CAPÍTULO BÔNUS: comptine d'un autre été (POV Charles)

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Independente de quantos anos passassem e quantos campeonatos eu ganhasse, terminar um grande prêmio sendo o primeiro a ver a bandeira quadriculada sempre seria algo capaz de me manter em estado de êxtase por algum tempo. Era exatamente assim que eu me sentia quase vinte e quatro horas depois do Grande Prêmio da Bélgica, mesmo sentado desconfortavelmente na cadeira do aeroporto por conta de um atraso nos voos, quando recebi uma mensagem confusa de Helena que me deixou imediatamente alerta.

𝙼𝚎𝚞 𝚒𝚛𝚖𝚊̃𝚘 𝚎𝚜𝚝𝚊́ 𝚒𝚗𝚝𝚎𝚛𝚗𝚊𝚍𝚘. 𝙴𝚕𝚎 𝚎𝚜𝚝𝚊́ 𝚋𝚎𝚖, 𝚖𝚊𝚜 𝚎𝚞 𝚙𝚛𝚎𝚌𝚒𝚜𝚘 𝚟𝚎̂-𝚕𝚘. 𝚅𝚘𝚞 𝚙𝚊𝚛𝚊 𝙰𝚖𝚜𝚝𝚎𝚛𝚍𝚊̃ 𝚊𝚜𝚜𝚒𝚖 𝚚𝚞𝚎 𝚌𝚘𝚗𝚜𝚎𝚐𝚞𝚒𝚛 𝚎𝚗𝚌𝚘𝚗𝚝𝚛𝚊𝚛 𝚞𝚖 𝚟𝚘𝚘. 𝚂𝚒𝚗𝚝𝚘 𝚖𝚞𝚒𝚝𝚘 𝚙𝚘𝚛 𝚗𝚊̃𝚘 𝚎𝚜𝚝𝚊𝚛 𝚎𝚖 𝚌𝚊𝚜𝚊 𝚚𝚞𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚟𝚘𝚌𝚎̂ 𝚌𝚑𝚎𝚐𝚊𝚛.

A decisão de ir encontrá-la na capital holandesa não me tomou nem um minuto de consideração e, depois de resolver pequenas pendências e pedir de volta o carro que me fora cedido pela equipe naquela semana, saí do aeroporto de Bruxelas e em pouco tempo peguei a estrada que me levaria até Amsterdã em pouco mais de três horas.

Eu soube que tinha tomado a decisão correta no instante em que meu olhar cruzou com o de Helena na sala de espera do Hospital Universitário de Amsterdã e um sorriso aliviado se formou nos lábios dela, iluminando sutilmente seu rosto preocupado. Assim que as portas duplas que levavam à área dos quartos se fecharam atrás dela, eu me levantei e cruzei o espaço que nos separava em poucos passos apressados, puxando-a para meus braços como que por instinto e deixando um beijo suave em sua têmpora antes de sentir Helena aconchegar o rosto contra o meu peito. Eu sabia que Miguel já estava bem e fora de perigo, já que recebera uma mensagem da minha noiva me atualizando sobre a situação dele assim que estacionei no hospital, mas também sabia que se um dos meus irmãos acabasse sendo internado por qualquer motivo que fosse, eu só estaria tranquilo quando ele estivesse em casa novamente.

– Obrigada por ter vindo – Helena sussurrou, sem erguer a cabeça.

– Eu não poderia estar em nenhum outro lugar, amore – respondi, levando uma das mãos para acariciar os cabelos dela. – Como o Miguel está? Ele vai estar bem para te acompanhar daqui duas semanas?

– Espero que sim – ela enfim se afastou apenas o suficiente para fixar os olhos nos meus, e um leve brilho surgiu em suas íris castanhas com a menção do momento tão aguardado por nós dois.

Meu peito tranquilizou por vê-la começar a se acalmar, ao mesmo tempo que senti meu coração acelerar as batidas, como acontecia todas as vezes em que me dava conta de que aquele dia se aproximava quase tão rápido quanto um carro de Fórmula 1 em volta de classificação, porém ainda não rápido o suficiente para mim. Eu mal podia esperar para ficar com Helena para sempre, oficialmente.

⋆ ⭒ ⋆

A luz fraca do sol que escapava pelas cortinas foi a responsável por me acordar na manhã daquele sábado do meio de agosto, e assim que abri os olhos fui tomado pela expectativa daquele dia que chegara finalmente, sentindo uma corrente elétrica percorrer todo o meu corpo. Era como se toda a ansiedade que ficara esquecida durante as últimas semanas em que Helena e eu (e Luísa, e Lorenzo, e minha mãe, e até mesmo Joana, lá de Amsterdã) organizávamos os últimos detalhes tivesse emergido de uma só vez, e parecia que eu nunca me sentira tão acordado em toda a minha vida.

Diferente do que costumava acontecer nos outros dias, em que eu gostava de acordar antes de Helena para preparar o nosso café da manhã, ela já não estava mais no nosso quarto na casa da Costa Amalfitana, local que tínhamos escolhido para realizar a cerimônia por pertencer à minha família, mas também por conter um pedacinho da nossa história escrita ali. Caminhei ainda sonolento pelo quarto aquecido pelo sol, buscando uma roupa leve para vestir e percebendo que o roupão fino de Helena não estava na poltrona onde ela o deixara na noite anterior. Eu sabia que ela tinha dificuldade para dormir quando estava ansiosa e não gostava de me acordar, e minhas suposições se confirmaram assim que abri a porta do quarto e escutei a voz dela e a de Luísa vindas, provavelmente, da cozinha.

ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]Onde histórias criam vida. Descubra agora