A Denúncia à Rainha

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Por um instante, levando o queixo para cima e franzindo o cenho, assemelhou-se com a rainha. Ele iria fazer o que pensara por tanto tempo. Estava certo, continuar dependente de sua mãe não o levaria a nada.

Então, assim que Lan pôs seus pés em Tempusara, as cores de suas roupas e acessórios sendo substituídas por uma escala de preto e branco, uma carta caiu sobre seu colo, atirada por uma pequena pixie, ofegante de tão rápido voar. Saltou no agarrar do papel e ergueu uma das sobrancelhas, retirando o selo de cera esverdeado, abanando para afastar a criatura exausta.

E prendeu o ar. O suor tomou conta de seus dedos e invadiu a caligrafia robusta, porque ali, no idioma das fadas, estava escrito que seu filho fora flagrado em uma tentativa de escapar da nuvem, e que se encontrava ferido.

O coração de mãe apertou, mas o calor da ira predominou seu peito. Ele havia a desobedecido, colocado sua vida em risco; onde errou na educação que o deu?

Estralou a língua e, num giro de calcanhares, o som do amassar da carta ecoando pelo ambiente sem cores, pelo vento forte que sacudia as árvores pretas e bagunçava o cabelo dos vampiros, virou-se para o jato recém-pousado, olhando de soslaio para a rainha de Tempusara – a bruxa mais sábia do reino – antes de subir no automóvel.

Os parlamentares permaneceram, mas a rainha de Ecsuji que, acima de tudo, era mãe de Eldrey, voltou para seu país, com o papel cortando a palma da mão e um guarda no cangote, apertando seu braço e lançando-lhe uma careta em resposta.

Com pequenas nuvens ao redor de seus pés, suas asas de fada batendo para cima e para baixo, as barreiras da nuvem permitiram sua entrada, acompanhada de seu ajudante. As orelhas pontudas estavam erguidas; o ouvido aguçado. Onde estaria aquele garoto? Marchou na direção do castelo, contendo as veias de sua testa, que insistiam em surgir ao acenar para seus súditos. Alguns cumprimentavam com uma das sobrancelhas levantadas, perguntando-se o motivo de sua rainha ter voltado de forma tão repentina.

Feskgi já imaginava as suposições que chegariam para si, mas se continha, mantendo a postura ereta e o queixo erguido.

Ao adentrar o castelo, as portas brancas com desenhos dourados sendo puxadas pelas trepadeiras, deixou-se mostrar: o rosto sereno foi marcado por linhas de expressão; a bolinha de papel ainda contra a mão. Conforme seguia o caminho até o quarto do príncipe, seus guardas a deixando poucos metros antes do local, continha os pensamentos que a faziam morder o interior das bochechas.

Não precisou bater contra a madeira para que o pequeno Eldrey a puxasse. Antes de revelar seu corpo, os olhos verdes espiaram e baixaram, para, aí, revelarem o cômodo da criança machucada. O menino tinha os cachos para trás, preenchidos por gel; o braço esquerdo enfaixado; o rosto e os joelhos finos repletos de curativos. Mesmo com os ferimentos, Lan reparou, seu filho aparentava ser um príncipe: a camisa verde com uma gravata marrom bem dobrada, a bermuda bege acima dos sapatos de couro, que cobriam parte das meias brancas. Como um garotinho, com aparência tão delicada, podia ser tão rebelde?

Eres Mesjufi, pensou, encontrando o olhar caído, tão semelhante ao do pai. Ele fora o culpado. E, ao admirá-lo, ao descer seus olhos e deixá-los pousar sobre a joia esverdeada que brilhava em torno do pescoço dele, toda a sua raiva, o calor em seu peito que a fizera tremer, desapareceu.

Estalou a língua, deixando-se ficar da mesma altura dos olhos verdes de Eldrey, os quais encaravam o tapete de lã. Novamente, falhou como rainha, conformando-se como uma mãe. O papel, suado e amarrotado, fora posto em seu colo.

Os dedos finos, as unhas pintadas, encostaram nos ombros do pequeno, pressionando as mangas bufantes.

— Eldrey...

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