Amor no Pódio - Au Rebiles

Parte 52

POV SIMONE BILES

Saí do treino completamente exausta, cada músculo do meu corpo gritando por um descanso. A pressão das Olimpíadas está mais intensa do que nunca, a competição começa amanhã e tudo parece se tornar cada vez mais real. O mundo estará me assistindo com a expectativa que eu ainda seja a GOAT, como eles fazem questão de dizer, mas a verdade é que eu estou uma bagunça de sentimentos. Enquanto boa parte de mim tem um medo absurdo de decepcionar todas as pessoas que confiam em mim, a outra parte não consegue parar de pensar no que aconteceu com a Rebeca. É inacreditável.

Sempre admirei a força e o talento dela, ver tudo isso mudando para algo mais intenso logo às vésperas dos Jogos mexeu comigo. É complexo demais parar e analisar o que está acontecendo entre nós, ela é minha rival e a principal responsável por me forçar a ir mais longe, a ser melhor e aumentar ainda mais o nível de desafio, no entanto parece que a cada dia que passa essa linha entre rivalidade e tensão se torna cada vez mais borrada.

Enquanto eu tentava me concentrar nas minhas rotinas hoje, a preocupação com ela não saía da minha mente. Sinto uma mistura de frustração, medo, tristeza e, preciso admitir, desejo. Meus dedos tocando a pele dela, a respiração ofegante, os olhos dela em mim e, finalmente, o encontro de nossos lábios. Tudo isso despertou uma fúria gigante que eu nunca senti por ninguém, minha razão luta a cada momento do dia uma batalha contra as minhas emoções e frequentemente sai perdendo porque Rebeca Andrade consome cada vez mais uma parte de mim, seja nós ginásios ou fora dele.

No meio de tudo isso ainda preciso lidar com o Jonathan. Parece muito claro para mim que não estamos bem a algum tempo, mas o que eu estou fazendo com ele não é certo. Eu amo meu marido e, embora as meninas digam que ele não me ama, eu lembro da forma que ele cuidou de mim em Tokyo quando eu precisei desistir. Algo dentro de mim ainda tem esperança que a gente volte a ser como antes e essa esperança é o que me faz sentir toda essa culpa porque meu cérebro insiste em gritar como eu estou sendo hipócrita.

Sento na minha cama, ainda com a mente cheia, tentando acalmar a respiração e organizar meus pensamentos. "Por que isso está acontecendo justo agora?", me pergunto. Ela sempre foi uma inspiração pra mim, uma amiga e uma rival que me empurrava a ser melhor. E agora, sinto como se o peso de tudo estivesse dobrado. Não sei como pude deixar as coisas chegarem a esse nível. Preciso me recompor. Faltam poucos dias, e o mundo vai estar assistindo.

Fecho os olhos por um segundo, tentando encontrar algum tipo de clareza. O silêncio do quarto quase me assusta, tão diferente do caos da minha cabeça. Eu sei que preciso encontrar uma forma de focar em mim, na minha preparação. Levanto, respiro fundo, e encaro o espelho. "Você já passou por tanta coisa, Simone. E sempre conseguiu. Desta vez não será diferente", digo a mim mesma, quase como um mantra. Mesmo assim, a dúvida permanece, e a saudade da estabilidade e da paz mental que eu costumava sentir antes de tudo isso.

Ouço batidas suaves na porta que me tiram do emaranhado de pensamentos que estava me afundando. Levanto devagar e abro a porta sem esperar o que viria. Rebeca estava ali, de moletom, com os cabelos soltos, o rosto meio tímido, mas os olhos carregados com aquela mesma intensidade que me destrói por dentro. Sinto todo o ambiente se tornar pesado, denso de uma forma quase palpável. Não consigo perguntar porque ela está ali na frente do meu quarto um dia antes de começar as competições.  A lembrança daquele beijo surge na minha mente como um relâmpago. Foi rápido, intenso, e totalmente inesperado. A forma como nossos lábios se tocaram, o calor da proximidade, a tensão entre a rivalidade e... o desejo. Mas eu sou casada, me forço a lembrar, não deveria ter deixado aquilo acontecer.

"Simone, eu... preciso falar com você", Rebeca finalmente diz, a voz suave, quase hesitante. Ela dá um passo para dentro, fechando a porta atrás de si, o que faz o ar no quarto parecer ainda mais carregado de algo que nenhum de nós duas está disposta a nomear.