Capítulo 14: Calma y caos (II) (calma e caos (II))

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“Se eu já sabia que cê ia embora
Não devia doer menos agora?”
- Diego Martins

O alarme de Ramiro tocou extremamente cedo, ainda mais para um sábado. 

Kelvin apenas abriu um olho, sentindo seu rosto inchado e seus párpados pesados. Imediatamente sentiu o braço grande do preto o abraçando e lembrou que sairiam para sua viagem romântica, ficando emocionado.

— Bom dia Rams Rams, bora, acorda, vamo fazer um cafezinho e pegar a estrada — Disse animado, ainda que com voz de sono.

— Ô pequetito, calma que eu quero ficar um pouquinho aqui, agarradinho n’océ — disse manhoso, com a voz rouca, segurando Kelvin contra ele.

— Bora, que preguicinha é essa? — Perguntou batendo palmas e tirando o cobertor de cima dos dois

— Tô com sono ainda, meu amor — respondeu Ramiro, com expressão de cachorro que caiu da mudança, juntando as sobrancelhas e puxando o cobertor novamente, deitando mas de lado e se encolhendo no lugar.

Kelvin sorriu com o apelido, sentiu seu coração mais quente e uma felicidade genuína pôde ser visível em seus olhos

— Tudo bem, meu bem, eu faço o café e você dorme mais um pouquinho — disse pegando o rosto de Ramiro e deixando um selinho demorado — Não deve ser fácil ser velho e não ter pique — Completou rindo, levantando da cama.

— Mais tarde te mostro quem não tem pique — respondeu Ramiro, com voz de sono e sem quase se mexer, mas sorrindo. 

A viagem começou tranquila, as ruas estavam quase desertas e já estavam saindo da cidade enquanto cantavam juntos “amor escondido sabor de pecado, ou a gente se assume ou acaba morrendo de tanto ciúme”. Ambos tomaram o ar para começar o coro de “vou te amarrar na minha cama” quando a música se cortou por uma chamada entrante. 

— Buen día tío, ha pasado algo? (Bom dia tio, aconteceu alguma coisa?) — perguntou Ramiro desconfiado, achando estranha aquela ligação num sábado tão cedo

A voz de Antônio soou pelo carro inteiro, angustiada, quase desesperada

— Hijo mío, no he querido molestarte, pero necesito que vengas (meu filho, eu não queria te incomodar, mas eu preciso que você venha) 

— Qué ha pasado, tío? Ademir no está ahí? (O que aconteceu tio, o Ademir não tá aí?) — perguntou mudando o tom para um de preocupação e olhando nos olhos de Kevin 

— Puedes venir? (Você pode vir?) 

— Estaba comenzando un viaje (eu estava começando uma viagem) — olhou para Kelvin, que assentiu — Vamos, si, vamos para ahí (vamos, sim, vamos para aí)

— Vamos? Está bien, te espero, muchas gracias (Vamos? Tudo bem, te espero, muito obrigada) — respondeu desligando

Ramiro mudou a rota no GPS pegando um desvio direto para Aranjuez, onde seu tio morava.

Chegando na casa, estacionou o carro nos fundos e entrou pela porta da cozinha, segurando a mão de Kelvin e tendo-o perto.

Tudo parecia muito silencioso, e acabou encontrando Antônio sentado na frente da TV com uma expressão de cansaço e dor

— Tio, Cómo estás? Qué ha pasado? Este es Kelvin (Tío, como você está? O que aconteceu? Esse é o Kelvin) — comentou ficando de pé na frente do tio, e completando a frase ao vê-lo olhando para o rapaz

— Que bueno que has venido, hijo, me estoy sintiendo muy mal, el nuevo tratamiento me ha afectado demasiado, sabes? (Que bom que você veio, meu filho, eu estou me sentindo muito mal, o tratamento novo tem me afetado demais, sabe?) — suspirou — hola joven (oi, jovem) — completou, comprimento do Kelvin sem mudar sua expressão 

Duas vidas, dois mundosWhere stories live. Discover now