Pelas Crianças

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I
Brennan

Apesar de uma noite de descanso leve, o Caçador ainda permanecia atordoado pelos eventos recentes. Toda a sua conversa com Asterin parecera irrealista até demais, mas lhe resultou em menos estresse com a manhã seguinte, deu alguns "bom dia", e passou a escovar os pelos arrepiados de Kalliope, não acompanharia o grupo aquele dia, iria pelos céus, a fim de já garantir quartos em uma estalagem e um jantar, um acordo breve feito entre Belen, Rhovannion e Asterin, que já depositaram suas partes com ele.

Separou algumas coisas extras, tais como seu cachecol, podendo utilizar como uma máscara de boca e seus óculos de vôo, limpou-os com cuidado e prosseguiu colocando a sela em Kalliope enquanto ela bocejava e reclamava de sono, apesar de ninguém estar perto, seria notável se ele conversasse com ela, então apenas segurou o enorme bico para manter a cabeça dela para cima.

Ouviu alguns passos atrás de si, e quando olhou, se surpreendeu ao ver Scotch, o ignorando completamente e analisando todo o equipamento de Kalliope. Ela passou os olhos atentos pelos fios da sela, pela cinta que tinha alguns ganchos, e como fora feito para caso Kalliope fizesse algum movimento brusco, Brennan não sairia voando nos ares, algo que já aconteceu. A anã nem perguntou, apenas mexeu em alguns cintos, com Kalliope sonolenta, ela nem protestou. Os ajustes fizeram a sela ficar em meio ao torso da grifo-corvo, de um jeito que suas asas não eram muito afetadas, e em seguida, olhou o caçador com a seriedade de uma pedra. Apertou o cinto de segurança, e lhe roubou os óculos de voo da mão.

– Quem fez isso? – Ela disse, tirando um monóculo, com algumas lentes à mais, para ter uma visão melhor de pequenos objetos.

– Ah, acho que algum ferreiro em Sellam Karanna. Há alguns apenas... Foi um trabalho sob pedido, normalmente não montamos as criaturas que caçamos. – Kalliope grasnou, e Brennan deu de ombros para ela.

– Bom, é uma merda. Isso vai mais machucar seu rosto do que te proteger de fato. Quando chegarmos na Encruzilhada do Amaratt, eu faço um melhor para você. Por um preço e se quiser, é claro.

O humano olhou para ela, intrigado, mas suspirou, que escolha teria? Sabia que não era dos melhores, mas ainda assim... – Qual seu preço?

– Cem peças de ouro. – Ela disse sem hesitar, o que tirou Brennan de seu estado constante de tédio.

– Ahh... eu posso... ir pagando? – Ele tocou sua bolsa, observando as moedas dentro, além dos pequenos bolsos com o dinheiro dos outros companheiros.

– Não. – Ela devolveu os óculos. – Boa sorte, mesmo assim. Quando tiver dinheiro, fale comigo se eu estiver de bom humor como hoje, até.

Ele fez uma breve reverência, e olhou para Kalliope, que estava encarando a anã, tão confusa quanto o próprio. Então vestiu os óculos, e saltou para as costas de Kalliope, acariciando o pescoço dela, andando com a mesma até o meio da estrada, e numa breve corrida, com a grifo-corvo abrindo as asas e grasnindo, num salto, ela já ia subindo aos céus. Brennan, por sua vez, se segurava com força nos apoios à sua frente, de cabeça baixa, deixando que ela fizesse a magia da subida por si só. Olhando para baixo, vendo os companheiros se tornarem pontos pequenos conforme subia, as nuvens foram roubando sua visão aos poucos, mas não era problema para a amiga alada. Ela subiu até acima delas, e teve o seu momento de ânimo, para despertar, imaginou ele.

– Até que enfim, você acordou! – Gritou ele para a corvo, ela corvejou de volta, e ele deu uma risada. – Pessoas estranhas, não é? Quem diria que estaríamos enfiados em um grupo tão esquisito. Você confia neles?

Kalliope olhou para o caçador, e balançou sua cabeça. "Talvez", ele entendeu.

– Eu não sei. Estou indo porque são aliados poderosos, e eu acho que ainda é um dos três. Scotch não gosta de mim, Belen quer ser muito amigável e Asterin está se metendo muito. Talvez eu esteja sendo muito cauteloso, mas ainda acho que é um deles. Apesar de que eu gosto da proximidade, não vou mentir. – Ele se debruçou, ajustando-se no assento, agora quase deitado na sela, percebendo que o ajuste de Scotch fez mais sentido, ele não ficaria mais tão curvado, e parecia um pouco mais despercebido. – Mas certamente, sabe o que faz.

Os Contos de GrunnearusOnde histórias criam vida. Descubra agora