Sonho ou lembrança?

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          ─ Tudo parece ótimo. ─ disse com água na boca. 

          Será se eu devo contar para ela sobre o sonho estranho? Hum, acho melhor não. 

          

         O café da manhã seguiu de forma agradável, Lucy e eu conversamos sobre várias coisas, ela até me contou sobre o seu filho que havia se mudado há algum tempo para poder seguir seus sonhos e fazer a faculdade dos seus sonhos com a bolsa integral que havia estudado muito para conseguir, me contou também sobre seu marido, mas foi bem vaga sobre isso e logo desviou o assunto me falando o quanto era bom e tranquilo viver ali e que seus vizinhos eram sempre tão bons e amigáveis com ela. Com certeza essa seria uma realidade que eu gostaria de viver, uma vida tranquila e sossegada em uma pequena comunidade, mas não é algo que posso concretizar por agora. Preciso ir atrás de quem eu sou, quem sabe se eu pelo menos me lembrar de meu sobrenome vou ter alguma referência e um ponto de partida para iniciar. Lucy me contou que há uma cidade que, não é tão perto, mas posso chegar lá sem problemas. 

          ─ Uma coisa que deve lembrar é de que não pode confiar em todas as pessoas que conhecer, tudo bem? ─ Lucy me dizia calmamente olhando para mim ─ Nem todos serão pessoas boas dispostas a te ajudar como eu e você, em hipótese alguma, deve deixa-los tirar vantagem sobre você. Esse mundo está cheio de pessoas ruins, são como feras espreitando e esperando o momento certo de atacar. 

          Escutei atentamente cada uma de suas palavras me certificando de que não as esqueceria e a tranquilizando dizendo que seria esperto e daria o julgamento certo para todos que chegassem até mim. De certa forma senti ressentimento e um pouco de magoa em cada frase que ela dizia, as vezes é porque ela já deve ter passado por situações com pessoas querendo tirar proveito em sua vulnerabilidade, mas Lucy parecia tão durona e esperta que ficava difícil de imagina-la nessas situações.

          A ajudei lavando todas as louças sujas do café da manhã e organizei tudo na cozinha enquanto ela foi colher algumas coisas em sua horta e cuidar do seu jardim. Me peguei olhando para os retratos na estante novamente, por alguns momentos fiquei ainda mais tentado para perguntar mais sobre o homem de expressão fechada para Lucy, mesmo sabendo que ela provavelmente desviaria o assunto. 

          Será que eu venho de uma família feliz?

          A baixa probabilidade de não ter pessoas ou familiares dos quais se importam comigo anestesiam em parte a minha animação de ir em busca da verdade. E se eu encontrar algo que eu não queria? E se eu mesmo que fugi por não aceitar algo? E se eu estivesse fugindo da verdade? Vai ser engraçado de certa forma se isso acontecer, mas pelo menos saberei para onde eu não irei voltar nunca mais se for o caso.

          Deixando esses pensamentos de lado, caminho para a porta do fundo indo em direção onde Lucy estava abaixada cuidando das flores. Me aproximo em silêncio e sorrio de volta quando ela me olha sorrindo e logo volta sua atenção para o que estava fazendo.

          ─ Ervas daninhas conseguem me tirar do sério, não tem nem três dias que as tirei daqui e elas já estão de volta. ─ ela resmunga arrancando as ervas daninhas do meio das demais flores de diversas cores que enfeitavam ali. 

          ─ Elas só querem ser bem cuidadas assim como essas rosas. ─ digo calmamente e me abaixo a ajudando.

          ─ Talvez você tenha razão. ─ ela soltou um riso anasalado ─ Você parece pensativo demais, o que houve? 

          ─ Nada demais, só os mesmos pensamentos de que preciso ir atrás de respostas logo. ─ digo sincero fazendo a olhar para mim ─ Estou pensando em ir até a cidade que me citou amanhã. Pode ser que eu consiga algo lá, talvez. 

          ─ Entendo que deve ser agoniante querer se lembrar, mas não conseguir. . . ─ seu tom é compreensivo e até mesmo com um pouco de pena ─ Qual é o seu plano? Posso te ajudar com o que quiser, estou aqui para ajudar. 

          ─ Agradeço por tudo o que tem feito por mim, Lucy. Na verdade nem toda palavra de agradecimento que poderei dizer vai expressar a minha gratidão, você abriu a porta de sua casa e me ofereceu ajuda quando eu estava perdido, literalmente. ─ rio baixo com minhas palavras ─ Mas acho que está na hora de eu seguir o meu caminho, entende? Ir em busca da minha família, se eu tiver uma. . . Minhas memórias vão voltar com o tempo e até isso acontecer irei me sentir mais útil fazendo algo que possa me ajudar com isso. 

          ─ Não vou te parar se essa for a sua decisão, mas se precisar de um lar, de um refúgio, já sabe para onde voltar. ─ ela limpou a mão que estava com um pouco de terra e colocou sobre meu ombro dando um leve aperto ─ Me sinto como se estivesse me despedindo de um filho pela segunda vez. 

          ─ Ah, não diga isso se não eu vou chorar. ─ digo brincando fazendo a mulher rir.

          ─ Tudo bem. Mas aproveite o dia de hoje para descansar e amanhã você inicia sua grande jornada. ─ ela diz calmamente e apenas concordo com um gesto.

          Com certeza voltarei para visita-la quando tudo isso passar. 

sʜᴀᴅᴏᴡs ᴏғ ᴛʜᴇ ᴀʙʏss | SPNOnde histórias criam vida. Descubra agora