Mato e saltos sujos.

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Consequência. Algo produzido por causa de efeito ou resultado de uma ação. Ao longo da vida, é natural que se descubra que toda escolha gera uma consequência, sendo ela boa ou ruim. Mas consequência...
Essa era uma palavra que Kim Chaewon desconhecia completamente, ou parecia ignorar de propósito.

Ela observava seu reflexo no vidro, à medida que a paisagem lá fora mudava de arranha-céus até se tornar um caminho de árvores quase que infinito. Uma transição brusca da metrópole badalada de Seul para o clima pacato de Boseong.

O carro de luxo balançava levemente, dando até mesmo alguns trancos devido à falta de asfalto na estrada. Era possível ver a poeira de terra vermelha, subindo pelas janelas fechadas.
Aquele era mesmo um fim de mundo.

Enfim o veículo parou de se mover e ao olhar pela janela, foi possível ver uma imponente porteira de uma enorme fazenda. A fazenda de seus avós. Fazia pelo menos uns oito anos desde que ela havia pisado ali e se pudesse teria prolongado ainda mais esse tempo.

"Chegamos, srta. Kim. Pode descer?" - Alfred, o motorista fiel de seu pai, solicitou. Mas ela sabia que aquilo não era um pedido e sim uma ordem.

Chaewon suspirou pesadamente e enfim abriu a porta do carro. Ela encarou algumas vezes o barro a baixo de si, ponderando como faria para caminhar sobre aquilo sem sujar seus Jimmy Choo branquíssimos. Teria que tentar, não tinha opção mesmo.

A castanha caminhou com dificuldade em direção à fachada da propriedade. A cada passo que ela dava, seus saltos afundavam na terra, fazendo com que ela perdesse o equilíbrio por um momento e precisasse se segurar em uma árvore próxima para evitar cair. A poeira levantou com cada movimento, manchando os sapatos impecáveis de Chaewon.

"Mas que caralho!" - esbravejou, sentindo sua frustração aumentar. Aqueles saltos definitivamente não eram ideais para a ocasião, isso era óbvio. Mas ela imaginou que ao menos asfalto haveria no lugar. Triste engano. A Kim até teria pedido ajuda à Alfred, mas o motorista já havia deixado suas malas na entrada do lugar e ido embora.

Enquanto ela tentava analisar o estrago feito em seus bebês, ainda lidando com a instabilidade em se manter em pé, Chaewon escutou alguém se aproximando e ergueu a cabeça.

"Ah, minha pequena Chaewon! Que bom que você chegou! Peço desculpas pelo caminho acidentado, mas por aqui é assim mesmo." - cumprimentou animadamente, o avô da castanha, John Kim. Um americano de fios loiros, agora em sua maioria grisalhos. Mas ainda sim, charmoso como sempre. - "Venha, se segure em mim."

A coreana suspirou em alívio, ao vê-lo. - "Obrigada, vovô. Eu realmente subestimei o terreno daqui." - sorriu nervosa, apoiando-se  no braço do avô e sentindo-se mais segura para andar.

"Quanto tempo, hein. Nem acreditei quanto seu pai me ligou dizendo que você vinha." - disse John, atravessando com a castanha a entrada da fazenda.

"É... foi de última hora." - Chaewon respondeu baixo, percorrendo o olhar pelos arredores da propriedade, que se estendia por uma vasta área, com campos verdes até onde seus olhos alcançavam. E árvores altas e majestosas cercando a trilha de terra. Se parasse para suspirar com calma, era possível sentir o ar fresco e puro da natureza, mas a coreana não estava disposta a prestar atenção naquilo no momento.

"De qualquer forma, ficamos muito felizes de te receber aqui, pequena. Sabe que é muito bem vinda!" - O senhor sorriu gentilmente, afagando o ombro da neta, que acabou cedendo um sorriso torto. Ela estava insatisfeita demais em estar ali, para se sentir grata por isso.

"Falta muito pra chegar?" - perguntou, cansada. Andar naquelas agulhas finas em uma estrada acidentada como aquela, era um desafio e tanto.
Mas antes que pudesse ter sua resposta, seu avô soltou seu braço por um momento e caminhou para fora do caminho, em direção ao exuberante jardim que havia em frente à residência.

Sour GrapesWhere stories live. Discover now