CMC: (o vazio também engoliu esse título)

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(o vazio também engoliu esse título)

Existe algo que demorei á raciocinar
Existe algo que a maioria insiste em ignorar
Existe um vazio que tento enfrentar
Mas existe uma pequena casa no meio de um bosque onde não há como alcançar
Eu a pegarei à força, com a mesma força

Lembro da minha juventude destruída
Lembro das nossas mãos entrelaçadas e de um tapa que eu levei mão um dia
Lembro de estar debaixo da cama e de um dia ter muito medo e agonia
Mas também lembro de rio muito longe da minha casa onde costumava lavar minha apatia
E com a mesma força que me foi tirada, à pegarei de volta, minha juventude negada

Ando tentando alcançar o teto, os buracos na cortina, meu raro arco salvador, meu cinza cortante
Andei tentando me convencer de que estava seguindo estritamente a linha menos dolorosa mas a pior ainda é constante
Andava devaneando vagando quando pequeno mas não estava perdido porque costumava ser paciente
Percebi que nunca havia pensando sobre onde queria andar, nunca precisei de muito e poderia ter sido suficiente
Agora me forçam seguir rotinas que sempre abominei, me recuso e aceito a graça com serenidade porque essa não deveria ser a vida que vale a pena ser vivida

Obrigado, mas basta de não infinito, basta o mundo, às belas histórias negadas, o peso que carrego e o que carrego entre minhas pernas
Obrigado a isso, obrigado à normalizar absurdos suaves decadentes das esferas
Faceta plastificada, porosa e nitidamente rígida; sensíveis nuances fragmentadas, o burburinho no intervalo entre às músicas onde nada importa nessas festas
Disposto a ignorar toda árdua construção matura pela atenção de um homem que nunca se esforçaria para entender desprezíveis rimas
O vácuo não puxa, ele aumenta como uma estrela que envelhece
Acabou suprimindo às rimas, eu lamento, do que um quase poeta é feito se não de rimas? Eu lamento profundamente

Esvaziando

Mostrando meu pescoço e meu pulso...
Queria ser do tipo que se reconhece pelo sorriso, que gargalha facilmente...
Às pontas vermelhas dos meus dedos...
Às baleias e elefantes, as corujas e mariposas e as cabras-de-leque e os filhotes de cervos...

Sou só um pedaço, estou entendendo agora, minhas contradições, eu sei o que significa quando a chamo de puta e quando me sinto patético
Eu admito que às vezes deixo a apatia vencer sabendo que tenho que lutar contra ela
Já mencionei minha soberba?
É nítido minha disforia e a influência que lamentavelmente rumina meus desejos desalentos que ironicamente são tão simples
Ando gargalhando demais sozinho e sei que não sou muito engraçado; algo parece próximo, mas sempre parece
Astros sempre mostram minha prepotência velada, recuso a cultura e me recuso a eles, cuspindo não no abismo bilionário de afirmações e certezas, isso é meu câncer
Mal consigo me reconhecer para ao menos me definir com às desgraças já que se tornou impossível tirar o cinza do cinza
Nem mesmo me reconheço na minha humanidade, e ainda me esforço porque sei que a falta dela não pode fazer parte da minha história mesmo insípida, mesmo com minhas nuances e tendências, mesmo que a natureza não exija isso de mim apesar de exigir uma escolha
Mal me reconheço nesse corpo, pensar, urinar, excitar... acho que nunca me identificaria mesmo se diferenciasse
Inacreditável toda minha resistência ter me trazido até à lugar nenhum
Posso me salvar, acho que vejo agora, não posso temer ou desejar demais, é minha matemática natural, é o máximo da minha intenção que além tudo, é boa;
O maior do meu esforço que tento não reprimir
Acho que sou um dos pares que não se adapta, o que é lentamente apagado pela seleção natural
E pensar ou querer demais não dá margem para respostas
(Gente demais, e não tem muitos pensando demais ou querendo demais, mas mal resta tempo para existirem)
Covarde demais para morrer, covarde demais para viver, dramático demais para não escrever
Medroso demais para mostrar, branco demais para ser visto, preto demais para refletir
Um pouco barulhento, pouco são
Não é mais sobre mim, é sobre um limite bem familiar que engole lentamente e que não consigo jogar contra
Às vezes parece que nunca conseguiria, nem mesmo em alguma realidade hipotética
Olhando daqui de baixo tudo que já escrevi, tudo que passei e sobrevivi
Pobre demais para ser um gênio ou para parar de devanear e ir além
Sujo demais para voltar atrás; essas raízes contaminadas que tento cortar incessantemente quando não consigo ressignifica-las
Todo tempo vazio que moldou cada passo que dei e ainda molda
Nada seria suficiente
Acho que é tudo sobre o propósito que sucede o propósito que tem de ser simples; mas não o alcanço e a essa altura, eu ainda quero?
Meu deus, como pode ser engraçado? Como o vazio pode ser tão cômico?
Eu nunca esperei uma explicação ou sentido, sempre quis preocupações que só o privilégio pode dar, sempre quis a mediocridade sistêmica disfarçada de talento e não porque seria digno mas porque seria fácil (é digerir minha insignificância com destreza diante do cosmos enquanto ironicamente tento ficar mais bonito);
Eu queria tanto que agora parece que sempre quis

Translúcido Garoto Cósmico (Heroin Edition)Onde histórias criam vida. Descubra agora