114 e 107 Dias

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- Obrigada, meu bem. 

Um sorriso apareceu no rosto da Kim, sabia que podia confiar em Sana, e além do mais, estava muito mais do que exausta. 

Sem pensar muito, sequer foi comer, apenas se enrolou em um cobertor no sofá dizendo que depois limparia ele e lavaria o cobertor, estava cansada demais para sequer tirar as roupas sujas do hospital. Sana suspirou baixo, mas não reclamou da mulher sequer ter olhado para sua comida, apenas fez um carinho em Dahyun e a deixou dormir quietinha como um bolinho primavera enrolado.

Queria conseguir ajudar, queria fazer algo por Tzuyu, pensava  o que podia fazer.

- Tzuyu, querida. - Chamando baixo, Sana bateu na porta com delicadeza. - Toma banho rápido, sim? Eu fiz café da manhã para a gente.

Mas não houve resposta, Sana sequer ouvia alguma coisa vindo lá dentro, suspirando, ela apoiou a cabeça na porta.

- Meu bem… Dahy está dormindo, eu estou aqui, sim? Se você quiser conversar comigo, eu estou aqui, se você também não quiser conversar, só quiser um carinho, eu também estou aqui, se você só não quiser ficar sozinha, eu também estou aqui. Termina de tomar seu banho, sim? Eu vou te esperar na mesa. 

Demorou o bastante para Sana ficar decepcionada, para começar a separar os pratos, mas Tzuyu saiu do banheiro e se sentou na mesa, seu rosto vermelho e inchado, era óbvio que estava chorando na banheira, mas a Minatozaki, mesmo preocupada, sequer comentou, simplesmente serviu uma salada de frutas e um suco de laranja para a Chou, queria que ela comesse alguma coisa, mesmo que fosse algo leve. 

- Eu troquei o lençol da cama, está limpinho e cheiroso. - Começou se sentando ao lado da Chou, ela apenas assentiu. - Depois daqui, vai dormir, sim? Você precisa descansar um pouco.

Não esperou uma resposta, apenas beijou de leve o rosto de Tzuyu antes de se voltar para seu próprio café da manhã, Chou agradeceu por isso. 

107 dias até o próximo expurgo

Havia se passado uma semana desde que a Im foi internada, ao menos, de acordo com os exames feitos durantes esses dias, os efeitos não tinham sido tão graves quanto Tzuyu imaginou que seria quando ela chegou ao hospital, mas para ser sincera, era de se esperar com a rapidez de atendimento. 

Aquela senhora havia salvado a vida de Nayeon.

De acordo com o que Mia havia contado, ela tinha sido inteligente, os pais da Im não estavam em casa, então quando ouviu o som do corpo da Im caindo no chão, a senhora correu para o quarto de Nayeon, tinha tido histórico de overdoses em conhecidos e família, principalmente de opioides, desde que uma amiga havia falecido pela demora de atendimento, a governanta sempre andou com Narcan na bolsa, ao ver o pacote de remédios para dor jogados ao lado “da sua menina”, ela aplicou o medicamento enquanto chamava a ambulância,  foi aquilo que salvou Nayeon.

A mente de Tzuyu se sentia um pouco menos culpada com aquilo, mas ainda assim, não conseguia tirar de sua cabeça que Nayeon havia tentado suicidui com os remédios que ela receitou.

Deveria ter visto os sinais.

Deveria ter a mantido no hospital, conversado com ela.

Mas não fez!

Sequer conseguiu fazer seu trabalho direito!

A cada vez que ela olhava para seu celular em sua pausa, se sentia mais culpada, Chaeyoung e Jeongyeon a mandavam mensagem diariamente para perguntar se poderiam visitar a Im, se teria alguém com ela naquele dia, se um casal asiático ou homem branco estavam com ela, sempre a mesma descrição.

Mas o pior, era ver suas amigas ali, sentadas em cadeiras ao lado da cama de Nayeon, conversando baixo com ela, penteando os cabelos longos dela enquanto diziam que ela gostaria de estar arrumada, mas às vezes, ficavam só em silêncio olhando para as máquinas ligadas ao corpo da Im, pareciam ficar pensando se ela acordaria.

Queria poder fazer algo por elas.

Sempre que via aquilo, imaginava a dor que elas sentiam, não aguentava imaginar Sana ou Dahyun no lugar de Nayeon.

- Elas não saem de lá. - Youngsun sussurrou perto de Tzuyu, a enfermeira suspirou e assentiu. - Vamos tentar acordar ela hoje, tiraram a intubação ontem quando perceberam que ela conseguia respirar sozinha, então vamos tentar tirar o sedativo. Não quero que elas estejam aqui caso dê errado, mas…

- Mas caso dê, seria bom que elas estivessem aqui para Nayeon. - A médica assentiu de leve, suspirando, Tzuyu apoiou as costas na cadeira, pensando. 

- Não é seguro para Chaeyoung ficar em um lugar aberto e grande como a sala de espera de um hospital, não com Jeongyeon no estado que está… onde está sua namorada? 

- Dahyun? 

- Eu esqueci que você tem duas agora, sim, sua namorada com treinamento em artes marciais. Liga para ela, elas vão precisar de ajuda.

***

Era estranho como o grupo social de Dahyun era completamente atrelado, muito estranho.

Claro, sabia que Mina conhecia Seulgi e Joohyun, suas treinadoras estavam no casamento dela, mas não imaginava que elas seriam tão próximas ao ponto de Dahyun estar ali, sentada, completamente ofegante no chão depois de ter levado uma surra - metafórica, mas ainda valia, e muito!  - da ex militar durante seu treinamento. 

- Não fica com essa cara. - Minatozaki-Myoi riu, a arma de alto calibre apoiada ao lado dela. - Você está indo bem, demorei três vezes mais para conseguir mirar bem. E não estou só falando isso porque você está com Sana.

- Acredite, ela está sendo mais rígida por esse motivo. - Seulgi revirou os olhos, mas sorriu. - Levanta aí, sua namorada ligou. Ah, desculpa, sua namorada enfermeira. - Foi a vez de Dahyun revirar os dela, mas ainda assim, sorriu. - Estão precisando de você lá no hospital, ela disse algo sobre Jeongyeon e Chaeyoung estarem precisando de ajuda. O que aconteceu?

A coreana apertou os lábios, pensava se poderia contar ou não, mas ao mesmo tempo, já se levantava para começar a arrumar suas coisas. 

- Elas…a namorada delas está mal, Jeongyeon não está no melhor estado mental para cuidar de Chaeyoung. 

- E é perigoso… - Kim assentiu levemente para Mina, a nipo japonesas coçou de leve o rosto. - Eu vou com você. Você não tem armas de fogo ainda, talvez não seja preciso, mas considerando a reputação de Chaeyoung, não sabemos onde vai ter um louco. Eu aviso Momo no caminho. 

***

Jeongyeon não discutiu quando viu sua amiga entrando no hospital ao lado de Dahyun, pelo contrário, apenas a abraçou. Mina respirou fundo antes de corresponder, era clara a forma que a Yoo estava frágil, por isso, preferiu não comentar. 

- Vão tentar acordar ela. - Chaeyoung sussurrou quando a Kim se aproximou. - Mia está vindo… mas Tzuyu e Solar não deixaram a gente ficar lá…  

- Imagino que não vai ser uma cena muito legal para vocês. - Enfiou as mãos nos bolsos, seus olhos parando por poucos segundos no quarto atrás dos ombros do militante. - Tudo o que você pode fazer agora, é esperar por ela, ficar aqui.

- Eu sei… é só… difícil. 

Dahyun suspirou, mas não falou nada, o que poderia dizer?

The PurgeOnde histórias criam vida. Descubra agora