Meu rosto começou a esquentar à medida que caminhávamos, e eu já não sabia se era por estar nervoso ou outra coisa.

- Tem gente me encarando? - perguntei.

- Eles estão nos encarando.

- Por quê?

Ouvi seu suspiro ao meu lado.

- Acho que... estão confusos. Nós somos meio que parecidos.

- É mesmo? - retruquei. - Você é gostoso?

Se ele fosse gostoso, então isso significava que eu era também.

No entanto, ele apenas riu.

- Quando penso na minha aparência - eu disse a ele - , penso no garotinho que me encarava no espelho quando eu tinha dez anos.

- Então você pensa em fotografias?

Pisquei. Fotografias?

Ele deve ter visto a confusão no meu rosto, porque correu para se desculpar.

- Me perdoa. Eu sinto muito. Essa pergunta foi meio idiota, né?

Balancei a cabeça em negativa.

- Não... eu só... estou acostumado a estar ao lado de pessoas que sabem como é, acho. Vou ter que aprender a lidar com as perguntas. - Então acrescentei: - E em deixar as pessoas à vontade para que perguntem o que quiserem. Está tudo bem. - Dei uma risadinha e umedeci os lábios. - E sim, respondendo à sua pergunta... meu cérebro ainda funciona, só meus olhos que não. Quando tento imaginar as coisas que não vi antes, no entanto, como você ou o interior dessa escola, as coisas se complicam um pouco mais. Às vezes eu consigo mapear na minha mente, e sou capaz de criar uma impressão daquilo. Em outras vezes, visualizo as coisas como uma cor ou sentimento, ou um sol que me ajude a identificar.

Então várias imagens se passaram na minha cabeça, refletindo a forma como eu projetava as coisas na minha mente.

- Às vezes - continuei - , é só uma lembrança. Tipo... quando eu penso em árvores ou no bosque ao redor da minha casa, eu visualizo as últimas árvores que vi. Não importa onde eu esteja. Todas as árvores parecem com aquelas que vi naquele jardim em forma de labirinto com uma fonte no meio. Cercas-vivas altas e em um tom verde escuro... - fiz uma pausa, antes de prosseguir: - Uma fonte...

- Labirinto? - sondou. - Não é aquele que tem na casa de Jeon Jungkook...

Minha expressão mudou na mesma hora e eu quase tropecei. Jungkook.

Ele disse o nome dele de forma casual, como se eu soubesse quem ele era, como se estivesse acostumado a ouvir seu nome todo dia; como se ele fosse um garoto qualquer, morando bem aqui em Dongbaek. Tudo muito normal para ele.

É claro que eu sabia que ele ainda morava aqui, mas ao ouvi-lo confirmar aquilo tão de repente, simplesmente me fez perceber que abaixou minha guarda por completo.

A verdade era que eu não tinha ouvido falar dele em seis anos. Seu nome nunca era mencionado na nossa casa, não desde aquele dia em que eu o encontrei sentado por trás da fonte e acabei coberto de sangue no final. Todo mundo dizia que havia sido um acidente, mas ele me assustou muito naquele dia. Ele causou minha queda.

Devil's Night- YoonkookOnde histórias criam vida. Descubra agora