Melancolima

Capítulo 12 - Melancolima

Sob o vento frio que fazia no campo aquela noite, Martina estava fazendo uma oração para Deus. Talvez seja considerado ultraje por alguns, mas ela falava com Deus para ele conversar com Papai Noel e por favorzinho, lhe desse a boneca que tanto queria. Joaquim apareceu correndo segurando a mão de Sarah e a interrompeu.
— Ô seu bobão, eu tô rezando aqui ó!
— Que foi marrenta? Eu só vim te avisar que a gente vai brincar de Soletrando. Sarah vai indo lá que eu só vou encher mais o saco aqui da Martina mais um pouco. — Joaquim deu um selinho na garotinha de cabelos negros e se virou para a amiga após a namoradinha se afastar. Ele só gostava dela por ela ser mais velha e mais alta, dessa certeza Martina tinha.
— Você hein, um mulherengo já com 10 anos.
— Que foi? Ciúmes?
— Nada, é só engraçado de ver. — Martina mentiu.
— Ah para de ser sem graça vai, vem aqui. Prometo não contar pra Sarah. — Joaquim pegou a mão dela a ajudando a descer e a abraçou, juntou as testas e riu baixinho. — Você sempre vai ser minha melhor amiga, tá bom? — Ele fez um biquinho pedindo um beijo.
— Tá bom, seu chato. — Martina deu um selinho em Joaquim e fez cara feia se soltando dele — Eca, é nojento.
— Eu nunca disse que não é nojento, só é legal mesmo. Vem, vamos pra sala jogar.

Na sala com os avós de Joaquim e seus tios, Martina se sentiu feliz e acolhida de novo. Perder os pais tão cedo na vida não é fácil, definitivamente.
— Quem vai ser o próximo?
— Eu, tio Júlio. — Martina se pôs de pé toda convencida que iria arrasar com Joaquim e seu acerto com a palavra “relutância”. Subiu ao palco e nervosamente apertava a bainha do seu vestido vermelho com bolinhas brancas.
— A sua palavra é “melancolia”.
Não se sabe se foi nervosismo, ou o fato de que Joaquim não estava olhando para ela e sim para as bochechas rosadas de Sarah, ou se era porque não alcançava o microfone direito, ou só por não saber mesmo. Ela se preparou, chegou ao microfone e meio incerta, soletrou.
— M E L A N C O L I M A, Melancolima!