Três dias haviam se passado desde que Ryo fora resgatado por um homem sem nome na divisa do quarto distrito com o quinto distrito. Somente agora ele estava finalmente começando a acordar.
Seu corpo doía da cabeça aos pés, uma fraqueza constante que não parecia querer cessar continuava a incomodá-lo durante todos os dias que se passaram. A dor era intensa e tornava difícil se lembrar de tudo que havia acontecido. Afinal, como ele tinha acabado em uma situação tão deplorável? Onde estava Uroborosu? Essas perguntas surgiam em sua mente à medida que ele se esforçava para abrir seus olhos, se surpreendendo quando a primeira coisa que viu foi uma pequena coruja, que mais parecia uma bola de penas, em seu colo, olhando-o profundamente. Fracamente, o garoto falou com a pequena coruja:
— Olá, pequena... você não me parece ser daqui... — Ryo disse com um sorriso fraco e sua voz rouca pelo cansaço.
A coruja, em resposta à pergunta dele, soltou um piado fraco e, por um segundo, Ryo poderia jurar ver os olhos amarelos da coruja ficarem vermelhos quando ela se aconchegou mais em seu colo. Mas provavelmente isso deveria ser apenas uma impressão causada pelo cansaço, que ele logo ignorou, enquanto olhava para os lados com um longo suspiro. Diante dele o grande pântano do distrito Jo e, atrás de si, uma floresta do quarto distrito.
— É realmente um lugar estranho para se estar, amiguinha... me impressiona que ainda esteja viva mesmo em terra. Na verdade, me encabula que eu ainda esteja vivo também — o garoto riu, usando suas mãos para ajeitar seus cabelos mais uma vez e notando um incômodo diferente do habitual em seu dedo, o que o fez instantaneamente mover sua mão esquerda para frente de seu rosto e encarar o anel de rubi em seu dedo anelar.
— Um anel? Por que eu? Oh...! — Ele parou de se perguntar assim que lentamente começou a se lembrar do que havia acontecido três dias atrás. — Eu aceitei o noivado com um desconhecido... por que ele era bonito? E ele não me disse nem o nome dele... A mestra vai me matar... — O garoto parecia descrente com o próprio comportamento, enquanto pegava a coruja que estava em seu colo e a colocava em seu ombro para se levantar.
Após se levantar, Ryo deu pequenos tapas em sua roupa para limpar da poeira, enquanto continuava pensativo, tentando se lembrar de tudo até aquele momento, repetindo para si mesmo em voz alta enquanto andava em círculos: — Certo, cinco meses atrás eu sai em uma missão de campo para o quinto distrito junto com o General Shihei. O que era exatamente? — Ele se perguntou por alguns segundos, se forçando a lembrar mais rapidamente, até finalmente conseguir. — Oh, os boatos sobre um grupo criminoso se espalhando pelo país em prol do fim do xogunato... Era isso, mas eu não achei muita coisa... Eu ainda estava com Uroborosu nesse meio-tempo, então por que ele não está aqui?
Realmente algo estava estranho. Por que ele não conseguia se lembrar onde estava Uroborosu, nem como havia sido machucado, ou quem tinha perseguido tudo isso? Era incômodo demais, um quebra-cabeças defeituoso onde suas memorias sãos peças que parecem não conseguir se encaixar. E, em meio seus pensamentos, uma voz ressoou em sua cabeça, uma voz da qual inesperadamente sentiu falta.
— Pirralho maldito!!! Como ousa me perder Toyosaki?! Venha me buscar já, seu projeto de sacerdotisa! — A voz de Uroborosu continuava exatamente como Ryo se lembrava: grave, alta e, com certeza irritante...
— Uroborosu, eu acabei de despertar. Faça-me um favor, sua cobra velha, e pare de gritar na minha cabeça! — Sem perceber, Ryo acabou respondendo em voz alta, quase gritando, o que deixou a coruja em seu ombro até mesmo um pouco assustada, piando com o grito dele.
— Tsk! Me perde e, em vez de me procurar, vai tirar uma soneca? Que ótimo pactuado o meu humano, incompetente. — Uroborosu continuava a resmungar na cabeça de Ryo agora mais baixo.
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Entre Espadas
RomanceUm relacionamento que acabou de maneira conturbada, em um acidente que causa a morte de ambos, foi assim que Ryo e Leonardo se viram em um mundo feudal durante um xogunato, onde aparentemente youkais e magia não são somente contos em livros antigos...