Você aceitaria conversar comigo?

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— Eu sei da Alice. — Ele começa, respirando profundamente mais uma vez antes de continuar, como se estivesse buscando palavras ou coragem. — Eu sei o que aconteceu com ela e eu sei o tanto que você está sentindo nesse momento.

Ele pausa, e, apesar de não poder ver os olhos de Araldo, Wuant se sente observado, como se Araldo encarasse sua alma.

— Eu só queria te dizer que eu não tive intenção de matar ela.

Wuant demorou meio segundo para processar a informação, até que seu rosto forma uma expressão de confusão.

— Como posso acreditar em ti se toda gente diz-me que tu a mataste? Eu nem- nem mesmo sei o que aconteceu!

— Eu vou te contar. — Ele assegurou. — É o seguinte, eu não sei se você sabe, mas existe… uma coisa estranha que ronda a cidade, e essa coisa estranha se chama Arkania. Há muito tempo atrás eu consegui uma coisa muito importante, que me daria o poder de fazer o que eu fiz.

Quanto mais Araldo falava, mais a ansiedade de Wuant parecia crescer. Ele só quer saber o porquê, a razão, o motivo se tudo isso…

— Eu quero saber o porquê você fez isso.

Araldo olha para uma das janelas, como se tentasse evitar olhar Wuant diretamente.

— Tudo que eu fiz foi simplesmente para proteger a cidade e me proteger. — Ele explica. Wuant cruza os braços, esperando uma justificativa para tal declaração. — O seu amigo- ou melhor, os seus amigos, me querem… morto.

— E saiba que eu também. — Wuant não sabe dizer com certeza, mas pela repentina mudança do olhar de Araldo da janela até o chão, ele parecia… infeliz. Infeliz com o que Wuant disse.  — Eu não… não sei porquê você faria algo assim.

— Eu- eu não fui… Wuant, olha só. Eu não imaginei que as consequências do que eu usei acabaria matando a Alice. Eu não decidi isso.

O silêncio pairou no ar. Nenhum dos dois respondeu, Wuant parecia tentar digerir essa informação, mas seu sistema emocional constantemente a negava. “Como você mata alguém daquele jeito sem querer?”, ele pensa.

— Porque você usou essa… magia? — Wuant corta o silêncio com essa pergunta. Araldo volta a olhar para ele.

— Porque eles estavam me desafiando. Eu… fui menosprezado. Debochado.  Pela maior parte dos seus amigos. E eu quis dar uma lição pra eles, — Ele não parece ter um pingo de arrependimento quando fala tudo isso, mas isso até que começa a dizer o seguinte: —  mas o tiro saiu pela culatra e eu… acabei matando a Alice.

Wuant quase consegue sentir o gosto do arrependimento na voz dele, mas nada diz, deixando Araldo prosseguir.

— Eu sei que agora você pode me odiar, e talvez isso nunca passe, mas eu precisava te falar. — Araldo dá um passo, ficando mais próximo de Wuant. — Porque eu não confio nos seus amigos, mas em você eu confio.

Wuant coloca uma mão sobre o rosto, tentando absorver tudo que ouviu.

— Eu não… Araldo, eu estou tão perdido, eu- eu tenho- ando a ter visões da Alice. — Wuant leva a mão até a cabeça, passando por entre seus fios de cabelo. — Como se ela estivesse tentando se comunicar comigo. E eu só- eu só queria paz. Queria que toda gente pudesse estar bem, sem brigas, pois uma vida inocente já se perdeu. Quantas mais poderão vir a se perder?

Araldo parecia ponderar sobre a fala de Wuant, buscando as palavras exatas para respondê-lo à altura.

— Eu… como “tratado de paz”, eu queria te oferecer uma coisa.

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