Capítulo único.

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Eu nunca me senti bem em meu corpo, sempre tive uma imagem distorcida de mim mesmo, sempre me achando inferior aos outros, me sentindo feio, gordo, desnecessário. Sempre me escondendo atrás dos meus amigos, nunca me sentindo bem o bastante, ninguém nunca me amaria, porque eu não me amava. Eu me odiava.

Então eu comecei a academia, decidido a mudar de vida, treinava todos os dias, fazia dieta e tomava litros de água. Mas é mais difícil do que parece, mesmo depois de anos, mesmo perdendo muita gordura, ainda não me via como bonito. Meu rosto estava cheio demais, meus peitos eram muito grandes e minha barriga estava longe de ser lisa e trincada, não conseguia perder a maldita pança. Eu me envergonhava, me sentia um homem gorducho ao lado dos meus amigos. Principalmente ao lado dele, Hyunjin. Ele era tão lindo, tão esbelto, tão magro e chique, e eu era uma bagunça.

Somos amigos há anos e eu não sei bem quando isso mudou. Não sei bem quando meus olhos decidiram olhar para ele de forma diferente, o enxergando assim, como uma beldade, como um anjo demoníaco que me faria rezar de joelhos todas as noites. Ele sabia que eu não era o suficiente para ele, mas ele fazia de tudo para que eu me sentisse bem, para que eu me sentisse amado. Não acreditava em nada daquilo. Como um homem como ele, me chamaria de lindo? De gostoso? Não, não. Ele fazia aquilo por pena.

No momento eu obviamente eu pensava nele, estava lembrando da nossa última gravação. Eu odiava quando tinha algo relacionado à piscina, água e roupas coladas. Me sentia encurralado, me sentia nu. É claro que os meninos faziam de tudo para que eu nem pensasse nisso, para que esquecesse as cameras, esquecesse a blusa que agarrava todo meu tronco, e esquecesse que meu corpo estava quase exposto. E apenas me divertisse, e eu me diverti. Eu estava feliz, estava mais forte e eu podia notar, mesmo que quando olhasse no espelho, tudo que eu visse fosse aquele garotinho gordo de anos atrás. Nada nunca muda.

Me lembro que quando finalizamos as gravações, Hyunjin foi o primeiro a sair da piscina, e eu saí logo em seguida, o segui para pegar uma toalha e o observei quando ele pegou uma toalha para si, mas não se enrolou nela, apenas veio em minha direção e a jogou sobre meus ombros, seu rosto exibindo um sorriso terno.

- Você se saiu muito bem Binnie, está tão forte! - Ele disse apertando meus braços por cima da toalha macia. - Você se divertiu? - Minhas orelhas estavam queimando com o seu toque, mas não o afastei.

- Me diverti sim. - Esfreguei meus rosto na toalha para secá-lo. Hyunjin se virou para pegar uma toalha para si. - Vocês fazem tudo ser divertido Jinnie.

- Você faz tudo ser divertido Hyung.

Hyunjin deu uma piscadela e se afastou, indo conversar com Jeongin. Eu gostava tanto desses nossos momentos, de quando conversávamos sozinhos. Sempre ficava martelando a mesma conversa por dias na minha cabeça, imaginando o que teria falado diferente, como deveria ter agido. Não é um hábito saudável, eu sei, mas simplesmente não conseguia evitar.

E era isso que eu estava fazendo no momento. Me martirizando imaginando todos os cenários possíveis para aquele dia. Estava jogado na cama depois de um longo treino, já havia tomado banho, mas não tinha me vestido ainda, a toalha azul escura enrolada na minha cintura tampava o importante, e a porta do meu dormitório estava trancada. Bem, era o que eu achava, até Hyunjin abri-la e correr até mim, pulando na cama. Eu amava sua animação, mas no momento, eu só estava assustado para um caralho. O empurrei para fora da cama e me arrependi no mesmo instante, ao vê-lo cair de bunda no chão, um bico do tamanho do mundo se formando em seus lábios enquanto ele apertava os olhos com uma cara chorosa.

- Meu Deus desculpa por isso Jinnie.

Eu disse, espalmando minha mão em sua direção, mas logo a recolhendo ao lembrar da minha situação. Foi quando ele viu que eu estava apenas de toalha, com os braços tentando cobrir o resto de meu corpo. Suas orbes se arregalaram e sua boca fez um perfeito 'O', o que me fez sentir mais envergonhado ainda. Depois do choque, sua expressão mudou rapidamente, ele fechou sua boca e lambeu seus lábios, me observando de cima a baixo. Ele ainda estava sentado no chão me comendo vivo com seus olhos, enquanto eu estava como um pimentão, travado, sem conseguir falar um a, nem para pedir que ele parasse com aquilo. Então foi ele que quebrou o silêncio.

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