— Que tal a gente ir primeiro até aquele cais? É um lugar para pensar e você precisa pensar direito se quer mesmo ir numa festa na praia.

— Boa ideia. — ele sorri fraco.

Vamos no carro dele até o lugar em questão. Caminhamos pelo cais até o final e observamos o mar ali de cima. A praia está mais cheia desde a última vez que estivemos aqui, mas não tem ninguém perto o bastante da região em que estamos para nos notar.

— O que você sente quando imagina outras pessoas vendo a sua prótese? — pergunto.

— Me sentiria nu.

— Noah, eu sei que você teve uma relação difícil com o mundo depois do acidente, mas a sociedade mudou. — observo um pouco a praia e vejo um cadeirante em uma dessas cadeiras especiais para a areia. Uma mulher está o empurrando enquanto eles conversam e riem. Parecem estar se divertindo. — Aquilo que você acha que os outros estão pensando talvez seja muito maior do que o que eles realmente pensam. — aponto para as duas pessoas que estava observando.

— As pessoas estão olhando pra eles.

— Nós também. — digo o óbvio. — As pessoas olham quando veem algo que não estão acostumadas a ver. É chato, mas às vezes não dá pra evitar. Eu olho pra muita gente todos os dias, você acha que em algum momento alguém ficou desconfortável?

— Você teria percebido, é ótima em ler as pessoas. — abre um sorriso ao me elogiar.

— Isso é verdade. — solto uma risadinha. — Mas, às vezes, eu fico tão concentrada e fascinada por algo que eu nem percebo que posso estar sendo estranha. Um dia, eu vi uma senhorinha com cabelo roxo numa loja de roupas, eu olhei tanto que ela perguntou se eu queria dizer alguma coisa a ela. Senti meu rosto queimar de vergonha e depois disse que ela era linda.

— Então, está me dizendo que as pessoas vão olhar de qualquer jeito. — me olha de relance de um jeito um pouco incerto.

— Sim. Você não pode controlar os outros, mas pode controlar como você age sobre isso. A maioria das pessoas que passa por nós nunca mais vai lembrar que nos viu um dia.

— Eles lembrariam da minha prótese.

— Lembrariam de um cara com uma perna fodona de robô. — sorrio.

Ele ri e olha para o mar de um jeito pensativo.

— Queria que todas as pessoas fossem como você.

Puxo um pouco mais de ar para os meus pulmões e também olho para o oceano. Já ouvi muitas coisas legais de várias pessoas sobre mim, mas nenhuma delas nunca me fez sentir como ele quando me elogia. É estranho sentir meu rosto ficar quente, porque eu quase nunca sinto vergonha de algo.

— Você se permitiu me conhecer, Noah. Tem que se permitir fazer o mesmo com as outras pessoas, só assim vai encontrar gente legal.

— Acho que ainda é cedo. — ele bate o pé da perna mecânica duas vezes no chão de madeira e depois se vira para mim. — Eu posso te acompanhar até essa festa e depois a gente se vê.

Sinceramente? Eu nem queria ir mesmo. O único motivo de eu ter aceitado o convite foi porque queria criar algo legal para ele, mas acho que fui rápido demais. Ele não vai se adaptar do dia para a noite. Ele nem sequer queria que eu soubesse de sua condição, eu só vi porque ele estava bêbado.

— Na verdade, a gente podia ir até a praia. Só nós dois.

— É? — ergue a sobrancelha.

— Você não tem que ir em uma festa, mas qual foi a última vez que você andou pela areia ou chegou perto do mar?

Angels Like You ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora