"Se por te beijar tivesse que ir depois para o inferno, eu faria isso. Assim poderei me gabar aos demônios de ter estado no paraíso sem nunca entrar."
- Atribuída a William Shakespeare⋆
Diego sempre gostou muito de ler.
Era artista, artistas tem afinidade com as palavras. Seja as lendo, escrevendo, falando...cantando. Decifrando ou construindo.
Artista que é artista entende a vida através da primeira comunicação humana, a palavra.
Palavra compreensível, entendivel, confusa, embolada. Mas, de toda forma, palavra. Jogada ao vento como realidades bagunçadas no espaço-tempo, que podem ou não ser tangíveis.
Nessas ventanias, a palavra de muitos livros fez o artista que ele era acreditar e idealizar mil formas de amor.
Qual seria a face do amor?
Como ele chegaria?
Teria olhos azuis, verdes, castanhos?
Pretos.O amor seria baixo? Frágil?
Ou, então, bruto? Grande?Falaria manso?
Teria voz de preguiça soando por seus ouvidos durante as manhãs?
Porém, o mais importante: Diego saberia reconhecer o amor quando ele chegasse?
Saberia.
No fundo, saberia. O artista sempre sabe.
Sabe antes de todos, antes do mundo girar numa nova estação que traria o florescer do amor que ele já sabia.
Pelo menos, era isso que pensava. Foi o que aprendeu com as palavras dos livros que leu, a personagem principal sempre sabia que o amor era amor antes mesmo de saber. Sentia.No frio da barriga, no sorriso bobo, na vontade de estar perto, na ansiedade por um encontro.
Ele esperava sentir tudo isso e mais um pouco, queria ter certeza de que estava em face do amor quando se entregasse a ele de corpo e alma. Quando mergulhasse no abismo sem fim em direção a braços alheios, morrendo afogado no sentimento.
Mas a vida atropela o pensamento e o desejo, e tudo que um dia sonhou sobre o amor foi dilacerado na primeira entrega do corpo.
O amor se despediu, antes mesmo de cruzar a porta de entrada, em uma noite de sexta-feira. Era frio e o motel que seu primeiro cliente escolheu era dos piores. Barato, feio, desconfortável. O toque do homem em seu corpo deixou feridas em carne viva, eternas.
Doeu muito e demorou mais ainda.
Os minutos passavam devagar, o relógio não movia seus ponteiros.Diego se martirizava por estar entregando o amor assim, de bandeja. Jogando-o fora em uma lata de lixo.
Se guardou para o amor e perdeu a virgindade com algo que não ele.
Colocou em sua cabeça que fez o necessário para sobreviver. Precisava do dinheiro, sua família precisava, e no desespero pouco importa a sujeira para arrumar a bagunça, o que vale é o resultado.
E o resultado vinha com adicionais de melancolia, nojo, mutilação, mas, também, contas pagas, remédios comprados. Era necessário.
Necessário que se vendesse e esquecesse do amor.
Mas a questão é que o amor parece nunca ter se esquecido dele.
Assim como Diego esperava reconhecer o amor, esse sentimento tão instintivo agia como se ainda o quisesse encontrar nessa vida: o amor o fazia preservar as partes que ainda podia guardar.
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XVIII
FanfictionMas em ti o verão será eterno, E a beleza que tens não perderás; Nem chegarás da morte ao triste inverno: Nestas linhas com o tempo crescerás. - William Shakespeare Pessoa certa, hora errada. Quantos versos serão formados através desse encontro? p...