Navios, embarcações e amor nos corações.

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Fui situado nessa cidade faz um número considerável de dias, mas ainda assim sofro um pouco por conta do clima. Acho que só um baiano nascido e criado desvenda as temperaturas de um dia inteiro num piscar de olhos, sabendo exatamente o que vestir e onde ir pra evitar morrer de calor ou então ser arrastado por uma tempestade de areia.

Pra mim, curitibano parte carioca parte mineiro, essa tarefa ainda é difícil demais. Hoje mesmo fiz uma péssima escolha, passei o dia trabalhando de calça porque cometi o erro de acreditar no céu nublado das seis da manhã. Escolhi um par de calças escuras e uma blusa de lavagem mais clara, que não ajudou em nada quando o clima apertou e o sol raiou na minha cabeça.

E desacostumado que sou, deixei o ar condicionado quase que no mínimo boa parte do dia aqui dentro do restaurante. A Maristela detesta, me regula sempre, diz que não é quase casada com o sócio da companhia de energia e por isso preciso maneirar, mas eu nem me ligo nisso. Quando estamos deitados na cama, praticamente nus, abraçados e sem uma gota de suor graças ao vento geladinho dessa máquina poderosa e milagrosa, ela não reclama ou diz um pio.

E o meu dia de trabalho hoje não foi nada árduo. Talvez por eu ser apenas sócio investidor que casualmente decide uma coisa ou outra, ou talvez porque eu só faço bisbilhotar essa obra pra botar esses cabras pra trabalhar direito... a razão ainda é incerta, o que importa é que hoje eu e Stela batemos o martelo em mais um detalhe importante pra construção da filial.

O Alkemius, nosso bistrô-restaurante (que é um pouco das duas coisas, best of both worlds, por isso é dolorido demais resumir à um só) tem um padrão muito bem estabelecido para sua arquitetura, com projetos infinitos produzidos por uma designer e tudo: as cores, os móveis, estruturas, disposição do bar e das mesas, mobílias e mais. Porém, sempre que a gente abre uma nova filial, algo nela é escolhido pra ser o diferencial dentre as demais.

Essa tradição começou na segunda filial, no Alkemius do Rio, onde decidimos que a pintura das cerâmicas do banheiro seria feita à mão por nós. Já na unidade de Sampa, separamos um espaço especialmente instagramavel para visitantes e os inúmeros críticos que visitam o lugar. Aqui em Salvador, a ideia desde o começo esteve muito clara dentro de mim.

Esse lugar potencializa meus sentidos desde a primeira vez que pisei aqui, e é o principal cenário dos meus devaneios de aposentadoria e velhice. Além de que Bahia sou inteiro ao mesmo tempo que sou só uma parte, sou pequeno e também sou gigante, e como disse meu ídolo: aqui eu ganhei régua e compasso para trilhar meus caminhos andarilhando pelo resto do mundo, e tudo sempre acaba aqui.

Então, para o meu bezerro de ouro localizado no coração do Brasil, o Alkemius BA tem um menu secreto único e exclusivo, com drinks e pratos diferenciados, desenvolvidos por mim e por Kellen, minha colega da nutrição, com ingredientes e matérias primas naturais selecionadas que só encontramos aqui, em terras baianas interioranas. E foi tudo mais do que aprovado pela nossa chef de cozinha, Maristela Apollonio, vulgo minha noiva.

Tá, ainda não estamos noivos. Mas vamos ficar!

De volta ao trabalho, já no final da tarde e começo de noite, depois que dispensamos os obreiros e fechamos tudo por lá, uma galerinha se juntou a gente pra comemorar mais um andamento da nossa obra no Pelourinho.
Coisa de dois casais e dois solteiros, um grupo pequeno, só pra brindar mais uma etapa concluída com sucesso máximo.

Acabamos parando no de sempre, o Bistrô Pelô, porque a caipirinha de lá é a melhor daquela rua inteira! Só fica atrás da minha, óbvio, mas eu ainda não estou no pódio.

Pedi logo duas, rodada dupla tem dessas, e os petiscos logo chegaram na mesa. Nossos amigos, alguns conterrâneos de Copacabana, e outros conhecidos que os inúmeros bate-volta conexão Rio x Bahia nos trouxe, estão sempre dispostos a escutar as lamúrias e os júbilos de glória desse processo louco que envolve toda a construção de um novo Alkemius.

Solstício de Dezembro. Where stories live. Discover now