— Onde você vai? — eis a primeira fala do dia. Madrugada, talvez, a julgar pela escuridão.Indecência e falta de consideração: Vemos por aqui. Stênio se levantava da cama do chalé naquele frio, com seu peito nu, pernas nuas, cabelo bagunçado e rosto amassado, e jurava que no meio daquele tormento todo, eu não ia notar que ele escapava das minhas mãos sem sequer se despedir.
Chega a ser um descaso, na verdade. Não que eu esperasse que a noite de conto de fadas não chegasse ao fim, mas não devia passar das 4 da matina naquele breu, estava frio, e, além disso... eu não vou dar mais desculpas para não parecer mais louca do que já estou de fato.
Ele se virou da posição que estava com os olhos amassados, confusos, bonitos. E da sua boca, saiu a justificativa de um cara totalmente e imensamente... canalha.
Naquela madrugada, eu descobri que Stênio Alencar não era um príncipe, tampouco um plebeu: ele era o bobo da corte.
— Ao banheiro. Acho que me segurei demais pela noite toda. — dizia, em meio a uma risada convencida, vestindo a cueca que estava jogada no chão, como se depois daquela noite, coubesse algum sentimento de pudor entre nós dois. — Espera, você achava que...
— Shhh.... vai logo, vai. – ordenei, toda bagunçada, já me estressando com a minha reação.
— Você vai se apaixonar por mim mais cedo do que eu previa, não é, Dra. Sampaio? – disse, tomando meu corpo em seus braços, enquanto que eu o rejeitava com veemência, virando o rosto e fingindo que a boca que se arrastava pelo meu pescoço não me queria como eu queria ela.
— Apaix... Stênio, se toca, meu filho! — disse, empurrando seu peitoral para longe de mim, estapeando-o. — Era só essa que me faltava.
— Apaixonada. Porque não? – disse, com os olhos de quem brincava, e a voz de quem falava sério.
— Te faltou muito, muito tato nesse exato momento. — disse, chegando a ter pena da cabeça perturbada que ele tinha.
Stênio deu uma fungada profunda no meu pescoço, e se levantou da cama, dessa vez realmente indo ao banheiro, me fazendo queimar de vergonha na cama, me cobrindo da cabeça aos pés, no intento de fazer o rubor passar. Nada, exatamente NADA, poderia reverter a cena de revolta que eu acabei de fazer, em meio a uma madrugada fria.
Me virei para o lado, e tentei voltar a dormir, mas foi uma tentativa pra lá de inútil. Cantarolando, ele retornou até a cama, entrando por debaixo dos lençóis, me puxando para perto dele, em tom de posse e conciliação. Me puxando pela barriga, recebendo um resmungão de má vontade e uma cara amarrada, ele tentou mediar a situação que ele mesmo tinha se colocado.
— Acho que você não tá muito adequada ao meu jeito, não é? — disse, segurando a respiração e fingindo que era OK estar nua da cabeça aos pés com aquele ex-antigo estranho num lugar tão novo e estranho quanto aquele quarto.
— Você tem o dom de distorcer as palavras, hein? – reclamei, recebendo uma risadinha no meu ouvido, afinal de contas.... eu não ia ousar sair daquela chave de braço que ele tinha me dado.
— Eu vou fazer o seguinte, Helô... — disse, me virando para frente, mais uma vez, fazendo nossos narizes se chocarem, e as bocas se atraírem. — Eu vou fingir que você não ficou com medo e eu não fiquei com vontade que você tivesse isso. Por via das dúvidas, continuamos dormindo a noite toda.
— Isso tudo seria um sonho, então?
— Um sonho bem, bem real. — disse, mordendo a ponta do meu nariz, e encaixando seu pescoço no meu rosto, rindo com a garganta tampada, com o seu pescoço cheirando ao meu perfume. — Dorme logo, Helô.
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Porque Não Eu?
FanfictionHeloísa e Stênio são promotores de justiça recém-empossados do cargo no Estado do Rio de Janeiro. Com histórias totalmente distintas que acabam se cruzando em momentos diferentes da vida de cada um, o destino de ambos vai se encarregando de criar op...