E aqui estamos com o primeiro capítulo! =D
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Soprava uma brisa fria naquele fim de tarde. Era como se até a temperatura estivesse de acordo para que o último dia do funeral de Choi Dongseok transcorresse na mais absoluta tranquilidade, assim como os anteriores. Com a quantidade de pessoas que iam e vinham desde o começo, era excelente que o clima ajudasse.
Choi Dongseok tinha sido um conhecido mecenas, um admirador profundo da arte sul coreana. Todos no meio sabiam de sua paixão por quadros e afins, e muita gente ficou tocada com sua partida. Eram vários os que queriam prestar suas últimas homenagens. Uma infinidade de artistas que foram patrocinados por ele, um sem números de admiradores de seu trabalho. E, também, um grupo de curiosos que queriam, além de dar o adeus definitivo ao homem, tentar achar uma forma de descobrir ao menos um mínimo detalhe sobre a tão famosa coleção de arte que ele escondia a sete chaves no interior de sua mansão.
Namjoon era um admirador. Mas, igualmente, um curioso.
Desde muito jovem, Namjoon tinha tido seu amor pelas artes despertado. Gostava especialmente das que podiam se manifestar através de cores e traços. Entender-se por gente também foi se compreender como um amante dos riscos abstratos, da arte que nada significava e, ao mesmo tempo, continha tudo. Não se restringia a isso, porém era certo que sua predileção repousava nesse tipo de produção artística. Por muito tempo acreditou que seu destino seria o de se tornar um desses produtores de quadros abstratos, que reuniam pessoas ao redor da obra para ficarem especulando sobre os milhões de possíveis sentidos para os traçados, para as cores, os formatos. Fez suas tentativas, como todo sonhador. Foi malsucedido em todas, entretanto. Não teve uma única pessoa que mantivesse algum brilho no olhar ao observar uma de suas obras. Mudavam a forma de gesticular, de falar, as palavras usadas, mas todos eram unânimes em um ponto: Namjoon não tinha talento para criar.
O processo de entender que jamais seria um pintor respeitado e de sucesso foi lento e doloroso, mas acabou dando bons resultados. Foi sofrendo por não poder ser quem desejava que Namjoon percebeu quem poderia ser. Após farejar num artista de rua o talento necessário para ganhar o mundo, Namjoon descobriu qual era, de verdade, seu objetivo de vida. Tinha nascido não para criar arte, mas para a encontrar e reconhecer. Era, de fato, muito bom em ver potencial onde ninguém ainda conseguia enxergar. Deixou para trás o período em que persistiu em algo que não lhe cabia e se entregou, de corpo e alma, ao que sabia fazer como ninguém. E foi assim que se viu, enfim, feliz em meio ao que mais amava: a arte.
Choi Dongseok tinha sido fundamental para que atingisse esse patamar. Foi o homem que, com suavidade, lhe disse que Namjoon tinha olhos especiais para enxergar o que ninguém mais podia ver. Foi durante um jantar, numa conversa informal numa galeria, que Dongseok abriu a mente de Namjoon para seu verdadeiro dom. Foi a primeira e única vez que tinha conseguido ter contato com o sujeito, e ela o marcou profundamente. Não havia como não ter todo respeito pelo grande mecenas. Já seria assim se faltasse o elemento pessoal, mas, havendo este, não tinha como ser diferente.
Esse era o principal motivo para que Namjoon tivesse feito uma longa viagem da capital para aquela cidade serrada, bem no meio do nada. Queria dizer a Dongseok, ainda que ele só o pudesse ouvir de outro plano, o quanto o homem tinha sido fundamental em sua história. E, com isso, poderia aproveitar e tentar checar, numa conversa aqui e outra ali, se alguém deixava escapulir alguma informação sobre a famosa coleção particular e jamais vista de Choi Dongseok. Dois coelhos, uma cajadada. Não era desrespeitoso, era? Namjoon tinha certeza de que Dongseok não acharia. Não amando arte do jeito que tinha amado em vida. Ele, certamente, compreenderia. Se tivesse um meio, era provável que até incentivaria.
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Hatch
FanfictionKim Namjoon é um curador de arte que tem a maior oportunidade de sua vida: catalogar a coleção secreta de Choi Dongseok, um dos maiores colecionadores de arte do mundo, cujo mistério sobre o acervo povoa os sonhos de qualquer um que atue no ramo. En...