Muta assentiu devagar, e senti o orgulho crescer dentro de mim. 

Cacete, ele estava me entendendo. 

Podia ver que estava absorvendo as palavras — minhas palavras — e de repente vi porque Geto curtia tanto essa parada de treinador. Era… recompensador.

— Você precisa confiar nos seus colegas — disse.

Mas, por alguma razão, isso fez com que o sorriso sumisse de seu rosto e uma expressão sombria assumisse seu lugar.

— O que foi? — perguntei.

Ele murmurou alguma coisa que não consegui entender.

— Não ouvi.

Ele olhou para mim.

— Fica meio difícil confiar neles quando sei que só estão esperando que eu fracasse.

— Isso não é verdade.

Só que, enquanto dizia isso, sabia que em algum nível ele estava certo. 

Alguns jogadores tendiam a ser competitivos, cuidando apenas de si mesmos. De repente, entendi o motivo de Muta estar sempre tentando se destacar — porque achava que era o que todo mundo estava fazendo.

— É verdade, sim — seu olhar foi para o gol, onde Suguru estava falando com Noritoshi — Principalmente Ren. Ele ama me fod... me ferrar — Muta corrigiu. — E no jantar, na hora de dormir ou no café do dia seguinte ele fica listando todos os meus erros. Adora mexer com a minha cabeça.

Soltei um suspiro.

— Vocês estão no mesmo quarto, né?

— Infelizmente — ele sussurrou.

— Vocês fazem alguma coisa juntos além de treinar? Falam sobre outras coisas além de hóquei?

— Não — ele disse, dando de ombros. — Quer dizer, ele fala sobre o pai às vezes. Acho que não se dão bem. Mas é meio que isso.

— Quer um conselho?

Sua expressão era honesta quando ele assentiu de novo.

— Tente conhecer o cara melhor. Faça com que confie em você fora do gelo.

Virei a cabeça para o gol.

— No primeiro dia em que enfrentei Suguru - quer dizer, o treinador Geto -, fui um total idiota. Metido, prepotente. Eu o provoquei antes de cada tiro, fiz uma dancinha a cada gol. Sério, ele queria me matar quando o treino acabou. Falou pro treinador Yaga que me odiava e sugeriu que me mandassem de volta pro planeta de cretinos do qual eu tinha vindo.

Muta riu.

— Mas vocês são amigos agora.

— Pois é. E também éramos colegas de quarto naquela época. Voltamos pro quarto depois do primeiro treino e ele só ficou me encarando, durante uma hora.

— O que você fez? — Muta perguntou, curioso.

— Sugeri que a gente jogasse Eu Nunca. Demorei um pouco para convencer o cara, porque ele estava mesmo irritado comigo. Mas acabei conseguindo.

Sorri com a lembrança. 

Tomamos umas latas de Red Bull que eu tinha roubado de um dos treinadores e nos conhecemos melhor dizendo as coisas mais ridículas. 

Nunca fiz xixi nas calças num jogo dos Bruins

Nunca mostrei a bunda para um ônibus cheio de freiras durante uma excursão da escola para uma fábrica de chicletes. 

ELEOnde histórias criam vida. Descubra agora