CAPÍTULO ÚNICO.

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PORTO REAL — WESTEROS.

O AÇOITE DAS CHAMAS clareava as paredes frias da Fortaleza Vermelha, enquanto as palavras de misericórdia se perdiam nos corredores escuros. O ar estava impregnado com o cheiro de ervas medicinais e sangue, os gritos de dor ecoando como um prenúncio de tragédia.

Era o décimo dia do quinto mês do ano 105 DC, quando a rainha Aemma Arryn enfrentou as dores do parto pela última vez. Naquele dia, em meio ao sofrimento, uma nova vida entrou no mundo. Contudo, o preço foi alto demais para o rei Viserys I Targaryen.

Quando Aemma deu à luz, seus últimos suspiros foram engolidos pela escuridão, deixando para trás uma filha pequena, Aella Targaryen. Naquele momento, o som do choro da recém-nascida misturou-se ao silêncio fúnebre que envolveu o quarto. Para Viserys, esse choro não era um símbolo de esperança, mas um lembrete cruel do sacrifício de sua amada esposa. Ele observou a filha com horror e culpa, seu coração pesado pelo que sentia ser uma escolha desastrosa. Em sua mente, a responsabilidade pela morte de Aemma recaía sobre seus próprios ombros, e o som do bebê era uma repetida acusação.

Ele havia matado à própria esposa por um herdeiro que não veio.

A partir daquele dia, Viserys afastou-se de Aella. Ele mal conseguia olhar para a criança sem ser assombrado pelas lembranças da perda, e essa distância apenas se ampliou com o tempo.

A sorte da menina mudou quando Alicent Hightower, a nova esposa do rei, entrou em sua vida. Alicent, ainda jovem e recém-coroada rainha, não conseguia suportar a ideia de uma criança inocente ser abandonada. Ela tomou a criança sob sua proteção, criando-a com o cuidado e a afeição que Viserys não pôde oferecer. Se tornou a mãe que Aella nunca teve, amando-a como se fosse sua própria filha.

Um vínculo que, mais tarde, ela demorou a conseguir com seus próprios filhos de sangue.

Os anos passaram, e conforme Aella crescia, ela se tornava cada vez mais consciente de seu lugar no mundo. Ela era uma Targaryen, uma princesa. Herdeira do sangue do dragão, mas também era uma filha rejeitada, uma lembrança viva de um erro trágico.

E embora Alicent tenha feito de tudo para que ela não se sentisse assim, era inevitável.

Para ela, a presença da madrasta era acolhedora, mas também era uma marca contínua de que ela não pertencia completamente a ninguém. Não ao pai que a evitava, nem totalmente à mãe adotiva que a amava com reservas.

Aella, apesar de sua juventude, tinha uma presença que deixava a corte inquieta. Não porque ela buscasse atenção, mas precisamente porque não parecia precisar dela. Ao contrário de sua irmã Rhaenyra, cujo brilho natural a elevava aos olhos de todos como a herdeira de Pedra do Dragão, Aella permanecia uma incógnita. Não demonstrava ressentimento por não ser a favorita de Viserys; ao contrário, parecia se fortalecer com isso, como se a ausência de expectativas lhe conferisse uma liberdade que poucos compreendiam.

Os sussurros nos corredores da Fortaleza Vermelha e nas vielas de Porto Real eram sempre os mesmos: A garota era a imagem viva de sua mãe, Aemma Arryn, e muitos acreditavam que era por essa razão que o rei a mantinha à distância. A semelhança física e a doçura do temperamento da princesa faziam com que até os mais endurecidos cortesãos se lembrassem da falecida rainha com uma melancolia silenciosa.

Embora fosse doce e aparentemente inocente, havia uma profundidade na princesa que nem todos conseguiam decifrar. Otto Hightower, a Mão do Rei, via com desconfiança a calma com que Aella se movia pelos perigosos jogos da corte. Ele a considerava ingênua, uma criança que ainda não havia percebido o quão cruel o mundo podia ser. Mas, era essa serenidade que mais o incomodava. Ele estava acostumado a manipular aqueles ao seu redor, a moldar as situações para seu próprio benefício. Já Aella, parecia imune a suas tentativas de influência, como se percebesse o jogo, mas simplesmente escolhesse não participar.

ONE-SHOT | ALICENT HIGHTOWER Where stories live. Discover now