas pela perturbação, senhor. Eu não percebi sua chegada. — O jovem instintivamente se ajoelhou, como gesto de respeito e submissão, o perguntando em seguida o que um nobre estaria fazendo em um lugar tão recluso como aquele.
Angústia não sabia bem qual era o tormento que aprisionava o jovem, mas conhecia os humanos e sabia que eles eram capazes de tudo por dinheiro e fama. Sua fala carregava sua crueldade oculta, como se ele soubesse de segredos que Hoseok mal podia imaginar. — Não se preocupe com esses detalhes, estou apenas de passagem. No entanto, parece que encontrei alguém que pode me ajudar. — Ponderou. — Preciso de alguém que conheça esse local para me acompanhar durante minha estadia por aqui, enquanto faço meus estudos. — Ele se aproximou do jovem ajoelhado, testando seus limites.
— Em recompensa tenho a oferecer todas as jóias que você vê em meu corpo. — Apesar da proposta tendenciosa, o rapaz parecia cego pela sua tormenta, aceitando sem nem mesmo questionar. Uma vítima perfeita.
Hoseok se viu em um conflito interno. Ele precisava do dinheiro, mas havia algo naquela proposta que o fazia desconfiar do estranho nobre. Sem jeito, ofereceu seu serviço, acreditando que algum ser divino havia escutado suas preces. — Claro, senhor. Estou à sua disposição. — O rosto de Hoseok permanecia próximo aos pés da figura sombria.
Com um sorriso satisfeito, Angústia o seguiu até uma estalagem. O interior era simples, com móveis modestos e antigos e uma pequena lareira que iluminava o local. — Você chorava com tanta intensidade lá fora... — Parou para se deitar relaxado no colchão improvisado. — Qual é o motivo de tanta aflição? — A pergunta fez com que o jovem se encolhesse envergonhado.
— Minha família vive de pequenas vendas no mercado da cidade. — Iniciou, com sua voz vacilando. — Algumas horas antes do Senhor passar eu havia sido assaltado, toda a mercadoria que sustenta minha família havia ido embora por culpa minha. — Angústia não pôde conter um riso fraco diante da situação. — Você chorava com tanto desespero por causa disso? — Para quem já havia presenciado lágrimas de angústia pelos mais diversos pecados, o demônio achou o rapaz ingênuo.
Deixando ser levado pelo cansaço, adormeceu ao lado da figura suspeita.
Em uma noite escura e tempestuosa, nas vielas do que parecia ser um palácio do império antigo, a chuva caía incessantemente e os relâmpagos cortavam o céu noturno, iluminando telhados de templos decadentes.
Confuso, Hoseok caminhava por um corredor longo e sinuoso, cujas paredes eram adornadas com intrincados relevos de dragões e serpentes. Velas de incenso queimavam, espalhando um aroma estranhamente conhecido. A cada passo que ele dava, sombras sinistras se formavam nos cantos, criando imagens inquietantes de seres pálidos.
Nesse momento, ele se viu em uma sala ancestral, cercado por estátuas de demônios e espectros. O ar estava impregnado de um silêncio opressor, quebrado apenas pelo som de gotas de sangue pingando de altares em forma de lótus. A angústia tomou conta dele, mesmo sabendo ser irreal, conseguia sentir seu peito apertar e sua garganta fechar em um nó, aos poucos trancando sua respiração.
O jovem podia sentir a presença de algo observando-o nas sombras. Uma sensação de culpa e terror o envolvia, acentuando em seu corpo a urgência em sair imediatamente dali. Ele olhou para trás e viu sombras movendo-se rapidamente em sua direção, uma multidão de espectros famintos por sua alma.
Correu, mas não importava o quão rápido ele corresse, eles o seguiam incansavelmente. Cada vez que olhava para trás, via seus olhos vazios e gélidos, brilhando com um desejo insaciável de arrastá-lo para as profundezas da escuridão.
Ele podia sentir o hálito gelado em seu pescoço, e a sensação de desespero e dor física aumentava a cada passo que dava. Quando então se virou para frente e se viu diante de uma pessoa, no qual não conseguiu reconhecer, sendo tocado pelas mãos frias e pálidas deste.
Hoseok acordou suando e ofegante, demorando para assimilar onde estava, até ver a imagem do nobre rapaz sentado na cama, à sua espera.

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Angústia - No Limiar do Pesadelo [YOONSEOK]
FanfictionNo esplendor da Ásia Antiga, Yoongi, um jovem da nobre família Min, desfruta de uma vida de privilégios como primo distante e amigo íntimo do príncipe. Ele é um amante da música e um ávido leitor, vivendo uma vida de cultura e conhecimento no paláci...