Capítulo 5

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I'm so into you
I can barely breathe
And all I wanna do
Is to fall in deep
But close ain't close enough
'Till we cross the line
So name a game to play
And I'll roll the dice
            — ARIANA GRANDE

                     Gabriela guimarães

A competição seguiu com as apresentações das outras ginastas, mas minha atenção estava longe. Os saltos, os giros, as acrobacias – tudo se misturava em uma sequência de movimentos que, de algum modo, não eram tão interessantes quanto a imagem de Rebeca que ainda se repetia na minha mente. Ela havia sido tão perfeita em sua apresentação, parecia tão confiante. Eu me perguntei se isso era apenas a força da competição, ou se havia algo a mais que me fazia sentir aquele aperto no peito.

Carol, como se estivesse lendo meus pensamentos, se debruçou mais para perto de mim, acompanhando meu olhar fixo na tela da TV.

— Eu sabia! — Ela exclamou em um sussurro exagerado, como se fosse uma grande revelação. — Não há como negar. Não é só admiração, Gabi. Tem mais aí.

Eu respirei fundo, tentando me concentrar no que estava acontecendo ao meu redor, tentando não ceder àquela sensação crescente de desconforto. Era fácil deixar Carol me provocar, ela fazia isso há anos. Mas algo dentro de mim dizia que, dessa vez, a coisa era um pouco mais complicada do que eu gostaria de admitir.

— Tá bom, Carol, deixa disso — falei, mas minha voz saiu um pouco mais fraca do que eu gostaria. Tentei mudar de assunto, mas Carol não me deu a oportunidade.

— Deixa disso? — Ela repetiu, mais risonha do que nunca. — Gabi, você tá visivelmente apaixonada. E não tô falando só da ginástica, não. Tô falando da Rebeca.

Fiquei em silêncio. O que ela estava dizendo não era algo que eu queria ouvir, não naquele momento. A sensação que eu sentia quando via Rebeca... Aquilo era mais do que apenas admiração. Algo estava mudando em mim, e eu não sabia exatamente o que era. Mas Carol tinha o dom de tornar as coisas mais complicadas, como se soubesse exatamente onde apertar para eu me sentir exposta.

Tentando escapar da situação, virei a cabeça para a TV novamente, focando nas apresentações, mas minha mente estava distante. A imagem de Rebeca ainda me perseguia. Ela não era apenas boa no que fazia, ela era a personificação da confiança. Quando ela sorria, parecia que o mundo inteiro se iluminava. Quando falava, sua voz tinha um tom tão acolhedor, mas firme. Era impossível não se sentir atraída por ela, não só pelo talento, mas por tudo o que ela transmitia.

Carol não desistiu e, após um momento de silêncio, ela me cutucou novamente, com um tom mais suave, mas não menos persuasivo.

— Você ainda não entendeu, né? Você não tá apenas "admirando" ela, Gabi. Tá sentindo algo muito mais forte.

Eu suspirei, agora começando a me irritar um pouco. Não queria admitir, nem para mim mesma, que Carol estava certa. Nunca fui boa com sentimentos, sempre preferi as coisas mais claras, mais objetivas. E esse tipo de coisa, esse tipo de emoção, era algo que eu não estava preparada para lidar.

— Carol, para com isso. Eu só acho ela uma atleta incrível, simples assim — falei, mais ríspida do que gostaria.

Carol me olhou com um sorriso de canto, claramente não convencida. Ela sabia, e eu sabia que ela sabia. Quando ela pegava alguém de surpresa, não tinha volta. Eu podia negar, mas ela sempre achava uma forma de me fazer ver a verdade, mesmo que eu tentasse empurrá-la para longe.

O resto da competição passou em um borrão. As brasileiras ainda precisavam se apresentar, mas meu foco estava em outra coisa. Eu não conseguia tirar os olhos de Rebeca, mesmo sabendo que isso só alimentaria mais as teorias de Carol.

Quando finalmente chegou a hora da minha ginasta favorita, a tensão na sala se tornou palpável. Carol estava igualmente nervosa, mas com uma expressão que indicava que ela estava apenas se divertindo com minha confusão interna. Rebeca Andrade subiu ao tablado novamente, dessa vez para sua última série, e o mundo pareceu diminuir em volta de mim. Só ela existia, e eu só queria que ela fosse bem.

Eu sentia o coração disparar a cada movimento dela, torcendo para que tudo saísse perfeito. A ginástica, com sua beleza técnica, com seus saltos audaciosos e sua graciosidade, me fazia esquecer do que estava acontecendo dentro de mim. O que eu sentia por Rebeca não tinha nome, não tinha explicação. Só era.

Ao fim da apresentação, o silêncio se instalou. Até mesmo Carol parecia contenção, absorvendo a força da performance de Rebeca. Mas, quando a pontuação apareceu na tela, a explosão de aplausos foi instantânea. A reação da plateia foi unânime. Rebeca tinha dado o seu melhor, mais uma vez.

Olhei para Carol, que agora estava com um sorriso vitorioso nos lábios.

— Tá vendo? Isso sim é o que eu chamo de "admiração" — ela disse, com o tom de quem já sabia a resposta.

Eu fiquei em silêncio, mais uma vez. Ela estava certa, mas eu não queria admitir. Não queria olhar para dentro de mim e ver o que aquilo significava. Eu ainda não estava pronta para dar nome ao que sentia.

No final da competição, depois de mais algumas horas assistindo, Carol finalmente se levantou e me puxou para sair.

— Vamos, Gabi. Já deu, né? — Ela disse com um tom divertido, como se já soubesse que eu não estava mais ali. Eu a segui sem dizer nada, sentindo aquele peso nos ombros.

Antes de sairmos do ambiente, vi Rebeca se despedir das câmeras, sorrindo e acenando para o público. Aquela imagem, aquele sorriso, me atingiram de uma forma tão súbita que quase deixei escapar um suspiro.

Carol me olhou de novo, mais uma vez com aquele olhar de quem tinha a certeza de tudo.

— Eu sabia. E você também sabe. — Ela sorriu, agora mais suave, mas com um brilho divertido nos olhos.

Eu apenas respirei fundo, tentando esconder a crescente sensação de que, talvez, eu precisasse aceitar o que estava acontecendo dentro de mim. Mas não agora. Não ainda.

E, por mais que Carol tenha acertado em tudo, naquele momento, eu ainda não estava pronta para dar um nome ao que sentia. Eu não sabia se queria isso. Não sabia se queria lidar com isso.

Mas o que eu sabia, sem dúvida, era que, a partir daquele dia, nada mais seria como antes.

Die with a smile | REBIOnde histórias criam vida. Descubra agora