"To think that we could stay the same
But we're two slow dancers, last ones out"
— Two Slow Dancers, Mitski.2003.
As pequenas mãos de João Vitor seguravam forte as correntes do balanço. Subia e descia até o mais alto enquanto gargalhava junto com Pedro no outro balanço ao seu lado. No pátio, a risada deles era o único som. O mais lindo som da infância, até os passáros paravam de cantar para ouví-los.
— Quero ver quem sobe mais alto! — era o desafio da vez, normalmente acabava com algum dos dois machucados.
Quando acontecia, corriam aos braços um do outro, procurando o beijinho milagroso que curava os ferimentos. No fim, já estavam preparados para uma nova aventura.
— Sabe o que eu vi mamãe e papai fazerem esses dias? — João falou animado, parando o balanço antes da queda de algum deles.
— O que? — Pedro parou ao seu lado, curioso.
— Eles me ensinaram, vem cá. — ele saiu do balanço com um pulinho e Pedro o seguiu. — Eu coloco a mão aqui, — colocou a mãozinha atrás da cintura de Pedro. — você coloca essa mão no meu ombro — João puxou a mão do amigo para cima de seu ombro direito. — e ai a gente se dá a mão e estende o braço, assim. — pegou na mão direita de Palhares e fez o movimento dito.
— Eu já vi meus pais fazerem isso também! Num casamento, eles me disseram que é dança de valsa. — Pedro disse animado. — Mas precisa de música, não?
— Sim, mas vamos assim mesmo, não tem como a gente arranjar isso agora! — ele disse afobado. — Tá, daí a gente tem que dançar, essa parte é mais difícil. — João disse tímido, pensando como explicar para o melhor amigo. — Meu pé vai para frente e o seu para trás, eles me explicaram, mas eu não entendi direito. — o garoto soltou uma risadinha envergonhado, tentando fazer os passos que seus pais lhe ensinaram.
— A gente inventa. — Pedro falou sem perceber as bochechinhas de João ficarem coradas. — Vamos um pé pra frente e outro pra trás como você falou. — eles tentaram, no fim João pisou no pé de Pedro e ficou mais vermelho ainda.
— Acho que não fui feito para isso. — ele soltou o amigo e colocou as mãos no rosto.
— Para com isso, a gente tem que treinar para ser bom em algo. — Pedro falou confiante. — Vem, Jô. — puxou o amigo de volta para o lugar.
As duas crianças na praça da igreja da cidade pequena e sem preocupações na vida tentaram por tudo acertar os passinhos que inventaram para a valsa deles. João só não desistiu, porque Pedro impediu. Acabaram gargalhando sem nenhum resultado, eram apenas muitas pisadas no pé e ritmo nenhum.
— Acho que isso é coisa de adulto! — João disse por fim, soltando a mão de Pedro e se afastando.
— Quando a gente for mais velho a gente tenta de novo. — Pedro falou, cansado também depois de muitas tentativas.
— Vamos comer um sorvete! — disse Romania, esquecendo a valsa e pegando a mãozinha de Pedro.
Os dois garotos atravessaram a rua deserta, até o bar da esquina. O dono do local já os conhecia e lhes deu boas vindas com um sorriso no rosto, as mãozinhas juntas não eram olhadas com ódio naquela idade.
— O que posso fazer por vocês rapazes? — a voz era rouca dos anos fumando pelos arredores.
— Pra mim sorvete de chocolate e pro Pedro de morango, tio. — João disse, o sorriso no rosto de quem iluminaria a cidade inteira e a voz tão fina ainda.
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pelas letras das nossas canções - pejão one shots
FanfictionUma coletânea de One Shots de Pejão baseada em letras de músicas.