INDECOROSO

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Era impossível ignorar o magnetismo inexplicável de Nat numa tarde chuvosa, ele se tornava o tipo de coisa que faz o coração palpitar e as convenções desmoronarem. As suas bochechas escarlates destacavam-se contra o verde molhado e exuberante do parque, o ar úmido e enevoado criava um contraste tão dramático que parecia arrancado de uma pintura romântica exagerada. Max, é claro, notou. Ele sempre notava. Quem não notaria?

Os lábios inferiores de Nat, que ele mordiscava distraidamente enquanto lhe fitava com aqueles incríveis olhos de corça e lhe direcionava um sorrisso deslumbrante, quase como se estivesse ciente do efeito devastador que causava, eram um convite silencioso, perigoso. Max sentiu uma pontada de culpa ao perceber que, mesmo na penumbra melancólica da tarde, ele desejava mais do que um cavalheiro moralmente correto deveria. O cabelo de Nat, suavemente desarrumado, praticamente o chamava a passar os dedos por ele. E não era só o cabelo que chamava. Nat todo era irresistível, cada parte dele era interessante, como a excitação de descobrir um tesouro escondido.

Embora ele não se chamasse de cavalheiro com a maneira como vinha se comportando com Nat nas últimas semanas. Mas quando se tratava dele e somente dele, Max se viu quebrando todas as regras morais da alta sociedade.

As gotas de chuva começaram a dançar pelo céu nublado, Max inalou profundamente o cheiro de terra molhada, misturado ao aroma sutil de cerejeiras e uma insuportavelmente atraente nota de bergamota que parecia se prender a Nat, tornando a sua presença ainda mais hipnotizante. Aquele friozinho ocasional, amplificado pela brisa cortante, fazia Max desejar o calor do corpo de Nat, um desejo que ele justificava a si mesmo como algo meramente prático. Claro, ele estava simplesmente tentando evitar uma constipação. Quem poderia julgá-lo por isso?

Enquanto Nat se inclinava mais perto, o corpo dele pequeno e macio parecia moldar-se perfeitamente contra o seu grande e forte. Cada curva, cada contorno, encaixava-se como se tivesse sido esculpido para caber ali. Max estava em maus lençóis, e sabia disso. Depois de conhecer a suavidade da pele de Nat e o calor do seu toque, havia algo em si que ansiava pelo impossível, por mais.

Aquela maldita declaração de amor na igreja no dia anterior tinha feito dele o homem mais feliz do mundo. E o mais confuso. Como Max não percebeu que havia nascido para ele todo esse tempo? Max havia sido tão cego e disperso Nat estava lá o tempo todo, esperando por ele.

Num rompante de consciência, a voz doce de Nat quebrou o silêncio confortável entre eles, puxando-o de volta à realidade. Ele sentiu uma pontada de culpa por não ter ouvido suas palavras iniciais, totalmente perdido como estava em pensamentos sobre o próprio objeto de sua afeição.
“Lembra da última vez que estivemos no parque?” A pergunta pairava no ar, a inocência mascarando o verdadeiro propósito por trás dela.

Max deu-se um tapa mental, parou de olhar para a boca de Nat e ter pensamentos que um cavalheiro como ele deveria ter contido em plena luz do dia enquanto passeava com o jovem visconde.

Se concentrando novamente na pergunta de Nat, como Max poderia esquecer. Ele tinha agido como um tolo sob o salgueiro, a tentar esconder a sua decepção quando Nat sugeriu que talvez fosse melhor interromper as suas aulas. Como se ele tivesse alguma escolha na questão. “Ah, sim,” murmurou Max, o sarcasmo se entremeando em cada sílaba, um sorriso provocador surgiu no seu rosto. “Estava tão ansioso para acabar com as nossas aulas. Tenho de admitir, fiquei profundamente desapontado.”

“Desapontado? Mas porque?” Os olhos de Nat brilharam de curiosidade, o toque leve do seu punho roçando o braço de Max, como uma pequena faísca correndo pela sua pele.

“Prometa que não vais me provocar?” Max parou no meio do caminho, ficou em pé na frente dele e se aproximou, desejando seu calor. Nat olhou para ele através dos cílios e, por um momento, seu olhar caiu para a pequena abertura da camisa do mais velho, que era um pouco mais profundo do que o normal, oferecendo uma visão tentadora de seu peito, muito parecido com o mesmo terno azul que ele usara ontem na igreja.

MAXNAT: HOTs AND SOFTs.Onde histórias criam vida. Descubra agora