Lição 2: o Desejo e a Ética

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"Não podemos deixar que o medo da moralidade nos impeça de viver nossos desejos."

Nin, Anaïs. Journaux de jeunesse " (Jornais juvenis)", (1914-1931)

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A atmosfera da festa era pesada, a casa estava cheia de jovens embriagados espalhados por todos os lugares, alguns tinham à frente pó branco alinhado em colunas retas para aspirar. O som era garantido por uma playlist eclética que variava do pop ao eletrônico, com uma pista de dança animada no centro, onde um grupo se entregava aos ritmos contagiosos. O bar era um dos destaques da festa improvisada, com uma grande variedade de bebidas alcoólicas, incluindo cervejas, vinhos, e coquetéis variados. Um rapaz fazia as vezes como bartender preparando drinks enquanto uma seção de shots oferecia opções para quem quisesse algo mais forte. Hinata observou as doses dispostas analisando se deveria virar uma delas.

O único motivo para estar ali era a insistência de Ino, que sempre gostava de lembrá-la que era jovem e que deveria aproveitar. Cansada de suas próprias desculpas esdrúxulas resolveu aparecer para tentar mais uma vez, iniciar a conversa civilizada que fazia semanas que tentava concluir. Seus amigos já haviam ressaltado a necessidade de seguir com a sua decisão, dentro de si carregava sentimentos conflitantes, lutando constantemente para encontrar o momento certo. Por isso, a peça que escolhera era elegante, valorizando sua silhueta através de um tecido suave, que ajustava em seu corpo realçando suas curvas de forma discreta, exceto pelas costas nuas. Escolheu a dedo aquele vestido, não queria tocar no assunto após ter a roupa criticada por seu, até então, namorado.

Percorreu o olhar procurando o moreno alto e másculo, para encontrá-lo recostado em uma parede próximo a escadaria da residência virando uma garrafa de cerveja nos lábios, ao seu redor havia alguns rapazes embalados por uma discussão. Quando os olhos do moreno a viram, pararam sobre ela estudando sua roupa. Ela sabia. Com certeza estava verificando se estava adequada para a ocasião, sem mostrar demais, mas ainda assim com um toque sensual. Ele a tratava como sua bonequinha de luxo. Para alguns poderia parecer ciúmes, até mesmo cuidado, mas na verdade era apenas uma forma de fazê-la se sentir inadequada para estar ao lado dele, se sentir controlada e às vezes diminuída.

O que ele não entendia é que uma pessoa que conhece a si mesmo não se deixa abalar pela opinião daqueles que não sabem qual caminho trilhar. O autoconhecimento é uma ferramenta poderosa, e os comentários dele só denotavam a falta de direção e insegurança que ele mesmo possuía. Pelo menos era o mantra que repetia para si mesma, porque em seu íntimo não conseguia deixar de sentir insegurança com os comentários, era humana afinal, e por mais que tentasse ignorar ainda assim era atingida incessantemente.

Impaciente, ele abandonou a conversa com os rapazes para enfim dirigir-se ao seu encontro empurrando as pessoas para fora de seu caminho sem se importar em pedir desculpas. Ao passar por uma garota acabou a fazendo derrubar a bebida no próprio vestido com o impacto do encontro do corpo dele com o ombro dela. Nem ao menos pediu desculpas quando a pobre moça gesticulou para ele de forma emburrecida.

Quando a alcançou, o beijo que deveria ser em seus lábios foi dado em seu pescoço com o leve desviar de sua cabeça. Sem controle seu corpo se contraiu com o toque quente em sua pele fria. Estava sendo assim nos últimos meses. Estavam desconexos, andando em constante divergência, e o corpo dela dava sinais. Poderia relacionar ao fato de andar dando uns beijinhos no seu professor gostoso, mas na verdade a falta de interesse dela por ele começou muito tempo antes e agora só piorava. Evitava beijá-lo, sempre dando desculpas para não sair com os amigos ou encontrá-lo a sós. No início foi fácil, mas ultimamente estava ficando difícil.

ℒ𝒾𝒸̧ℴ̃𝑒𝓈 𝒾𝓃𝒹𝑒𝒸𝑒𝓃𝓉𝑒𝓈Where stories live. Discover now