- Qual seria...? - Pergunto de forma rouca.
- Eu quero você queima essa casa
Olho para ela incrédula e meu cérebro não processa direito que fico confusa, a voz dela está bem séria mas ao mesmo tempo doce.
- Como...é?
- Sei que é um pedido radical mas essa casa...deve desaparecer junto comigo
Ela está louca? Por que esse pedido do nada? Não, não não não! Mais uma não, saio da cadeira e fico andando em círculos, eu mordo a minha unha e depois coça o couro cabeludo ao ponto de alguns fios caírem. Não não não!
- Não não não não não - Eu repito isso várias vezes mesmo com uma voz baixa.
- Yukiri, me desculpa...
- NÃO!!
Eu tusso por ter forçado a gritar, eu me recuso a fazer esse favor miserável. Eu não quero mais alguém próximo de mim morra! Eu sou uma maldição ou o quê?
Um motivo plausível para esse favor que vai deixar minha cabeça mais fudida.
Eu aperto de leve meu braço enfiando a unha na pele, querendo me machucar.- Você tem que me escutar, é sério!
A fada voa e fica na minha frente, percebendo do que estou fazendo ela se aproxima da minha mão e me dá um pequeno choque fazendo eu parar de me machucar, encaro ela e fico concentrada em ouvir a minha respiração. Estava em estado de transe que nem senti dor quando afundava minhas unhas na pele fazendo sangrar um pouco.
- Nunca se machuca ta me ouvindo?! Eu que tive essa decisão, estou fazendo para o bem de você e dessa casa!
- Você...
- Sim, tem eu também...pois uma fada nunca pode abandonar a casa do jogador
Mordo os lábios e minha mão esquerda tremia, ela percebe isso e voa na minha cara para me atrapalhar com a automutilação. Eu fungo meu nariz não querendo derramar nenhuma lágrima.
- Você percebeu as rachaduras não é? Essa casa está apodrecendo. O corpo da May está no mundo real mas a alma está aqui e presa tendo esses sinais de podridão, por mais que eu limpe e deixe no brilho sempre vai aparecer mofo, lodo, poeira, objetos quebrados e rachaduras...ela está sofrendo Yukiri, não está descansando. E ainda tem pessoas querendo invadir essa casa porque sabem quem ela é e vão aproveitar para saquear, se for pra ter alguma coisa ser levada eu quero que você leve Yukiri! May se sacrificou querendo acreditar que você é a garota dos sonhos dos poucos sonos que ela teve e te viu como salvadora, então por favor...queima essa casa
Fiquei quieta ( como se eu já não estava ) ouvindo e prestando atenção na fada que falou seriamente sobre seu pedido. Olho para o chão pensando como fui egoísta novamente. Só pensando como eu sentia, não pensei nesse lado emocional da fada. Apesar de serem personagens e são programadas para algo, ainda existe sentimentos. Não pensei como a casa se manifestava.
Apenas decepciono pessoas que se sacrificam por enxergar uma esperança em mim.Eu me viro olhando para a mesa e depois para a janela vendo o pôr do sol. O monólogo da fada acabou me convencendo, eu suspiro lentamente e olho para ela novamente.
- Com que...devo...queimar?
~~~
Passavam cenas eu pegando anotações, livros, listas, objetos e fotos colocando na bolsa, pegava qualquer coisa que podia me ajudar ou até fazer uma homenagem a May. Com a bolsa cheia. A fada me entrega querosene para poder jogar na casa toda, ouvindo o líquido cair na madeira só pensando como o fogo ia se espalhar rápido. Vai ser doloroso mas seria uma libertação, tanto pra May, tanto para a Trixie.
Com o querosene vazio, Trixie me ajuda a acender o fósforo por ter dificuldade de acender por usar bastante a mão esquerda. A porta de entrada estava aberta para poder sair o mais rápido possível.- Eu fico feliz que tenha me visitado...nunca vou te esquecer
Na última frase, o fósforo acende. Eu olho pela última vez a fada vermelha, encarava ela para nunca perder a memória de mais um ser que iria morrer.
- Adeus...Trixie
Eu jogo o fósforo.
☆☆☆☆
No lado de fora, olhando para cima, via a casa pegar fogo. O fogo combinava com o céu alaranjado e amarelo, os pedaços de madeira caía, a grama não pegava fogo, posso considerar até um bug do jogo. Mas algo reparo, a grama não era mais verde e curta, eram amarelas e longas como se fosse uma plantação de trigo. Mas não importa, nunca mais vou nesse lugar que um dia era uma casa na árvore. A alma da May foi libertada e ela agora poderia descansar em paz.
Continuava olhando e ouvindo as chamas, até olhar para o lado. Ben disse que alguns jogadores não tem floresta e a May foi uma desses jogadores.
Por que agora apareceu uma floresta e especificamente uma floresta de salgueiros? Eu andei olhando seriamente as árvores. Elas tinham uma aura brilhante na entrada.
Andado por alguns metros, eu entro finalmente. A floresta era colorida e cheia de luz, como se você tivesse em um conto de fadas que no final você teria seu feliz para sempre. Eu sentia uma leveza, o vento balançava os salgueiros, ouvia água e fui onde a água está.
Durante o caminho, me encantava por esse lugar, de animais só tinha borboleta, borboleta azul principalmente, de flores em meu choque: Gardênia. O cheiro dessa flor era agradável e suave, poderia usar até um perfume com essa fragrância.Eu consegui encontrar a água, era um lago, um lago enorme. Ele era hipnotizador, o barulho se acalmava instantaneamente. Realmente me sentia que estava no paraíso.
A floresta que a May merecia entrar. Eu toco na água sentindo o frio em meus dedos, eu precisava nadar um pouco, me lavar apesar de tomar banho em minha casa, sentia que minha mão nunca esteve limpa desde que matei aquele homem.
Com essa decisão, coloco a bolsa no chão e tiro a minha camisola junto com a calcinha, ficando nua e em frente ao lago. Na ponta dos pés, eu pulo na água.Eu tenho que lavar os meus pecados.
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Secret's Dive // Ben Drowned
FanfictionApós serem expulsas de casa, Yukiri e Najing vão pra casa de sua vó recomeçando suas vidas novamente, com descobertas inesperadas! Mas em um dia chuvoso, elas encontram um misterioso senhor que as deram um cartucho amaldiçoado, que será um obstáculo...