Capítulo 2

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Minha cabeça latejava de cansaço, e o peso daquela semana parecia esmagar minhas costas. Cada dia no trabalho era um verdadeiro teste de resistência; apurar escândalos, cobrir os últimos lançamentos, entrevistar celebridades e transformar rumores dos bastidores em histórias publicáveis exigia um nível de paciência que eu simplesmente não tinha. Desvendar o lado oculto do entretenimento, enquanto equilibrava o drama e o glamour, era mais desgastante do que as pessoas imaginavam. Sentia-me à beira de um colapso, e a sexta-feira prometia ser ainda mais opressiva.

E como se isso já não fosse o suficiente, havia mais. A leveza com que Eloise falava sobre Colin sempre me atingia em cheio, como sal sendo esfregado em uma ferida que eu tentava esconder há anos. Uma parte de mim se retraía, como se meu corpo se protegesse automaticamente da dor que ainda pulsava. Para ela, a amizade entre Colin e eu permanecia intacta, congelada no tempo. Ela não enxergava as complicações que estavam profundamente enraizadas na realidade.

E quando ela me perguntava algo específico sobre ele? Deus, eu só queria desaparecer. Meu coração disparava, e um frio corria pela minha espinha, como se um peso invisível se instalasse sobre meu peito. O pior era a frequência com que isso acontecia, cada pergunta dela sendo um lembrete cruel do que eu tentava enterrar a todo custo.

Era um exercício brutal de autocontrole. Eu sorria, claro, respondendo no automático, porque era tudo o que restava. Qualquer coisa para esconder o nó no estômago e o leve tremor nas mãos que surgiam assim que o nome dele era mencionado. A tensão nos meus ombros se acumulava, transformando-se em uma rigidez insuportável. Ela não percebia as rachaduras, e por que haveria de notar? Para ela, a vida seguia normalmente, como se tudo estivesse exatamente como antes. Eu é que havia ficado para trás, tentando juntar os pedaços do que restara. Fingir que nada havia mudado, que meu mundo não havia virado do avesso, era um esforço quase sobrenatural.

E então havia as críticas, quase impensadas, que ela fazia à colunista de Whistledown em Foco. Cada vez que ela inquiria sobre as motivações da escritora, algo dentro de mim estremecia. Suas palavras, desprovidas de intenção, lançavam dúvidas sobre minhas escolhas, como se aquilo que eu acreditava ser o certo estivesse agora sujeito a questionamentos. O calor subia ao meu rosto, uma mistura de vergonha e frustração, enquanto a vontade de chorar se acumulava em minha garganta. Durante todo aquele tempo, fiz o possível para ser justa e fiel aos meus princípios. Mas ouvir sua análise fria e racional sobre um trabalho que me custava tanto emocionalmente me fazia questionar se, em algum momento, eu realmente poderia ter sido egoísta.

Talvez, ao tentar proteger minha própria dor, eu tenha sido injusta com aqueles que também carregam suas cicatrizes. Essa ideia me corroía lentamente, um veneno que se espalhava dentro de mim, incontrolável e devastador.

A dúvida plantada por Eloise permanecia no fundo da minha mente, mesmo quando tentava afastá-la. A imagem que eu queria projetar para o mundo — forte, equilibrada, impenetrável — começava a desmoronar por dentro. O pior era que eu não podia culpá-la. A responsabilidade de manter aquele segredo era minha, mas, às vezes, sentia uma vontade incontrolável de gritar para que ela soubesse... para que parasse de me machucar sem perceber.

E foi naquele momento, que percebi que precisava desesperadamente sair de casa, respirar sem que o ar parecesse me sufocar. Quando o convite de Edwina para irmos ao Red Robin surgiu, agarrei-o como uma chance de fuga.

Eu amava Eloise, ela era minha melhor amiga e ninguém no mundo me entendia como ela. Mas, naquele dia, suas perguntas seriam como pontas afiadas, cutucando feridas que ainda sangravam. A número cinco dos Bridgerton podia ser gentil e carinhosa, mas também era insistentemente inquisitiva. Tudo o que eu precisava era de um pouco de paz, e com Edwina, se Colin surgisse na conversa, no mínimo, seria de maneira controlada. Ela sabia o que havia acontecido há cinco anos e, ao contrário de Eloise, não me forçaria a revisitar cada pedaço doloroso do passado como se tudo estivesse bem.

Game Changer: Love Edition • PolinOnde histórias criam vida. Descubra agora