Capítulo 3 - Tudo azul, eu e você

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"Sei que cê sente o que eu tô sentindo
Troca de olhares, cenário lindo
E quer me ver amanhã
Mandou mensagem, não sei por que eu tô sorrindo"
(Azul - Melly)

Rebeca

Fiel à minha palavra, naquele início de uma tarde quente em Paris, eu estava no ginásio assistindo à semifinal do vôlei feminino. Bem, eu havia assistido, já que a partida havia acabado há alguns minutos e tudo que restava era um sentimento coletivo de tristeza com a derrota do Brasil. Meu coração doía pelas meninas, por saber o quanto elas mereciam a medalha de ouro e por saber o quanto elas se cobrariam por essa derrota, além de toda a cobrança externa.

Porém, inevitavelmente, minha mente estava focada, sobretudo, em uma atleta. Ansiava por saber como a Gabriela estava se sentindo, a cada minuto que passava, minha preocupação aumentava. Por alguns minutos havia perdido ela de vista, até encontrá-la na área das entrevistas. Mesmo longe e com diversas pessoas ao meu redor, seu olhar pareceu encontrar o meu, como um magnetismo.

Logo ela desviou o olhar, focando nos repórteres, mas eu segui a estudando. Seus ombros estavam rígidos e seu maxilar travado em cada pausa de sua fala. A derrota era evidente em seu rosto, não precisava nem que ela me falasse para saber que ela estava assumindo a responsabilidade por todos os erros do time. Ainda assim, ela era cativante e eu sabia que meus olhares não eram os únicos que ela estava recebendo, parecia que todos queriam estar ali, perto dela. Ou talvez eu estivesse projetando a minha vontade nos outros.

— Rebe, vamos lá encontrar as meninas? – disse Rayssa, me tirando do transe em que estava imersa — Se você quiser parar de encarar a Gabi, é claro – riu.

— Vamos lá, peste – respondi rindo e pegando pela sua mão para irmos até a área privada, onde estive há poucos dias.

Entre as meninas da seleção, a tristeza era palpável. Queria encontrar as palavras certas para consolá-las, mas enquanto atleta, eu sabia que nesse momento as palavras ditas sequer eram digeridas. No entanto, isso não me impediria de ao menos tentar ajudá-las.

— Sinto muito – falei para uma Thaisa chorosa — Vocês jogaram bem demais, todo mundo aqui tem orgulho de vocês.

— Ôo, querida, muito obrigada, viu? – ela me abraçou — Acho que meu choro é mais de raiva do que de tristeza – riu.

— Eu já passei pela raiva, tristeza, negação... Já nem sei por que choro – Carolana falou, se juntando a nós.

— Parabéns por hoje, Carol – a abracei — Vocês deram tudo de si, agora é focar no bronze, vocês merecem e com certeza vão conseguir.

— Obrigada, Rebeca – agradeceu — Adoramos ver as medalhistas aqui hoje. Vocês vão vir no jogo?

— A Rayssa eu não sei – olhei para a mais nova, que conversava com as demais jogadoras — Eu ainda vou estar por aqui, mas tenho alguns compromissos, não sei se vou conseguir ir.

— Poxa, que pena, a capitã... – cortou a fala repentinamente —Aliás, falando nela, olha quem vem ali – apontou com a cabeça para frente.

Quando me virei de costas, vi Gabriela vindo em nossa direção. Ela estava séria e, ao se aproximar de nós, abriu um sorriso. Como sempre, sua presença parecia ocupar todo o ar. Não parecia haver outra opção além de se envolver e se perder em sua órbita.

— Você veio – ela afirmou ao parar do meu lado.

— Claro que sim, eu disse que vinha – sorri — Parabéns pelo jogo, Gabi, você foi incrível.

Inevitável |  Rebi (Rebeca Andrade/Gabriela Guimarães)Where stories live. Discover now