shangrila.

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Saquarema, Rio de Janeiro.
5 de Julho de 2024.

Envolvido pelo consternado som da ascensão das aves desconsoladas, que pairavam sob o tom gris das nuvens, em busca da liberdade do pesar de sua fortuna, o coração de Saquarema, escondido pelo aconchego dos raios da grande estrela, contraía toda a euforia dos pobres seres que ali permaneciam, presos nas próprias almas tomadas pela podridão do tempo que havia padecido.
O elevador do hotel abrigava, além das duas mulheres, o silêncio que tornara-se mais frequente do que os afetos, estes que tomavam lugar apenas quando o casal assumia a máscara que fazia todos acreditarem que o amor tinha o poder de prevalecer quaisquer percalços. Gabriela sabia que o vácuo entre as interações que tinha com a sua esposa não se dava pela concentração que ambas cultivavam pela aproximação do momento mais importante na vida de um atleta de alto rendimento. Ela sabia que aquilo era muito mais profundo.

         ── O que nós vamos almoçar hoje? ─ Gabi tentou aniquilar a quietude.

         ── Não sei.

         ── As meninas vão pra um restaurante de comida árabe. Você quer ir?

         ── Não quero. O treino hoje foi puxado, vou ficar no hotel. Mas vai tu, lá vai ser legal.

"Eu só quero ir se for contigo, poxa." Gabriela pensou, sentindo falta dos momentos de amores com Rosamaria, mas as palavras se limitaram a pensamentos que foram interrompidos pela indicação do elevador que haviam chegado no andar do quarto.

         ── Eu vou sozinha, então. Mas não fica sem almoçar, tá?

A Guimarães evitou dar a resposta enquanto caminhava ao lado da dona dos fios mais claros, demorando um pouco até que os dizeres se fizessem reais. As mãos unidas já não significavam o ideal: a necessidade intensa de permanecer em contato com a sua grande paixão. Agora, dígitos entrelaçados não passavam de um reflexo vazio que continuava sendo alimentado há anos.

         ── Eu vou pedir algo no iFood. ─ Ela disse, por fim, adentrando no quarto de hotel.

         Os momentos até que Gabriela estivesse pronta para sair mais uma vez passaram como um sopro. Depois de mais algumas tentativas de convencer Rosamaria a aproveitar a tarde livre de treino das jogadoras, a ponteira desistiu. Talvez, ela só não estivesse no seu melhor dia. O seu melhor dia não existia há dois anos. O intenso aroma do perfume familiar há muito tempo para Rosamaria havia tomado cada vão do quarto, era o mesmo que a fazia lembrar do primeiro encontro, do primeiro beijo, da primeira transa. Do dia que havia se casado com o amor de sua vida. Apenas o cheiro de Gabriela tocava muito além de suas narinas, como se apenas a ideia de tê-la em sua mente pudesse alimentar a alma por anos e anos. Entretanto, um âmago envenenado pelo vazio nunca poderia ser preenchido, principalmente por um sentimento tão incerto como o amor definhado.
A Montibeller estava sentada na pia do banheiro, observando, em silêncio, a mais nova das amantes acabar de se preparar para sair, a visão que tanto estava habituada.

── Você é feliz comigo, Gabi?

── Que tipo de pergunta é essa? ─ Os dizeres foram levemente atrapalhados por um elástico que tinha na boca, porque ainda finalizava o penteado.

── Você é feliz comigo? ─ A pergunta, dessa vez, mais firme, voltou a ecoar.

── Meu amor, ─ Gabriela levou a atenção completamente para Rosamaria, se posicionando em meio à suas pernas. Os dígitos ágeis retiraram os fios claros da frente do rosto alheio. ── você é o maior motivo da minha felicidade. Eu seria capaz de fazer o impossível por você, porque só tu é o que importa na minha vida. Isso tudo de vôlei, prêmios, dinheiro... é tudo passageiro e vai acabar, mas o nosso amor vem daqui de dentro, ─ Apontou para a localização do coração da oposta. ── e quando é assim, a gente dá a vida pra fazer viver pra sempre. Então, sim, minha princesa. Eu não poderia ser mais feliz.

⠀冫𝒇ractura. ⠀ ꒰ rosabi ꒱Where stories live. Discover now