número um

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"Eu odeio o jeito que você fala comigo"

O cenário que inicia essa história de ódio adolescente se dispõe da seguinte maneira:

Amaury, um dos protagonistas dessa trama, caminhando para dentro do cômodo.

Livros jogados na cômoda, cujo gavetas explodiam em roupas emboladas.
Papéis espalhados em uma escrivaninha abarrotada por copos, pratos e talheres, furtados da cozinha no decorrer dos dias.

O cheiro de menino na puberdade infestava o local. Era, de fato, surpreendente que o corpo estirado na cama ainda fosse capaz de respirar normalmente.

Amaury aguentou apenas um minuto naquele campo de guerra, antes de abrir as janelas, em desespero por ar puro, e alcançar o copo d'água na mesa de cabeceira. Água essa que certamente estava ali há no mínimo dois dias.

- Acorda. - ele disse, derramando o líquido no rosto de seu irmão mais novo.

Samuel - esse era o nome do irmão, o dono do quarto que mais se parecia com um lixão - acordou em um pulo. A carranca estampava o descontentamento pela forma nada delicada de ser despertado.

O mais velho mordeu as bochechas para segurar o riso, precisava permanecer sério, afinal, estavam atrasados de novo por culpa do mais novo.

- Por que, Amaury, você fez isso?! - Samuel choramingou erguendo o corpo da cama. Ali, na companhia de seu sono, havia mais um tanto de roupas.

- Estamos atrasados. - Comunicou, se movimentando pelo quarto como quem busca por onde começar a arrumação. - Isso aqui parece um chiqueiro, pirralho, como você vive assim?

- Tá arrumado. - Esticou o braço, arrancando a peça de pano, nitidamente suja, que era encarada com nojo - para de mexer nas minhas coisas.

Amaury olhou em volta mais uma vez.
Cenho franzido e lábios curvados em uma indignação costumeira perante os comportamentos do outro.

Passado alguns segundos de muito pensar, balançou a cabeça e saiu em direção ao corredor, enquanto Samuel retornava à cama.

- Você tem dez minutos, se não tiver pronto, vai à pé.

- Não vou para a aula, então.

O mais velho girou os calcanhares lentamente, voltando a encarar o irmão.

- Ah, mas vai, sim.

- Por que?

- Porque eu tô mandando.

- Você não manda em mim. - Deu de ombros, virando as costas para Amaury.

- Eu posso não mandar, mas a mãe, sim. - A ameaça estava ali, disfarçada, não dita por completo, porém, o mais novo a compreendeu sem muita dificuldade.

Amaury sorriu, observando Samuel, em seu pijama do Homem Aranha, levantar na velocidade da luz.

Xeque mate.

- Dez minutos. - Cantarolou, finalmente saindo do quarto para terminar de arrumar suas coisas para o dia.

Todas as manhãs na casa dos Lorenzo eram assim.

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⏰ Última atualização: Sep 08, 2024 ⏰

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