Capítulo XXVI • Álcool

Começar do início
                                    

Até que os ponteiros marquem nove horas da manhã, fico na cozinha, em uma cadeira no balcão, lendo e relendo as dedicatórias feitas à mão pela minha mãe anos atrás.

Sei que após aquelas páginas de falas melancólicas e maternais, há conteúdos que deveria compreender, mas quando não se tem mais o principal fator relacionado à essas orientações, por que ler? São só feitiços idiotas, e minha individualidade não tem mais o pronome possessivo voltado à mim. Ela não me pertence mais, assim como tantas outras coisas.

[ 09:25 A.M. ]
| Na sala de estar |

O noticiário brasileiro é bastante distinto do noticiário japonês.

Há essa altura do dia, já haveriam notícias de massacres organizados pela Liga, roubos em massa, ataques nomeados como feminicídio e etc. Já aqui, no Brasil, o que há são notícias do clima, organizações de eventos beneficentes, curiosidades da cidade, como museus, peças arqueológicas... É tudo muito estranho.

Desde que Katsuki começou a sair nesse horário, sempre ligo a TV, coloco no noticiário mais bem apurado, me acomodo no sofá com um pedaço de pão-francês com manteiga e um café adoçado na medida totalmente errônea, e fico ali, assistindo até ouví-lo chegar.

Não sei se espero algo interromper a programação, como um ataque ou algo do tipo, mas apenas penso que estou ali por curiosidade, por desejar conhecer a cidade em que atualmente vivo ― estou me enganando, eu sei.

Entretanto, antes que mude de posição para não sofrer com nenhuma cãibra, escuto o apito frenético de algum aparelho. No susto, imaginei ser algum alarme, mas logo reparei que vinha do telefone acoplado à uma parede do apartamento. Deixei meu café da manhã muito bem feito de lado e atendi a ligação, sem fazer ideia de quem se trate.

📞 Liah: ah... Sim? ― digo, com certo receio.

📞 Pai: Liah? É você, minha filha? Liguei para o apartamento certo? ― sua voz me acalma e eu suspiro, como se um peso tivesse sido retirado de minhas costas. ― tudo bem, querida?

📞 Liah: é, sim... Está tudo... indo. ― forço uma risada, torcendo para que ela aparente ser espontânea. ― algum problema, pai? Por que ligou? Eu nem sabia que você tinha o número daqui.

📞 Pai: ah, sim! O Bakugou me passou. ― o nome dele me estremece, trazendo de volta o peso sobre meus ombros. ― eu precisava falar com você, então liguei para ele, mas, não sei por qual motivo, ele ignorou a ligação e me passou por mensagem o número do telefone do AP. E bom... Eu liguei e aqui estamos.

Ele ignorou a ligação do meu pai?

📞 Liah: ah... Entendi. ― eu afirmo, recostando-me na parede ao lado do telefone. ― você... não insistiu em perguntar o que estava acontecendo? Para ele não te atender?

📞 Pai: não, não. Bakugou é assim mesmo, filha. Não há com que se preocupar. Seja lá o que aconteça, ele nunca muda. ― ele muda, sim. E muito. ― bom... Eu te liguei por causa da Zaya, Liah.

Zaya? Zaya!

📞 Liah: pela Zaya? Por quê? Aconteceu algo, pai?

📞 Pai: não, não, não. Estamos ótimos, ela está ótima. É que essa menininha aqui... ― posso ouvir a risada dela ao fundo da ligação, causando-me um sorriso momentâneo. ― ela está louca para ver a prima e passar um tempo com ela. Você não aceitaria ficar com ela por alguns dias, minha filha?

📞 Liah: ah! É claro que eu aceito! Nossa, sim! ― ele agradece, enquanto Zaya gargalhava ao fundo de felicidade. ― quando ela vem?

📞 Pai: se depender de você... hoje mesmo. ― eu pisco algumas vezes, mas logo concordo, mais do que feliz. ― tudo bem para você e para o Bakugou? Não quero que a rotina de vocês seja alterada e tudo mais.

De Repente, Você. (O Reencontro)Onde histórias criam vida. Descubra agora