O Artista do Vazio

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Ela parecia perdida em pensamentos enquanto observava minhas obras, sem demonstrar interesse em comprar algo, mas também sem se mover. Enquanto enxugava os olhos marejados, como se tentasse esconder o que quer que tivesse acontecido, seus olhos se fixaram em uma das minhas pinturas. Era uma cena de um peixe carpa no antigo Rio Amarelo chinês. De repente, um sorriso iluminou seu rosto e ela pediu para comprar a obra, dizendo que pagaria qualquer valor por ela. Foi a maior venda daquele dia.


Na manhã seguinte, enquanto eu organizava minhas obras para expor novamente, um casal que passava em conflito se aproximou. O rapaz, visivelmente irritado, me perguntou se eu tinha algo agradável que eles pudessem dar de presente a uma amiga, já que ele havia esquecido de comprar no dia anterior. A moça ao seu lado notou uma das esculturas à minha esquerda e abraçou o rapaz, sugerindo que levassem aquela. Quando ele tocou a escultura, representando uma figura feminina que beijava seu amante, algo mágico aconteceu: ele envolveu a companheira em seus braços e a beijou apaixonadamente. Agradeceram-me generosamente e pagaram três vezes o valor que eu havia pedido.


Aqueles eventos me intrigaram profundamente, levando-me a expor todas as obras que carregava comigo, desde as mais horrendas até aquelas pelas quais tinha algum apego. Ao longo do dia, uma pequena multidão se reuniu ao meu redor, cada pessoa reagindo de maneira diferente, mas cada uma parecendo levar consigo o que precisava ou lhe faltava. Até o final do fim de semana, não restou nenhuma obra em meu estoque, seja pintura, escultura ou desenho.
Com os ganhos financeiros significativos, pude melhorar minha qualidade de vida, mas, estranhamente, não conseguia mais produzir no ritmo que agora me era exigido. A primeira moça, que havia comprado o quadro do peixe, retornou exigindo uma nova obra que a fizesse feliz. Ela me contou que a pintura anterior havia sido roubada por alguém que considerava sua melhor amiga, e que ao descobrir o ato, ambas entraram em conflito, resultando na destruição da obra e no retorno de sua tristeza.


Dia após dia, outros clientes voltaram com histórias similares, relatando acontecimentos catastróficos sempre que pessoas próximas entravam em contato com suas obras adquiridas. Minha pequena fama se espalhou rapidamente, e o pequeno grupo de pessoas interessadas se transformou em uma multidão ansiosa, pedindo que eu criasse obras que preenchessem o vazio em suas vidas.


Assim que pude, fugi. Tudo o que restou de mim foi a lenda do artista, um enigma para muitos, que não sabiam se eu era um anjo ou um demônio, mas que, de alguma forma, tinha o poder de oferecer o que faltava às pessoas.

O Artista do VazioWhere stories live. Discover now