Anjo Caído

37. Versão perfeita da vida

Faye desviou o olhar da paisagem e voltou sua atenção para Yoko e o menino, que comiam enquanto trocavam risadas leves. Algo chamou sua atenção: a casa estava bem abastecida, algo que ela não esperava naquele momento inicial. Curiosa, sentou-se com eles à mesa, e enquanto saboreava um pedaço de pão, apertou carinhosamente as bochechas do menino, que ria e mostrava cada biscoito decorado antes de comê-lo.  

O aroma doce e reconfortante dos alimentos a envolvia, e seu estômago roncou, lembrando-a de que precisava se alimentar. Ela e Yoko começaram a comer com mais vontade, acompanhando o entusiasmo do menino. Na mesa, havia uma variedade de frutas suculentas e alimentos ricos que lembravam os carboidratos terrestres.

Enquanto provava as refeições e observava os detalhes ao redor, Faye começou a notar como aquele novo mundo tinha uma familiaridade reconfortante, com sabores, texturas e momentos que remetiam à Terra. Mais do que o mundo dos anjos, aquele parecia ser um lar onde ela poderia se adaptar e viver ao lado de Yoko.

Yoko observou o olhar curioso de Faye enquanto ela examinava cada detalhe daquele mundo novo. Um sorriso surgiu em seu rosto, era adorável ver Faye descobrindo tudo pela primeira vez. Ela própria já não tinha memórias claras do mundo dos anjos, mas sabia que era um lugar simples e austero, bem diferente daquela versão aprimorada e quase perfeita da Terra.

O menino, cheio de energia, terminou rapidamente o café, pegou um carrinho de brinquedo e correu para a sala, deixando Faye e Yoko em um momento de calmaria. As duas continuaram comendo em silêncio por um tempo, até que Yoko quebrou o silêncio.

__Faye, está se adaptando bem?

__É diferente, Yoko. Este lugar... é como uma versão idealizada da vida humana. Parece que só mudamos de casa. Mas, ao mesmo tempo, sinto algo a mais aqui. Eu me sinto mais forte... e, principalmente, muito mais feliz.

Yoko assentiu, satisfeita ao ouvir aquilo, e estendeu a mão por sobre a mesa para tocar a de Faye, compartilhando aquele momento íntimo de compreensão e conexão.

__Somos um pouco mais fortes, Faye. Precisamos de apenas duas refeições por dia, nossos corpos se movem mais rápido, e podemos sentir o que o outro sente. Quanto mais evoluímos, menor é a densidade da matéria. Este mundo é mais parecido com o humano porque aqui descemos completamente humanos. Isso ajuda a não sentirmos tanta saudade de casa quando estivermos lá - explicou Yoko, segurando a mão de Faye com ternura.

Faye refletiu por um momento, curiosa. __Mas chegamos há tão pouco tempo... como temos comida e quem cuidou do nosso filho nesse tempo?

__Temos vizinhos muito gentis, Faye, e também uma guardiã das crianças. Ela cuida de todo o bairro e garante que todos os pequenos estejam bem enquanto nos adaptamos.

Faye ficou pensativa, impressionada com a organização do novo mundo.

__Parece que pensaram em tudo.

__Pensaram, sim. Este é um lugar para recomeços, meu amor. E estamos aqui para viver o nosso.

__Você é linda como mãe, Yoko - comentou Faye, admirando a ternura de sua amada.

__Ele tem o seu jeitinho, Faye, exatamente como eu imaginei - respondeu Yoko, um sorriso iluminando seu rosto.

__Podemos ter mais? - perguntou Faye, um brilho de esperança nos olhos.

__Bem... eu não sei, mas posso descobrir.

__Eu quero uma família grande com você, Yoko.

__Eu também quero, Faye!

Yoko levantou-se de sua cadeira e caminhou até Faye, sentando-se em seu colo e envolvendo-a em um abraço, absorvendo o aroma doce de seus cabelos. Beijou a bochecha de Faye, continuando a desfrutar do cheiro familiar que emanava de seu pescoço. Faye, sentindo-se afetada pelas carícias, olhou nos olhos de Yoko e segurou seu queixo com ternura.