Capítulo 25 - Processo de luto

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Patcha
Tailândia
Território Desconhecido

Patcha tinha morado naquela mesma caverna por muito tempo depois de ter sido exilada por Engfa, tantos anos atrás e voltar até ali depois depois da reviravolta que ocorrera em sua vida a trouxe uma estranha sensação que abarcava tanto o medo, quanto a melancolia.

Lembrou-se de quando aquelas paredes de rocha fria foram a única testemunha de tudo o que passara quando se viu sozinha e afastada de seu clã em um castigo digno do pior dos traidores. Na ocasião, contudo... Patcha não imaginava que aquele seria seu destino ou que Engfa sequer era capaz de ordenar algo como aquilo.

Aquele lugar, apesar de tranquilo, não foi capaz de protegê-la dos pesadelos que assolaram seu sono por anos a fio, sem nenhuma pausa a ponto de quase fazê-la perder completamente a sanidade. Passara muito tempo em uma situação crítica na qual não conseguia encontrar comida ou água e a sensação de seu corpo definhando aos poucos era algo que jamais esqueceria, mesmo que tivesse se recuperado fisicamente e não tivesse mais nenhuma das marcas que, antigamente, poderiam ter confirmado sua história.

Encarou a paisagem que se estendia abaixo de si, vendo os picos das montanhas mais baixas do vale se erguendo do solo como pontas de lanças saindo diretamente da terra. A impressão, era que havia algo despertando ali, pronto para lutar. Aquela cena inóspita e fria tinha sido sua única vista, de modo que precisou lutar com sua própria mente para se lembrar de Bangkok vista da Torre-Polis.

A esperança de uma dia ter aquela vista novamente foi o que a manteve sã... até o momento em que ele finalmente a encontrou, e lhe prometeu o mundo.

Patcha aceitou a proposta sem pensar duas vezes porque, em parte, tudo o que queria era sair dali e a promessa de ter quem mais a machucou aos seus pés era tentadora demais para ser negada.

Em tese, o plano dele seria rápido e fácil, como se provou no início. Mas ele subestimara Engfa, Charlotte — principalmente a ômega — e a parceria que as unia, deixando Patcha responsável para lidar com aquele... imprevisto, mesmo que não soubesse, ao certo, como iria fazer o que lhe fora pedido.

Precisou estudar muito para compreender o que estava acontecendo. E então, após juntar as peças, descobriu o segredo que Davikah tentava esconder e viu nisso uma oportunidade para se livrar das amarras de quem, um dia, ela considerou um salvador. Não que isso fosse algo bom de se fazer, mas Patcha não imaginava com quem estava se metendo quando não só aceitou, como também concordou em trabalhar para ele como forma de quitar sua dívida.

Aquela poderia ser sua última chance de encontrar alguma paz naquela vida para que não levasse um karma tão pesado assim para a próxima. Afinal, foram suas atitudes que a levaram até aquele ponto indesejado, e ela reconhecia sua própria culpa.

Em seu interior, no entanto, tudo o que queria era voltar para casa, para os braços da única pessoa que a fez sentir-se viva, mas já não sabia se aquela última parte era possível após a mancha escura que ele inseriu em seu coração para lhe apodrecer a alma. Gostasse ou não, para toda escolha feita, havia uma consequência e ela precisava lidar com as que estavam recaindo sobre si naquele momento tal qual uma adulta faria.

Uma brisa gélida soprou em sua direção e afastou o capuz do grosso manto que cobria sua face. Os braceletes metálicos em seus pulsos tilintaram, atraindo momentaneamente sua atenção.

Patcha engoliu em seco quando observou os aros prateados do acessório, e passou a ponta de um dos dedos sobre o metal, lembrando-se do treinamento que recebera antes que exercer sua função atual.

Um sorriso irônico surgiu em seu rosto mesmo que não tivesse ninguém ali para vê-lo. Até algumas semanas atrás, parte de si ainda tinha esperanças de que tudo voltaria ao normal quando terminasse o que precisava ser feito, mas dado o conteúdo dos sonhos que ele lhe enviava... duvidava de que tudo aquilo estivesse perto de um fim. Agora, isso parecia impossível.

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