POV João
quarta-feira, 2 semanas para a descoberta.Na tarde de hoje, fiquei longos minutos imerso nas palavras do papel. Consigo recitar de cor tudo que está escrito depois de ter lido milhares de vezes.
"Franze a testa quando se concentra"
"Passa a língua pelos lábios freneticamente"
"Muito expressivo"
Algo muito curioso me chama atenção, ainda não sei dizer o que é e porque, mas talvez essas palavras estejam fazendo falta para quem perdeu, por isso faço uma anotação mental de voltar na sala que encontrei para procurar o dono delas.
Recebo uma mensagem e nem tenho tempo de responder ao olhar o horário e perceber que estou 15 minutos atrasado para o jantar em família. Era aniversário do meu pai, ele nunca foi a pessoa mais animada da casa, na realidade ele mal comemora aniversários, mas minha mãe sempre insiste em fazermos ao menos um jantar, para não passar em branco.
Não que eu me importe muito, meu pai nunca fez questão de aparecer nas minhas festinhas da escola.
Escuto batidas na porta, que me tiram de meus pensamentos.
– Você está bem? - Gi pergunta enquanto termino de arrumar meu cabelo em frente ao espelho.
– Não é como se eu quisesse estar aqui, mas enfim. - Dou de ombros e ela acaricia minha bochecha.
– Vai ficar tudo bem Jão, não pode ser tão ruim assim. – Ela assegura e eu dou um sorriso, foi um apelido criado pela minha avó, e desde então sou chamado assim.
Eu respiro fundo antes de seguir até a sala de jantar, onde meus pais esperavam. Meus tios, pais de Gio, mantinham uma conversa interessante que parou no instante que nos aproximamos da mesa.
– Está atrasado. – Meu pai diz, com seu tom de voz firme, como sempre.
– Perdi a hora, desculpa. – Digo com a voz baixa e me sento na cadeira disponível.
– Claro que perdeu a hora, você não sabe fazer nada direito. – O homem diz entredentes e eu não me arrisco a fazer um barulho se quer.
– Vamos jantar?- Minha mãe diz para quebrar o silêncio que se formou.
– Vamos, o cheiro está delicioso. – Minha tia diz, sinto a mão de Gio em minha perna como um consolo.
Eu odeio estar aqui e ter que escutar tudo isso, o pior é ouvir isso do meu pai, uma das pessoas que mais deveria me amar no mundo.
– E então, como vai a faculdade de jornalismo, Giovana? – Meu pai pergunta.
– Muito bem, eu estou amando o curso e quero seguir na área de assessoria.
– Eu disse para João fazer um curso mais decente, mas de que adianta? Esse garoto só me dá desprezo. – Diz meu pai, e sinto as lágrimas quererem sair, mas não posso. Não posso chorar na frente dele.
– Fabrício, agora não. – Minha mãe pediu a ele, que soltou uma risada sarcástica. Claro que não ia medir as palavras para falar comigo.
– É a verdade, Carla, você sabe que é. - afirma, como se fosse uma verdade absoluta. - Esse garoto não me dá orgulho, você por acaso vê esse menino estudando? Ele só vai a festas, volta completamente embriagado, vou ficar surpreso se ele conseguir terminar esse curso.
– Estou sem fome. –Aviso ao me levantar da mesa recebendo os olhares surpresos pela situação.
– Feliz aniversário, Pai.Saio tentando me desvencilhar de todo o burburinho que fica para trás e de todos os sentimentos que isso me traz. Infelizmente, não tenho sucesso já que minhas lágrimas começam a rolar assim que fecho a porta do quarto.

VOUS LISEZ
Pupila Maior.
FanfictionO que significa aproveitar cada segundo da vida acadêmica? Para João Vitor, ou melhor, Romania, como é conhecido pelos seus colegas de faculdade e amigos de farra, aproveitar a vida universitária é estar presente em todas as festas e ser o centro d...