À espera, enquanto escuto aos toques, sem uma resposta, cogito acender um cigarro. Mas então, me ocorre a ideia de que Camila facilmente se irritaria, porque ela é sempre extremamente desgostosa com a mais remota ideia de que eu fume na frente de Helena. Helena ainda não compartilha certas coisas com a mãe, ou já teria chegado aos ouvidos dela que eu não sou assim tão comportado quando estamos longe dos seus olhos. Nesses momentos, eu torço para que Helena cresça e continue minha confidente.
— Henrique. — O cumprimento de Camila é contido. Ela não parece satisfeita em me ver. Eu sorrio, apesar do descontentamento. Nós precisamos tentar ser cordiais, no mínimo.
— Você me disse que a Helena quer falar comigo.
— Eu vou chamar ela.
Dizer que as coisas terminaram de maneira pacífica entre nós às vezes exige com que eu explique que nós não nos tornamos amigos. Há ressentimentos que nunca foram tratados e certamente nunca serão, mas nós mantemos o mínimo de cordialidade — na maioria das vezes.
A imagem do mar à minha frente me distraí. O movimento das ondas é curto, o que proporciona um mar tranquilo, certamente perfeito para um mergulho. É uma pena que não haja tempo suficiente para desfrutar propriamente do mar.
— Papai! — Helena grita do outro lado da tela e meu olhar recorre a ela. O celular está muito perto do seu rosto, mais perto do que deveria, mas eu sei que pedir para que ela afaste seria, no mínimo, inútil.
— Lelê! Como você vai, meu amor?
— Bem.
— É mesmo?
Ela assente de maneira expressiva. Para uma criança de apenas três anos, Helena tem mais disposição do que muitos adultos crescidos.
— E o que é que você tá fazendo de pé tão cedo, hein? Hoje é sábado!
— Diz pro papai, filha. — Camila incentiva. Helena não parece compreender os esforços da mãe, por isso Camila precisa me dizer: — Nós vamos sair agora de manhã. Vamos pro parque para a Lelê poder andar de bicicleta.
— Ah, então você gostou da bicicleta?
Eu já espero pela resposta, mas ver Helena entusiasmada é algo sem preço. Seu rosto se acende, a câmera treme, e eu deduzo que tudo seja resultado da pequena menção ao presente.
— Eu amei, papai!
— É mesmo? Eu não achei que você tivesse andando ainda.
— A mamãe disse que vai me ensinar hoje.
Vejo Camila de relance no fundo. Ela observa a câmera à distância, mas imediatamente se ocupa com algo sobre o fogão. Eu rio da sua maneira de tentar conduzir toda situação com uma naturalidade duvidosa, como se ela não estivesse despretensiosamente se atentando ao conteúdo da conversa.
— E você não tem medo de cair? — Sugiro, dedicando minha concentração a ela.
— É claro que não. Eu sou corajosa, papai!
— Eu sei que sim, Lelê. Mais corajosa do que eu. — Quando ela faz o sorriso se estender, coloca suas bochechas em evidência, tornando seu sorriso adorável. — Pede para a mamãe tirar umas fotos. Eu quero ver depois.
— Por que você não vem? — A sugestão de Helena parece simples para ela. Quando ela pisca seus cílios extensos, é com naturalidade. Ela encara a câmera com certa expectativa, e ao não receber uma resposta de imediato, parece se frustrar. — Papai?
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Imprevisivelmente, seu | Ricelly Henrique
RomanceTudo começa de maneira casual: uma brincadeira descontraída e despretensiosa para ambos. Estela não tem a intenção de levar a menção de Henrique a sério, apesar do nível de seriedade dele, mas quando a situação se torna mais complexa e dramática do...
✩‧₊ quatro.
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