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- Quem quer mais sangria? - Meemaw deixa escapar, e ela está en­chendo meu copo antes que eu possa protestar. Lex ainda está olhando ao redor da casa.

- E... - Ele tosse. - É, hum... Clark vem este ano? - Lilian voltou a afofar as flores no centro de mesa.

- Sim, claro. Elu está chegando com sua irmã, que deve estar aqui a qualquer minuto. Na verdade, ela deveria estar aqui há uma hora, mas você sabe como ela é. Ela insiste em rebocar aquela maldita coisa pela montanha. - Lilian se vira para mim com uma expressão de desculpas: - Minha filha vive como uma nômade.

- Lutessa vive em um Airstream -, Meemaw explica enquanto bebe seu copo grande de sangria. - Ela o estaciona no quintal de um amigo durante a maior parte do ano, mas o traz quando vem para a cabana porque alguém não gosta de deixar o cachorro dormir dentro de casa.

- Eu disse a ela que o cachorro pode dormir na garagem. - Lilian se arrepia, e Meemaw solta uma réplica sobre millennials e seus cães.

- Se Jacqueline tivesse um filho, você não pediria para ele dormir na garagem! - Eles continuam indo e voltando no assunto, mas meu cérebro perdeu a capacidade de rastrear essa conversa. Está preso em uma palavra.

- Um Airstream? - , pergunto quando volto a ter a capacidade de falar.

- Na verdade, é muito legal -, Lex me tranquiliza. - Como uma pequena casa, mas sobre rodas.

Já posso vê-la na penumbra de uma memória, parada ao lado do brilhante trailer na neve.

- Sua irmã chamada Lutessa mora num Airstream? - Isso é... é uma coincidência. Tem que ser. Não tem outra explicação. A não ser que...

- Sim...

- Um Airstream? - Andrew balança a cabeça.

- Ela está tendo um derrame? -, Meemaw se pergunta.

- Eu tive um derrame -, Lovey comenta. - Não é assim que acontece.

Isso parece um derrame. Essa sensação de dormência rastejando pelos meus braços, esse aperto no peito, esse formigamento ao redor do crânio enquanto a compreensão briga com a razão. Ele tem uma irmã chamada Lutessa que mora em um Airstream...

- Ela chegou - , Lilian anuncia, embora eu mal possa ouvir qualquer coisa além do sangue rugindo em meus ouvidos.

Um segundo de­pois, um border collie irrompe pela sala e vem deslizando com suas unhas pelo chão de madeira em direção a minha virilha.

- Paul Hollywood, não! - , Lex o repreende. - Senta.

O cachorro olha para mim com a língua pendendo de lado para fora da boca, olhos azuis penetrantes em meio a tufos de pelo cinza. Ele fica em suas patas traseiras para tentar brincar com meu rosto, sua língua lambendo meu pescoço em vez disso. E porra. Não é uma coincidência. Conheço esse cachorro, assim como conheço a mulher que entra pela porta dos fundos da casa com a mesma energia canina. Ela está usando botas pesadas com sola de borracha, jeans largos, uma flanela vermelha e marrom e aquele casaco cáqui inadequado para a neve do inverno.

Aquele que cheirava a pão recém-saído do forno. Não preciso especular sobre como a desenharia. Eu a desenhei uma centena de vezes no ano passado, e agora ela está aqui. Não em um esboço de guardanapo, mas em 3-d, de carne e osso. Na cabana da família Kim-luthor. Meu cérebro tropeça e cai sobre o como e o porquê e o pelo amor de Deus de tudo isso.

- Lena! - Meemaw quase chora enquanto a neta a ataca, dando um beijo em sua bochecha. - Estou tão feliz que você conseguiu vir este ano, querida.

É Lena. Lutessa. Lutessa Kim-luthor, aparentemente. Concordei em me casar com o irmão do meu caso de uma noite só do Natal passado.

Kiss her once for me - Supercorp Onde histórias criam vida. Descubra agora