Cansada estava longe de ser o termo que Agatha escolheria para se descrever naquela noite. Carente, menos ainda; a simples menção da palavra a repugnava, fazendo um arrepio percorrer-lhe a espinha só de pensar nela. Isso não lhe cabia – nunca fora uma característica associada a ela. E, no entanto, lá estava ela, buscando se justificar para si mesma quando aquela palavra atravessava sua mente conturbada.
Ela preferia a versão onde classificava o que estava sentindo como tédio, o mais puro e honesto tédio, um dos principais fatores que a impulsionava a fazer coisas que ela não deveria fazer. Ou ao menos era o que ela dizia pra si mesma de vez em quando, pois no fundo ela sabia que boa parte dos crimes que cometia eram apenas por satisfação própria, tédio era nada mais do que uma péssima desculpa que ela usava para si mesma.
O que ela não entendia, ou fingia que não, era o motivo de tentar tanto se justificar já que pouco se importava com o que os outros pensavam. Algo que a pegou por um tempo, foi que ela nunca fez questão de tentar se explicar para ninguém, mas incessantemente se pegava inventando desculpas para si mesma sobre coisas que nem se quer julgava serem importantes.
A noite parecia agradável, a brisa leve que batia em seus cabelos era quase refrescante, o sangue em suas mãos quase não a incomodava, o cheiro do cadáver ao seu lado em algum momento começaria a incomodar, mas até lá ela pretendia estar bem longe dali.
O corpo sem vida era quase patético, ela passou décadas tentando vislumbrar a beleza dessa passagem entre a vida e a morte, de que tanto ouviu falar, e mesmo deixando um rastro de corpos por onde passava ela nunca entendeu realmente a beleza da coisa. Era como algo que muito ouvisse falar, mas não podia enxergar com seus próprios olhos e isso era frustrante demais para lidar.
O ar em sua volta tornou-se gélido, mas de alguma forma aquilo parecia reconfortante, como se o frio a envolvesse em um abraço, terno o bastante para fazê-la suspirar. Como uma lembrança distante que ela lutava para deixar enterrada em sua memória. Uma lembrança que ela insistia em visitar em noites solitárias, mas que jamais admitiria.
— Você já foi melhor com isso, meu bem. — A voz despreocupada que surgiu em meio a neblina era tudo o que Agatha fingia querer evitar, mesmo que deixasse presentes demais para ela no decorrer de sua vida para ser simplesmente ignorada. — Um único golpe na jugular? Para onde foi a sua criatividade? — Provocou a mulher que agora analisava o cadáver
— Desde quando julgar práticas de assassinato começou a fazer parte do seu trabalho? — Agatha parecia lutar muito para manter seu tom desdenhoso e seus olhos longe da figura encapuzada que tendenciosamente se aproximava.
— É um encontro de trabalho então? Eu achei que queria me ver… — Rio poderia até fingir estar ofendida, mas o sorriso de canto em seus lábios era perverso demais para manter a farsa.
Agatha não respondeu, a cada passo que Vidal dava em sua direção, aquele frio que sentia parecia aumentar e infelizmente a sensação de conforto também.
— O que a garota fez para despertar a sua ira, Agatha? — Vidal perguntou em um tom provocativo demais para alguém que está a poucos metros do cadáver em questão.
— E faz diferença para você? — Havia um desafio em seu tom, um que Rio estava tentando desvendar — Pelo que me lembro o seu trabalho era levá-los… independente de quem…
Rio sabia que chegariam a isso, todas as vezes que se encontraram depois do que houve com Nicholas parecia sempre terminar da mesma forma. Parecia uma ferida que lutava para se manter aberta, e não havia nada que ela pudesse fazer para amenizar a dor que isso causava. Não enquanto Agatha optava por mantê-la aberta e exposta daquela forma.
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Brincando com a Morte - Agathario
FanfictionAgatha Harkness tenta justificar seus atos violentos como puro tédio, mas no fundo, sabe que eles são movidos por desejos profundos e sombrios os quais ela jamais articularia verbalmente. Numa noite, após cometer mais um assassinato impulsivo, ela s...