– Por que diz isso? – Indagou Louis.
O moreno mais uma vez pareceu ponderar e Louis se perguntou se talvez não estivesse querendo saber demais, afinal, nada daquilo era problema seu. Mas, simultaneamente, Louis sentia que a partir do momento que ele decidiu salvar Detlev, aquilo se tornara sim um problema dele.
– Eu quase tive uma overdose uma vez por causa das merdas diluídas que ele me arranjava. Eu convulsionei no chão e me engasguei, mas Atze não fez nada – Detlev fechou os olhos e fez uma careta ruim, como se lembrar da situação doesse fisicamente nele. – Ele não me ajudou. Não chamou uma ambulância. Ele me deixou lá, morrendo afogado no meu próprio vômito depois dele me entupir de heroína. Ele nunca queria que eu ficasse limpo porque ele sabia que eu só ficaria ao lado dele enquanto eu ainda fosse um viciado de merda.
Louis encarou os olhos amendoados de Detlev e por um momento pôde ver o reflexo de sua irmã. Será que se ela tivesse sobrevivido, teria uma vida similar à dele?
– Caralho... Detlev, mas que merda cara. Esse Atze, ele é um merda.
– Ele é. Ele e Axel foram as piores coisas que aconteceram na minha vida. – Resmungou e jogou a cabeça para trás, ainda de olhos fechados.
Uma onda de culpa dominou o estômago de Louis. Ele sabia que ele era parte da pior coisa da vida de Detlev. Ele nunca se importou em ser o carrasco de Axel, já havia ameaçado, espancado e até mesmo matado algumas pessoas. Ele odiava isso, odiava o próprio trabalho, mas Louise deixou uma dívida milionária com muitos traficantes antes de morrer e Axel prometera a ele que quitaria todas as dívidas da irmã se Louis trabalhasse para ele. Ele nunca se envolvia demais nas histórias, nunca ligava pra quem eram as vítimas da cobrança cruel de Axel. Ele na verdade odiava viciados e traficantes, odiava tudo ligado a esse mundo, foram eles que tiraram Louise do seu lado.
– Minha irmã morreu de overdose. – Confessou. Ele sentia que precisava. Detlev tinha aberto uma parte importante da vida para ele e ele precisava abrir uma parte da sua também.
– É sério? Porra, Louis. Eu... Sinto muito. – O garoto franziu o cenho e quase automaticamente alcançou o braço de Louis. Ele não sabia que horas ele tinha se deitado na cama, mas agora estava ao lado de Detlev com o rosto virado para o seu.
– Eu sei que sente. Eu vi a sua foto com aquele garoto e depois a matéria do jornal com ele morto. – Declarou, envergonhado pela curiosidade que o fez bisbilhotar. Detlev arregalou levemente os olhos e depois desviou o olhar, desconcertado. – Me desculpe mais uma vez por curiar suas coisas.
– Está tudo bem, sério. – Ele pigarreou, demonstrando desconforto ao falar sobre aquilo. – Quantos anos tinha a sua irmã?
– Vinte e um. Ela era minha irmã gêmea. – Louis não conseguiu conter o sorriso que estampou seu rosto ao lembrar de Louise.
– Era branquinha que nem você? – Detlev perguntou e Louis deu uma gargalhada sincera.
– Sim. Somos ambos albinos. Nascemos em Londres, mas o sonho de Louise era ser atriz e com dezoito ela se mudou para Los Angeles mesmo contra os meus pais. Eu fiquei em Londres, com o coração dolorido pela partida dela. Mas como nem tudo são flores, as coisas não deram certo para ela por aqui e ela acabou se envolvendo com as pessoas erradas. Começou com maconha, depois evoluiu para pó e alucinógenos. No final estava se picando três vezes ao dia. Eu não sabia de nada que estava acontecendo, meus pais me esconderam tudo. Quando fiquei consciente sobre a situação, ela já estava dentro de um caixão. – Louis despejou tudo como se tirasse um grande peso das costas, era a primeira vez que ele falava abertamente sobre sua irmã. Claro que ele tinha cortado algumas boas partes, como o envolvimento de Amanda na história, que cuidou de sua irmã quando ela estava praticamente na rua. Ou o que ele fez com os três colegas de Louise que a negligenciaram quando ela estava quase morta e que agora ele era um fugitivo da polícia que trabalhava dia e noite como carrasco para pagar a dívida enorme que sua irmã viciada deixou para trás. Essa parte da história era comprometedora demais até para Detlev e sinceramente, Louis não sabia se queria que o rapaz tivesse acesso a uma parte tão delicada de sua vida. Ele sequer sabia se podia confiar nele.
– Por que seus pais esconderam isso de você? – O moreno perguntou boquiaberto.
– Era inadmissível para eles terem uma filha viciada. Eu venho de uma família muito tradicional. Depois que tudo aconteceu, cortei laços e vim para Los Angeles. – Louis respirou pesadamente, aquela era uma história difícil de falar. – Louise era... tudo. Ela era uma parte do meu corpo. Desde que ela se foi, sempre me sinto vazio, aleijado... Falta algo em mim.
Os olhos de Detlev brilharam e Louis notou que estavam marejados. Sem mais nem menos, em uma atitude quase automática, Detlev ignorou o corte na barriga, se aproximou e abraçou Louis.
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Sex, Drugs, Etc.
RomanceDepois de uma infância e adolescência difícil e violenta, Detlev tem uma dívida centenária e um histórico criminal impossível de ser apagado. Trabalhando dia e noite no Olimpo, ele tenta incessantemente pagar o que deve e se manter limpo da heroína...
Capítulo oito
Começar do início