Menino do Céu!

CAPITULO 30 - ACAMPAMENTO

— Prazer, meu nome é Josias, acho que já te vi na igreja local. — Estendeu a mão.

— Do jeito que o Bruno é, é até contraditório ouvir isso — brincou Lana.

— Não poderia concordar mais — respondeu Bruno e, sem apertar a mão de Josias, foi para fila do café da manhã.

Quando Bruno estava indo para fila do lanche, ele esbarrou em um rapaz encapuzado, deveria haver mais de duzentas pessoas no refeitório, logo o rapaz encapuzado sumiu dentre a multidão. Bruno franziu a testa e se perguntou o que estava rolando naquele lugar.

Após pegar o seu cuscuz com ovo e um copo de café com leite, ele sentou com o resto de seus amigos em um dos cantos do refeitório. Após o horário do café da manhã, eles foram para missa em seguida.

Na vigília da missa, enquanto o padre discursava sobre o amor de Deus e sobre os desastres naturais do mundo. Ele dizia que as coisas ruins aconteciam porque o ser humano também é livre, as mãos humanas têm um impacto enorme no que acontece no mundo.

— Se Deus sabia que seria essa desarmonia, por que ele nos deu livre arbítrio? Por que ele realmente não nos manteve como robôs, mas pelo menos não seria essa tragédia? — pergunta Bruno.

— Deus só queria que fôssemos livres — diz o Padre — O ser humano preza muito por liberdade, mas a nossa liberdade está sendo a nossa perdição. Além disso, se vocês fossem donos da Nova Jerusalém, vocês quereriam pessoas que não realmente querem fazer parte da sua cidade? Quando vocês vão convidar pessoas para uma festa, vocês convidam quem não gosta de vocês? Ou melhor, você acha que essa pessoa se divertiria nessa festa? Se estamos em um lugar que odiamos, apenas por obrigação, isso não se torna um inferno?

— Acho que todo mundo iria querer fazer parte da Nova Jerusalém se eles soubessem o quão bom é — disse uma menina aleatória na plateia.

— E é exatamente o porquê estamos aqui hoje, muito se fala sobre o que é a vinda de Jesus, muito se fala que os cristãos incomodam muita gente, igual aquela música: um cristão incomoda muita gente, dois cristãos incomodam muito mais, não é assim a música? Mas se hoje Deus, através desses cristãos que incomodam muita gente, só está querendo te falar que se você soubesse o que Deus tem preparado para você, você quereria ouvir mais sobre Deus, você quereria que essas pessoas te incomodassem, você quereria estar aonde quer que Deus está.

Bruno respirava fundo ao ouvir a vigília, para ele, parecia apenas um discurso de persuasão e tudo ainda era muito fantasioso.

Assim que vigília terminou e eles sentaram, o padre, coroinha e acólitos começaram a preparar o cálice e a hóstia. A cabeça de Bruno, no entanto, estava em uma saia jeans longa e brega, uma blusa vermelha ainda pior, o cabelo com um rabo de cavalo. Quando menos se esperava, Bruno já estava comentando das vestimentas de Lana com os amigos no meio da missa.

— Vei, a Lana é a pessoa que tem a maior energia de velha que eu conheço, é babá, religiosa e olha essas roupas, mano. Não dá pra defender — Bruno ria histericamente.

Assim que a missa terminou, o padre guiou os líderes de grupo a fazerem rodinhas com seus respectivos liderandos, que iria preparar-lhes para a palestra que viria a seguir, a primeira palestra do seminário, que teria como tema "Vê Vi: A Gangorra".

— Vei, eu ainda to morgado, ou esse tema não faz sentido nenhum? — perguntou Gael, largado na cadeira almofadada, e olhando para cima, revirando os olhos, bufando. Estava estampado na cara dele que ele não via a hora daquilo acabar.

Josias chamou Bruno e lhe fez segui-lo, Bruno achou que estava sendo guiado ao seu grupo, mas Josias lhe levava para bem distante do espaço principal, o que fazia Bruno ficar sem entender.

— Nosso grupo vai ficar tão longe assim... — Bruno ia dizendo, e Josias lhe interrompeu.

Josias empurrou Bruno em uma árvore que lhes escondia do resto dos jovens, Bruno sentiu suas costas arranharem no tronco áspero da árvore.

— Ow, você tá me machucando — impeliu Bruno, tentando tirar as mãos dele de sua blusa.

— Quando você joga seu futebol, você gosta, não é? Pra você é muito bonito. Da mesma forma o serviço a Deus é pra mim. Você gostaria que alguém caçoasse você pelo o que você faz?

Bruno desatou a rir. O maluco surtou — pensou ele.

— Então é assim que os discípulos de Jesus agem?

— Talvez eu esteja mais para São Pedro, não que você saiba o que isso significa. Mas o assunto aqui é mais homem pra homem mesmo. Se você quiser ser um de verdade, vai ter que parar de ficar rindo de mulher pelas costas, principalmente de uma que cuida do seu irmão muito melhor que você e, por mais que você lhe pague, não tem mensalidade que cobre a dedicação dela pelo seu irmão. E sobre você achar isso uma ofensa de Deus, saiba que as vezes ele nos ofende mesmo. Não porque Ele quer, mas porque ele é Verdade e, às vezes, não nos enquadramos muito nessa verossimilhança. Na verdade, nós ofendemos muito mais a Deus do que Ele a nós e nós, com certeza, temos mesmo a intenção de feri-lo. Além do mais, cuidado com o que você fala, se o ouvido errado te ouvir, você se arrepende amargamente.

— Isso é uma ameaça? — perguntou Bruno, com tom de deboche.

— Não. Isso era tudo que eu tinha pra você. Eu prefiro gastar o meu tempo com pessoas que merecem. — Josias vai saindo, quando Bruno pergunta:

— E eu não estou no tal do seu grupo?

— Infelizmente sim — respondeu, olhando acima dos ombros enquanto ainda andava. — Por mim, você é aluno facultativo. Vai se quiser.

Bruno se perguntava o porquê que esse cara achava que lhe ofendia. Bruno olhou ao redor, tentando achar alguma trilha que pudesse fazer dentre as árvores para se esconder e fumar um baseado, entretanto, quando começou a se distanciar do palco principal, ele ouviu uma voz que parecia lhe pedir para ficar.