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Eu te vejo.

Sob a meia luz, sua silhueta acalenta a dor aguda de minhas pálpebras que se esforçam para permanecerem abertas e registrar o máximo de informações sem que meu cérebro julgue ser demais, pois eu estou cansado e minha respiração está fraca, focar em qualquer coisa que não seja minha própria sobrevivência, era uma grande exigência, só que lá no fundo, quando os cílios estavam prestes a se encontrar, eu te vejo. E você me vê.

Ó céus!

É uma das sensações mais agradáveis que já experimentei em todo tempo em que estive vivo e de repente essa lorota toda da vida correr diante de seus olhos aconteceu. As pálpebras ainda lutam e dessa vez contra um oceano em noite de tempestade porque tentavam, inutilmente, conter as lágrimas que, outrora, acumulavam e agora, escorriam quentes sobre meu rosto frio e pálido, não preciso me olhar no espelho para dizer que não estou em meu momento mais apresentável para sua visita, e você me mostra o contrário.

Me abraça e me envolve em seu manto de sombras e de repente me sinto completo.

"Me desculpa," ouço minha própria voz, "eu senti sua falta, me desculpa.", mas minha boca não se mexe porque está ocupada com restos de líquidos terrivelmente amargos e podres que meu corpo não resiste em expulsar.

"Vai ficar tudo bem," ouço um som ecoar por todo e nenhum lugar, um som distinto e que abrange todas as línguas.

Tudo o que tinha eu te dei e em troca você me fez sentir que pertenço a algum lugar e ao mesmo tempo me pede para esperar, vai embora quando estou dormindo e faz parecer que vivi um sonho no paraíso do inferno. Meus ossos estão trêmulos, gostaria de vencer outra vez para te ver de novo, só não espero muito porque um dia as cinzas irão cair.

Lentamente.

"Está na hora," você diz, "não resista, eu estou bem aqui.", você me consola e a dor que irradiava da ponta do dedão do pé até o último fio de cabelo, num ímpeto, vai embora e me faz questionar se algum dia estive realmente aqui, porque estava anestesiado com a excitação de ter você e a curiosidade beirava as extremidades do que me restou de consciência e eu precisava deixar que você soubesse.

Então eu sorri, um sorriso doentio e imaginário e te pergunto: "Como é descansar em seus lábios pacientes para a felicidade eterna?"

Efêmero.

Mas fiquei feliz em saber.

𝐀𝐅𝐓𝐄𝐑 𝐃𝐀𝐑𝐊Onde histórias criam vida. Descubra agora