Harry havia chorado a madrugada inteira.
As lágrimas escorriam silenciosas pelo seu rosto, como se, finalmente, encontrassem a liberdade depois de tanto tempo reprimidas. Ele sabia que o choro não era apenas resultado de uma tristeza vaga; era uma reação à reposição hormonal, que trazia uma montanha-russa de emoções descontroladas ㅡ a iminência do heat apenas amplificava esses sentimentos intensos e imprevisíveis, tornando-o ainda mais vulnerável.
Os preparativos para o período delicado começaram no dia anterior. Barbara foi gentilmente integrada à rotina, e a mudança de quarto foi uma medida necessária para garantir a privacidade do ômega, poupando, ainda, o bem-estar da sua filhote, que apesar de superficialmente ciente do que estava por vir, não poderia compartilhar o mesmo espaço que a mãe.
Enquanto Styles tentava lidar com a turbulência interna, Louis enfrentava seus próprios conflitos. Cuidar de Celeste, naquela circunstância, não era apenas uma tarefa; era uma oportunidade para se mostrar digno da confiança que o outro começava a depositar nele. A relação entre eles estava evoluindo lentamente, e a responsabilidade que sentia vinha acompanhada de um desejo profundo de não decepcioná-lo.
O alfa havia se dedicado a revisar as anotações feitas pelo rapaz, não hesitando em levantar dúvidas sobre trechos que não compreendia com clareza. Assim, gradualmente, as ideias começavam a se alinhar, trazendo certo alívio para ambos.
O relógio marcava pouco mais do meio-dia, as nuvens cobriam o céu do lado de fora.
Harry encontrava-se na beirada da cama, a atenção voltada em pentear os cabelos recém-lavados da sua prole. O cheiro agradável do xampu de damasco contaminava o ambiente, apenas reafirmando a boa qualidade do produto.
A conversa sobre o heat havia acontecido na segunda-feira.
O adulto se esforçou para explicar de maneira mais simples e apropriada para a idade de Celeste, destacando que ele poderia se sentir diferente e precisaria de mais privacidade por alguns dias. A menina escutou tudo com atenção, como sempre fazia, porém, ainda que não tivesse verbalizado nenhuma dúvida ou comentário, havia algo em seu olhar que sugeria que ela não estava confortável com a ideia ㅡ talvez não soubesse como expressar o que sentia, ou simplesmente aceitasse em silêncio.
Apesar da compreensão limitada sobre o que o cio realmente significava, Styles sabia que sua filha entendia se tratar de algo importante, algo que mudava a rotina deles de forma temporária e inevitável. E essa mudança a deixava levemente incomodada, mesmo que ela ainda não soubesse como articular esses sentimentos.
ㅡ Quem vai me dar banho quando você não estiver aqui?
Um estranho silêncio se instalou após a pergunta inesperada ㅡ a única, até então.
A mente do confeiteiro foi imediatamente invadida por memórias e sentimentos conflitantes. Desde que Celeste era bebê, ele sempre a ensinou que alfas eram perigosos, que não deveriam ser confiáveis, e que ninguém, além dele, poderia participar de momentos íntimos como o banho. Era uma proteção que ele, como ômega, sentia ser necessária para resguardar a criança das ameaças do mundo.
Ele havia construído um muro de desconfiança ao redor dela, acreditando que era a única forma de mantê-la segura. No entanto, agora, essa barreira parecia estar ruindo aos poucos. A presença de Louis em suas vidas havia despertado algo novo - uma sensação estranha, um esperança de que talvez nem todos os alfas fossem como ele sempre acreditou.
Mas como explicar isso sua filhote? Como fazer com que uma menina tão pequena compreendesse que, apesar de tudo o que ele havia dito no passado, o pediatra era diferente? Harry não queria confundir a menina, mas também não podia deixar que tais dúvidas transparecessem e alimentasse suas inseguranças.

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Nei Tuoi Occhi c'è il Cielo
FanfictionNuma Londres implacável, Harry Styles enfrenta a árdua tarefa de criar sua filha, Celeste. Em meio à noites desesperançosas e repletas de remorso, ele vê sua vida entrelaçar-se com a do pediatra Louis Tomlinson. Entre a arte da medicina e a delicad...