Capítulo três: Responsabilidade de uma quase princesa.

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Capítulo três: Responsabilidade de uma quase princesa.
“Ordens são feitas pra seguir e não as quebrar, mas o que acontece quando o cansaço de segui-las acabam?”
- Bruna Martins


ALICIA SPANCER

   Nunca gostei da palavra realeza, muito menos quando o peso da coroa um dia iria cair sobre meus ombros e eu teria que ser a rainha de todo um povo, nunca foi de fato o que eu queria, até certa idade eu vivia como queria, fazia o que queria sem precisar me importar se aquilo afetaria alguma coisa no meu futuro,

Mas agora, agora as coisas eram diferentes, minha imagem era importante mesmo que ninguém de fato soubesse sobre ela ainda, quaisquer coisas que fosse uma ameaça a minha imagem eu devia ficar longe, era a minha responsabilidade de uma quase princesa.

  Então eu devia e sentia que devia ficar longe de Maya o quanto desse, ela era uma garota incrível e esse era o problema, me prender a alguém nesse mundo falso que criei seria doloroso quando eu finalmente tivesse que ir embora, porque eu sei que um dia terei que tomar pose do que é meu por direito, e eu não queria ter que deixar ninguém pra trás, por isso me focava em livros, ao menos eram pessoas irreais que só existiam nos lençóis da minha mente cheia de nós e dobras mal dobradas.

Nunca tive tanto contato com minha família da realeza, eram sempre curtas ligações me dizendo como eu devia agir, como devia me comportar, como eu devia ser invisível e não chamar tanta atenção, pelo menos não por hora.

  Estava em um canto do quarto pintando um quadro, no chão um lençol branco forrava ali pra não manchar o piso de tinta, o cavalete estava ali comportando um quadro ainda em branco, não sabia o que queria pintar, era um trabalho, que meu professor havia passado, algo sobre pintar aquilo que te cause borboletas, mais o problema estava ai, eu nunca havia sentido elas, eu poderia pintar alguma coisas sobre o tanto de livro que lia, mais não seria real, não saberia explicar o sentimento quando eu tivesse que apresentar o quadro para a turma. 

  Estava tão concentrada que nem vi quando uma outra figura entrou no quarto, mais saio do transe quando um barulho alto se fez presente no cômodo, olhei em direção de onde vinha e vi Maya ali toda atrapalhada e cheia de tecido sobre os braços, um lápis prendia os cabelos castanhos ondulados dela em um coque cheio de fios soltos pelo rosto cheio de pintinhas, os olhos bicolores (um verde e o outro castanho escuro) eram bonitos e agora me olhavam com atenção, foi impossível não sentir uma descarga elétrica sobre meu corpo ao ter os olhos dela sobre mim tão atentamente.

- Tendo problemas de inspiração também? – A voz um pouquinho maia grave soou pelo quarto silencioso que só tocava uma música clássica que dessa vez não me ajudou em nada.

- Bem isso, mais e você, o que é tudo isso aí? – Perguntei como quem não queria nada, vejo a garota alta colocar os tecidos sobre a cama dela.

- Preciso fazer um vestido para dar de presente pra alguém pro baile do fim do ano. -  Ela contou olhando os tecidos mais de perto fazendo uma careta.

- Pelo menos o seu trabalho parece mais fácil que o meu. – Mordi a pontinha do pincel.

- E o que você tem que fazer? – Ela perguntou e sentou-se no sofá que tinha ali olhando pra mim com bastante atenção, aquilo era tão estranho.

- Pintar algo que me cause borboletas, mas eu nunca senti isso antes. – Fui sincera, a garota faz um biquinho pensativa.

- Então você nunca teve nem uma paquera, tipo você estuda aqui a um bom tempinho, ninguém nunca chamou sua atenção?  - Olho para cima um pouco pensativa.

- Nunca tive tempo pra pensar em amores. – Dei de ombros e instalei meus dedos, a garota soltou um risinho.

- Falando assim você parece bem mais ocupada do que imaginei. – Ela falou aquilo mais pra ela do que pra mim.

- Amar não é pra mim, entende? – A acastanhada concordou parecendo entender bem o meu pensamento. – E também eu nem posso amar qualquer pessoa, minha vida é um saco, acredite em mim.

- Bom, eu vi que você lê muito, porque não se inspira em algum romance que você costuma ler? – Ela tentou ajudar até levantou a sobrancelha em questionamento.

- Por que não seria algo sentido por mim, sabe? – Ela concordou e soltou um suspiro. – Até a entrega eu vejo o que faço.

- Você é legal, gosto de conversar com você, mesmo que até agora a gente não tenha tido tempo de se conhecer melhor. – Travei, desviei meus olhos para o quadro em branco, focando no nada, céus aquilo era um pouquinho demais pra mim.

- Eu sou meio difícil de se achar, conheço vários esconderijos nessa faculdade. – Falei ainda sem coragem para olhar a menina, os olhos dela me deixava totalmente nervosa, e eu nem sabia o porquê.

- Quem sabe uma hora dessas você me apresente um desses lugares. – Soltei uma tosse, quase me engasgando com a saliva, meu deus, aquilo era um flerte?

- Não sei se seria adequado, não gosto de dividir nada, ninguém e nem lugares. – Aquilo pode ter soado com grosseria, mas espero que aquilo quebrasse qual quer sonho que a garota tinha.

- Então você é o tipo de garota possessiva, eu confesso que gosto dessas. – Ela piscou um dos olhos em minha direção e levantou-se em seguida se espreguiçando.

- E eu não gosto de garotas. – Mentira, aquilo era uma grande mentira, mas ao ver o rosto dela perder o brilho foi a única coisa que me fez continuar com a mentira, não queria ela achando que podia rolar algo entre mim e ela.

Se eu fosse apenas uma mera estudante eu adoraria flertar com ela, adoraria beijar ela, mais na minha realidade eu era uma princesa lésbica que não podia nem me assumir e muito menos me envolver com ninguém, ainda mais esse alguém sendo uma mulher.

  Ela levantou os polegares em um joinha e toda envergonhada quase caindo ao sair do quarto ela sai me deixando sozinha com a música clássica ainda tocando no ambiente, finalmente pude soltar um suspiro, céus aquilo não era obra de deus era obra do satanás, querendo me fazer cair em tentação e pecar, mais no fundo, bem lá no fundo eu adoraria pecar com Maya.

NÃO, o que diabos estava pensando, eu tenho responsabilidades, assim que eu completar meus 23 anos eu finalmente terei que me mostrar pro povo, e de princesa morta virarei a salvação de um reino quase em ruínas.
Estava prestes a continuar ou pelo menos tentar terminar o meu quadro quando meu celular tocou, sorrio um pouquinho animada ao ver de quem se tratava, resolvo atender.

- Princesa, como vai as coisas por aí? – Reviro os olhos, odiavam quando me chamavam de princesa, mas Joaquim era assim, adorava me irritar.

- Já disse que você vai ver a princesa no dia que eu te der um soco. – Falei ao meu mais fiel escudeiro e guarda real em ascensão.

- Nossa, como é brava essa garota. – Escuto um barulho de saco do outro lado da linha. – Falando desse jeito nem parece que é uma manteiga derretida.

- E você já está comendo porcaria, né? – Caminhei até o sofá que antes a garota estava e me jogo ali olhando para o teto sem graça e com alguns mofos. – Você vai morrer cedo.

- Melhor morrer cedo do que ter que te aturar como rainha reclamona, lésbica e com um casamento de fachada. – De longe eu podia ver o sorriso sacana dele e quis chutar as bolas dele, mas me contive.

- Por isso que na primeira oportunidade que eu tiver vou te sentenciar a forca. – Até tentamos não rir disso, mas foi impossível, ele gargalhou de lá e eu de cá.

- Mais falando sério, você acha que vai sentir falta de ser uma mera estudante? – Passo a língua sobre os lábios pensativa.

- Existem muitos pros e contras, mas confesso que vou sentir sim, menos a parte de fazer esse tanto de trabalho. – Escuto ele mastigar os salgadinhos do outro lado da linha e logo soltar um arroto. – Seu porco.

- E sua nova colega de quarto é de boa? – Me ajeitei no sofá e logo me lembro dos minutos atrás e passo a mão livre sobre o rosto.

- Sim, muito de boa, não faz muito que acabei de dar um fora nela. – Disse, escuto o garoto do outro lado da linha tossir.

- Mas assim você também não se ajuda né, como quer perder o BV dessa forma se você afasta as pessoas? – Ele falou o óbvio, mas o óbvio não era o certo.

- Você sabe que eu não posso. – Falei de forma baixinha brincando com o fiapo da minha blusa que estava solta.

- É só manter tudo no sigilo, quando chegar a hora você dá um pé na bunda nela e cumpre seus deveres como a princesinha perdida. – Ele falou tão simplista.

- Você é um péssimo conselheiro real, fique sabendo disso. – Joguei no ar, sabia que ele estava revirando os olhos.

- Você me cansa tanto que preciso desligar, beijinho mocreia. – E Joaquim desligou na minha cara, bufo, mais logo rio baixinho.

Joaquim e eu viramos bons e ótimos amigos, no começo o trabalho dele era só ser meu conselheiro real, mais então ele virou meu melhor amigo, e também os concelhos dele eram péssimos, mais apesar de tudo ele me tirava boas risadas então eu gostava de escuta-lo falar, eu não sou a garota mais falante da terra, e sou um pouquinho fechada na maior parte do tempo.

E quem sabe, só quem sabe Joaquim estivesse certo, o grande problema é que sou complicada e apesar de querer muito aquilo, meu bom senso grita bem mais alto do que a minha vontade que lateja feito brasa quente prestes a pegar fogo no meu interior.





Princesas também se apaixonam por garotas Where stories live. Discover now