Lavanda - dimaury

Capítulo 21

Quando deitamos para dormir aquela noite, levemente alcoolizados, ele me abraçou tão forte que seu aperto doeu. Eu permaneci em silêncio e o abracei de volta, conseguia ouvir um leve fungado e senti algumas lágrimas molharem meu peitoral, onde ele escondia o rosto. Depois de muitos minutos, ele finalmente falou.

– Às vezes eu acho que... Que eu não sou merecedor de tudo isso – sua voz era chorosa e sussurrada

– Meu amor...

– Não, deixa eu terminar – agora ele me olhava nos olhos, que estavam molhados e respirou fundo antes de continuar – Meu lado racional sabe que sou merecedor de viver esse amor tranquilo e feliz, eu falo isso na terapia toda semana. Eu sei disso... Mas ainda tem uma parte de mim, uma voz, que me diz que não. Nesse momento, agora, eu deixei essa voz falar mais alto e senti... Coisas ruins. Tá passando. Desculpa te encher com essas coisas, mas ver você se dando bem com o Bruno, que além de ser meu melhor amigo é a pessoa que salvou a minha vida, foi... Aquilo me transbordou de sentimentos bons e de gratidão, mas ao mesmo tempo, veio isso de... Será que eu mereço mesmo tanto?

– Xiu! Você nunca mais vai me pedir desculpas por algo assim – apertei seu corpo mais contra o meu – Você merece todas as melhores coisas que o universo pode proporcionar pra alguém. Diego, você mudou minha vida. Você me mudou. Como eu posso não me dar bem com uma pessoa tão importante pra você? Bruno é seu amigo, sua família, então ele também faz parte da nossa... Da nossa família. Me pede desculpas só quando você errar comigo e esse não é o caso. Eu tô aqui pra ouvir todas as coisas que você quiser falar, totalmente sem julgamentos

Segurei seu queixo e juntei nossos lábios rapidamente. Quando me afastei, seus olhos ainda estavam fechados.

– Eu te amo, meu bem – sussurrei – Te amo, te amo, te amo

Seus olhos abriram e revelando mais lágrimas, mas seu semblante não era mais triste.

– Obrigado por ser você. Obrigado por ser o que você é pra mim. Eu amo você

Seu coração batia tão forte que eu sentia contra a minha pele e o meu não ficava atrás. Meu peito era constantemente inundado de uma grandeza de sentimentos quase irreais quando o assunto era Diego. Mas ali, agora, vendo a sua fragilidade, aquilo era tão grande que parecia não caber em mim. Eu queria poder juntar todos os seus pedaços quebrados e por mais que não conseguisse, eu tentaria.

As últimas horas do ano chegaram de forma tranquila. Nos despedimos de 2024 com uma gratidão imensa por ter nos encontrado, ou melhor, nos reencontrado nessa vida. Cumprimos todos os clichês de casais que passam o réveillon na praia. Beijamos à meia-noite, tiramos fotos com as luzes dos fogos de fundo, pulamos sete ondas de mãos dadas... Estávamos felizes e tínhamos a certeza que seríamos felizes por tanto tempo quando nos fosse permitido.

O primeiro dia de 2025 começou tranquilo. Preguiça, beijos, conversas antes de levantar da cama. Após tomarmos um banho demorado juntos, entramos na cozinha conversando sobre algo aleatório. No momento que Bruno nos viu, pegou o controle rapidamente e desligou a TV. Eu não falaria nada, mas Diego... Bem, Diego é Diego. Ele desconfia até da própria sombra.

– O que foi? – Diego perguntou, sério

– Bom dia, meninos – Falei logo depois tentando amenizar o clima

– O que foi, Bruno? Por que você desligou a TV desse jeito?

– Não foi nada, amigo. Só não acho legal a gente ficar vendo notícias ruins assim logo no primeiro dia do ano – Bruno disse fingindo distração e indo até a pia lavar a xícara que estava em sua mão

– Dormiram bem? – Lennon perguntou, ainda na tentativa de fazer Diego não questionar mais

– Sim, ainda tô com um pouco de sono, mas a cama é bem confortável, né?

Eu olhei para Diego, esperando que ele concordasse comigo, mas ele olhava ainda desconfiado para Bruno, que estava de costas. Em uma agilidade absurda, o vi se esticar sobre o balcão e pegar o controle e ligar a TV no mesmo instante.

No momento em que a voz da repórter ecoou no ambiente, eu vi Bruno se virar de forma abrupta e seu olhar assustado encontrou o meu confuso.

Olhei para Diego e ele estava atento olhando para a TV, segurando o controle com força.

As imagens eram de um helicóptero sobrevoando uma prisão, as palavras da repórter fizeram meu coração quase parar por alguns segundos.

"E essas foram as últimas informações que tivemos sobre a fuga desta madrugada de Réveillon no Centro de Progressão Penitenciário Tremembé. Você consegue encontrar a lista dos fugitivos no nosso site"

– Diego... – foi a única coisa que eu consegui falar, mas não tive respostas

Me aproximei dele e ele já estava com o celular na mão, mexendo e digitando de forma ágil.

– Di... – Lennon falou e sua voz agora parecia tão longe

Vi Diego rolar a lista dos fugitivos e captei exatamente o momento em que seus dedos pararam em um nome.

Matheus Barbosa.