Capítulo 16

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⚠️ GATILHOS ⚠️

- RELACIONAMENTO ABUSIVO

- AGRESSÃO

- TORTURA

- LEVE MENÇÃO DE ABUSO



DIEGO

Meu nome é Diego Martins, tenho 30 anos, sou investigador da Polícia Civil e esse é um breve relato de como meu ex namorado tentou me enlouquecer.

Tudo começou há 8 anos atrás. Ribeirão Preto. Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Eu estava entrando no último ano de faculdade, no curso de Biomedicina quando em uma festa, para dar boas-vindas aos calouros, eu beijei um homem. Ele era bonito, simpático, beijava bem, também estava entrando no último ano do curso de enfermagem. Quando a gente se beijou, eu pensei que meu mundo havia parado e a primeira coisa que me veio à cabeça foi que ele é o amor da minha vida.

Nos encontramos outras vezes e quando percebi, semanas depois, estava completamente apaixonado. Matheus era extremamente apaixonante. Prestativo, cuidadoso... Me conquistou nos detalhes. Dois meses depois, estávamos namorando. Lembro que nosso primeiro ano de namoro foi ótimo. Claro que, assim como qualquer relacionamento, existiam discordâncias, mas nada que nos afetasse tanto.

No nosso segundo ano, eu me formei e ele começou a ter atitudes estranhas. O ciúmes, que antes eu achava fofo, se tornou meio doentio. Nesse ano, ele ainda não falava nada para me proibir de sair ou de falar com alguém, suas atitudes tóxicas eram veladas. Ele me manipulava com as palavras, com seus silêncios. Me martirizava ao dizer que nada havia acontecido, mas não trocava uma palavra comigo o dia inteiro. No final, mesmo sem falar nada, me fazia pedir desculpas por coisas que eu nem sabia que tinha feito. Eu pedia desculpas e falava para mim mesmo que eu estava sendo flexível com nosso relacionamento, que amar é sobre ceder.

Caía na armadilha do seu silêncio que me cortava em mil pedaços e depois precisava juntar esses pedaços de mim me convencendo que aquilo era sobre amor, sobre amar e ser amado.

Um certo dia, no nosso terceiro ano de relacionamento, já estávamos morando juntos e ele me trancou em casa quando saiu para trabalhar. Ele teria um plantão de 12h naquela noite. Eu estava a semana inteira falando que iria encontrar alguns amigos da faculdade e ele havia odiado a ideia. Tentou me convencer de todas as formas a não ir, viu que sua manipulação não deu certo e me trancou em casa. Depois, usou a desculpa de que havia levado minha chave sem querer, havia confundido com a sua. Eu acreditei. Ele se sentiu confortável com a minha passividade na situação e o cárcere voltou a se repetir algumas vezes. Mesmo que eu não tivesse comentado nada sobre sair, ele gostava do poder de me manter trancado.

Ainda no terceiro ano de relacionamento, eu comecei a estudar exaustivamente para o concurso da Polícia Civil. No início, ele me apoiou, ele gostava do fato de eu estar estudando tanto que não tinha tempo de pensar em sair de casa ou encontrar outras pessoas. Na reta final dos estudos, me matriculei em um cursinho e ele surtou quando um dia foi me buscar, sem avisar, e me viu conversando com um colega que havia feito entre as aulas. Chegamos em casa, discutimos, ele gritou e me empurrou contra a parede. Nunca mais voltei para as aulas.

Quando fui classificado na prova objetiva já estávamos no quarto ano de relacionamento. Comecei a me afundar mais nos estudos para conseguir boas pontuações nas provas discursivas e orais e ele continuou me apoiando, porém quando comecei a fazer academia, para ter boa resistência para o teste físico, minha vida virou um verdadeiro inferno.

lavanda | dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora