Capítulo 28 - Céu vermelho

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Engfa Waraha
Tailândia
Bangkok

O salão ficou quieto. Mortalmente quieto, com a revelação que saíra diretamente de sua boca: por Charlotte, ela deixaria tudo e todos queimarem, se assim fosse preciso. Essas palavras eram fortes demais, assim como o significado por trás delas, que não poderia ser ignorado. Para o bem ou para o mal, era algo inédito para um comandante.

Se vendo diante de expressões tanto de choque, quanto de horror, Engfa não voltou seu olhar para os presentes antes de fazer o que, no passado, jamais teria coragem: ela segurou fortemente Patcha, uma sacerdotisa treinada, pelo pescoço, mas sem tira-lá do chão como fizera com A-Wut. A alfa a obrigou a encara-lá e o que a mulher mais nova vira em seus olhos a fez tremer de puro medo.

As chamas se estenderam de Engfa para formar um semicírculo, separando-as dos outros líderes, e impendindo que qualquer um deles tentasse intervir.

Ele não me avisou sobre isso. Pelos espíritos! Por que ele não me avisou sobre isso! Qual serventia minha morte lhe traria justo agora? Patcha engoliu em seco, e tudo o que conseguiu fazer foi tentar esconder o medo que sentia e lhe fazia tremer os ossos.

— Ainda não sei como, mas você sequestrou minha parceira e a fez desaparecer sem deixar rastros. Eu deveria te matar somente pela ousadia, mas não creio que mereça tanta misericórdia.

Patcha se obrigou a permanecer com uma expressão gélida em desafio e ainda conseguiu lhe dirigir um sorrisinho zombeteiro.

— Eles não iam deixar que isso acontecesse... o povo e os outros líderes, digo. E... você sequer ouviu o resto do que tenho a dizer...

Engfa revirou os olhos sem se incomodar de aliviar o aperto. A alfa mantinha seu braço esticado e se recusava a se aproximar mais do que o necessário da sacerdotisa.

— Não preciso ouvir mais porcaria alguma. Você realmente deve me achar uma perfeita estúpida se pensou, mesmo que por um único momento, que esse plano funcionaria.

As chamas arderam com mais força, refletindo seu caótico e devastador estado de espírito. Apesar de tudo o que sentia naquele momento, a comandante estava ciente de que precisava se manter no controle para evitar que o fogo se espalhasse além do que pretendia.

Patcha abriu e fechou a boca repetidas vezes e uma de suas mãos segurou fraca, porém, firmemente o pulso da mais velha, ganhando um rosnado baixo e ameaçador no exato momento em que seus dedos tocaram-na.
O aviso era claro: Engfa não queria ser tocada. Nem por ela, e nem por mais ninguém. De nenhuma forma.

— Não precisa tentar me explicar mais nada. Já entendi que você deu um jeito de afastar Charlotte, provocar toda essa confusão, apenas para ressurgir como salvadora... e claro, tentar me prender em um matrimônio que sabe que eu jamais iria aceitar. Agora o que eu não entendo é: por que se dar todo esse trabalho?

O silêncio que recaiu só era quebrado pelo crepitar das chamas, que consumiam lentamente o chão e parte do teto do salão.

Patcha se manteve em silêncio, o que não foi do agrado da alfa.

— Onde está minha parceira, Patcha? — rosnou Engfa, mas tudo o que recebeu como resposta foi um crispar de lábios.

Ela ficou completamente louca. Pensou um dos aliados secretos de Patcha, a seu respeito, de onde estava assistindo à interação, impedido de agir pelas chamas ainda vivas.

— Isso... o que você se tornou... não é natural, Engfa... — murmurou, com a voz entrecortada.

A risada que Engfa soltou em seguida foi um dos piores sons que já ouvira em toda a vida e algo que jamais esqueceria enquanto vivesse.

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