CAM | Vondy

Segredos no escuro

Sem pensar muito, enviou uma mensagem no chat privado do perfil misterioso, algo que ele sempre fazia para se manter distante. Mas dessa vez, sua mensagem foi diferente.

— "Eu só quero vê-la, Dulce. Não precisa ser um vídeo sensual, só quero te ver."

Esperou ansioso, o olhar fixo na tela, esperando a notificação que indicaria que ela tinha lido a mensagem. O tempo passou devagar, os minutos pareciam horas, até que finalmente apareceu a notificação de que ela estava digitando.

— "Eu estou desativando o perfil," foi a resposta dela, curta e direta.

Christopher franziu a testa, sentindo o coração acelerar. Por que ela estava desistindo de tudo?

— "Por quê?" ele digitou rapidamente, suas mãos tremendo levemente.

Demorou alguns segundos até a resposta chegar. "Porque não quero mais ser vista como uma qualquer. Cansei de ser apenas um corpo para satisfazer os desejos dos outros. Eu quero um trabalho de verdade, eu quero uma família, eu quero ser amada."

As palavras de Dulce perfuraram o peito de Christopher de uma maneira que ele não esperava. Ele sempre a havia visto de longe, através das lentes de suas fantasias, mas agora, ela estava revelando algo muito mais profundo. Ela queria ser mais do que uma imagem em uma tela. Ela queria algo real, algo que ele, secretamente, também desejava.

Ele respirou fundo antes de enviar sua próxima mensagem, sabendo que estava cruzando uma linha que talvez não pudesse voltar atrás.

— "Antes de desativar o perfil, eu quero passar uma noite com você."

Houve uma longa pausa. Ele podia imaginar o que Dulce estava pensando do outro lado da tela. Estaria ela disposta a aceitar esse último pedido? Ele sabia que estava pedindo muito, mas também sabia que essa era a única maneira de confrontar os sentimentos que ambos pareciam evitar.

Finalmente, ela respondeu.

— "Quem é você?"

Christopher hesitou. Ele não estava pronto para revelar sua verdadeira identidade, não ainda. Não queria que ela soubesse quem ele era, pelo menos não até o momento certo.

— "Você não precisa saber quem eu sou. Só preciso de uma noite. Vamos a uma festa a fantasia. Lá, ninguém será quem realmente é. Podemos nos encontrar e, se você quiser, tudo acaba ali."

Houve um silêncio longo antes que ela finalmente concordasse.

A noite da festa chegou. O local escolhido era discreto, uma casa noturna que promovia festas onde todos usavam máscaras que cobriam todo rosto para que a aparência não influenciasse nas escolhas, e, para aqueles que desejavam, havia quartos privados disponíveis. Dulce chegou primeiro, usando um vestido azul justo, que deixava as costas a mostra, cobrindo apenas a partir de sua cintura, e uma máscara que cobria todo seu rosto. Seu cabelo vermelho brilhava sob a luz suave do ambiente. Ela estava nervosa, mas determinada. Algo dentro dela queria terminar aquilo da maneira certa, mas também havia curiosidade em conhecer esse cliente misterioso que a seguia há tanto tempo.

Christopher chegou logo depois, também mascarado. Ele vestia um terno escuro, a máscara escondendo seu rosto, exceto pelos olhos intensos que não desviavam de Dulce desde o momento em que a viu. Eles se encontraram no centro do salão, um silêncio pesado entre eles. Dulce falava, contando histórias curtas para tentar aliviar a tensão, mas Christopher apenas a ouvia. Cada palavra dela parecia entrar em sua mente como uma confissão silenciosa.

Sem dizer uma única palavra, ele a puxou pela mão. Dulce, hesitante por um segundo, decidiu segui-lo. Ele a conduziu para fora da festa, até o carro que havia deixado estacionado ali perto. O silêncio continuava entre eles, mas a tensão era palpável.

Eles chegaram a um motel discreto, e Christopher abriu a porta para ela, guiando-a até o quarto. Dulce entrou, ainda sem entender o que estava acontecendo, mas confiando na promessa implícita de que tudo acabaria ali, de uma forma ou de outra.

No quarto, sob a luz fraca, Christopher finalmente parou em frente a ela. O momento parecia suspenso no ar. Dulce respirava pesadamente, seus olhos fixos nos dele, mesmo sem conseguir ver seu rosto por completo.

Ele então levou as mãos à máscara. Seus dedos hesitaram por um segundo, mas ele sabia que aquele era o momento da verdade. Com um movimento lento, ele retirou a máscara e a deixou cair no chão.

Dulce ofegou. Sua expressão mudou instantaneamente de curiosidade para choque e, em seguida, para raiva e decepção. Lá, diante dela, estava Christopher. O homem que a tinha contratado, que a havia tocado, que a tinha fotografado — e agora, ela percebia, o homem que vinha a observando por tanto tempo, escondido atrás de uma identidade falsa.

— "Christopher...?" sua voz estava cheia de mágoa e incredulidade.

Christopher tentou dar um passo em sua direção, mas Dulce recuou, os olhos brilhando com lágrimas que ela lutava para conter. Ela se sentia traída, enganada de uma maneira que jamais imaginou.

— "Por que você fez isso?" ela sussurrou, sua voz embargada. "Eu confiei em você, eu pensei... Eu pensei que você fosse diferente."

Ele tentou falar, mas as palavras falharam em sair. Tudo o que ele queria dizer parecia vazio diante da dor nos olhos dela.

— "Eu pensei que você me via como algo mais do que isso," ela continuou, as lágrimas agora descendo por seu rosto. "Mas você é como todos os outros. Você nunca quis me conhecer de verdade. Só queria me ter."

Christopher finalmente encontrou sua voz. "Dulce, eu... eu não sabia como te dizer. Não sabia como parar de ser esse cliente misterioso. Eu queria você... de verdade, não apenas como um corpo, mas como quem você é."

Ela riu amargamente, enxugando as lágrimas com raiva. "E você achou que me enganar era a melhor maneira de fazer isso? Me levar para um motel escondido, como se eu fosse uma qualquer?"

Ela se virou para sair, o coração partido, a decepção estampada em cada movimento. E Christopher ficou lá, assistindo enquanto Dulce saía, sabendo que, desta vez, talvez não houvesse mais volta.