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A tensão entre eles já começa a surgir. Felix observa o modo indiferente de Changbin, sentindo que algo está fora do lugar. Após meses trocando mensagens e declarações cheias de afeto, esperava um reencontro caloroso e apaixonado, mas em vez disso, Changbin parece distante, quase frio.

Felix segue com as bagagens ao lado dos cameramans, que tentam disfarçar a surpresa com a recepção gélida. Caminham até o estacionamento, onde Changbin, em silêncio, abre o porta-malas e indica onde Felix deve colocar as malas, sem se oferecer para ajudar. Felix, incomodado, coloca as suas coisas e se acomoda no banco do passageiro sentindo os olhares de todos ainda sobre si. Quando o moreno liga o carro e começa a dirigir, o silêncio entre eles é palpável.

No entanto, o silêncio não era exatamente confortável; era tenso e carregado de expectativas não correspondidas. Felix decide quebrá-lo:

—É... então é isso. Estamos finalmente juntos.- ele sorri incerto, tentando aliviar o clima esquisito e chamar a atenção do namorado. Felix tenta manter o sorriso, mas a sensação de que algo está errado só aumenta quando o outro não responde de imediato.

Changbin, sem desviar os olhos da estrada, murmura: —É. Longo voo, né? Deve estar cansado.

O mais alto encosta a cabeça no vidro e aprecia a paisagem triste e um pouco arrependido, mas tenta manter-se positivo e espera que as coisas melhorem com o tempo. Afinal, é apenas o primeiro dia.

—Lix, aqui as pessoas não têm o costume de mostrar afeto em público.- explica com um sotaque carregado, tipicamente coreano, relaxando um pouco contra o assento, agora menos encabulado com a situação anterior. —Por isso ficaram te olhando.- o choque cultural e as expectativas mal alinhadas fazem Felix questionar o que realmente conhecia sobre o namorado e a sua cultura.

Ele havia pesquisado sobre as leis e os costumes, mas não sabia exatamente o que era ficção e o que era real. Conhecia muitas expressões e comportamentos típicos dos doramas, e em todos o encontro dos amantes era fofo e caloroso, sem o enfoque em olhares de julgamento e comentários maldosos.

Enquanto dirigem pelas movimentadas avenidas de Yongin em direção à casa luxuosa de Changbin, Felix se pergunta se o amor virtual que construíram seria forte o suficiente para resistir ao peso das mentiras e diferenças que agora pairavam entre eles.

(...)

—Seja bem vindo!- o moreno diz ao abrir a porta da enorme casa e o loiro sorri surpreso com a cena.

—É enorme!

—Sim...

—Você voltou!- uma voz femenina surge de repente assustando o Lee que por pouco não derruba um vaso caro sobre a mesa de centro.

—Oi mamãe! Estou de volta!- diz na sua lingua natal confundindo um pouco o namorado que não está familiarizado com o idioma. —Este é o Felix!- apresenta o mais novo que se curva sorridente em respeito.

—Que fofo.- comenta num tom um pouco azedo. —Diz pra ele lavar a cara. Está todo sujo.

—O que ela disse?- questiona envergonhado por não entender a frase completa.

—Você tem o rosto sujo.

Felix arregala os olhos e passa as mãos no rosto, só então entendendo do que estavam falando realmente. —S-são só sardas... 

—Ele disse que é manchado assim mesmo.- o Seo fala para a mais velha que suspira visivelmente descontente com a presença do menor e se afasta em direção à cozinha sem dizer mais nada. Claramente não está gostando nem um pouco da ideia de ter o estrangeiro vivendo com eles e muito menos ser filmada 24 horas para a TV.

A primeira impressão do Lee não havia sido como o imaginado. Ele sequer sabia que mais alguém estaria na moradia. —Pensei que morasse sozinho.- comenta já no enorme quarto de hospedes, incomodado.

As paredes amarelas contrastam com as cortinas brancas. A mobilia de um castanho escuro está bem envernizada e o cheiro de limpeza é evidente. O espaço é largo, a cama grande e o banheiro privado também é chique e confortável.

—É, sobre isso... bom, eu menti.

A revelação de Changbin cai como um peso, e Felix sente um aperto no peito. Ele encara o namorado, ainda tentando processar a quantidade de surpresas desde que desembarcou. Ele havia imaginado uma vida independente com Changbin, alguém forte e seguro. E, de repente, lá estava ele, na casa dos pais, com a mãe que parecia fria e crítica.

O Seo observa a expressão do loiro e solta um suspiro, sentando-se na beirada da cama ao lado do namorado, tentando justificar a mentira.

—Olha, eu sei que te disse que morava sozinho e que era mais...- ele hesita, buscando as palavras certas. —Mais independente. Mas a verdade é que os meus pais gostam de me ter por perto, e eu nunca tive que sair de casa, sabe? Eles me proporcionam tudo.

Felix absorve as palavras, processando o abismo de diferenças entre eles. Crescera em um ambiente onde a independência era incentivada, e a ideia de viver ainda sob o teto dos pais aos 25 anos parecia estranha. Ele tinha o seu quartinho na casa dos pais também e costumava passar as férias lá, mas já trabalhava, alugava um apartamento pequeno e seguia sobre as suas próprias regras.

Ele olha ao redor do quarto de hóspedes, decorado como tudo o mais naquela casa luxuosa, mas que para ele parecia frio e impessoal.

—E quanto mais você omitiu, Changbin?- ele pergunta, tentando esconder a mágoa na voz. O problema não era exatamente a idosa no ambiente, apenas que combinaram casar e morar juntos. Tinham planos para o futuro e em nenhum deles a presença de mais alguém havia sido mensionada.

Changbin baixa a cabeça. Sabia que aquele momento chegaria, mas, ainda assim, não estava preparado para encarar as consequências. —Só... algumas coisas pequenas. Eu queria impressionar você, ser alguém de quem você pudesse se orgulhar.

Felix suspira e, numa tentativa de aliviar o peso do momento, coloca a mão no ombro do namorado. —Changbin, eu já gostava de você como você é. Não precisava disso.

O Seo sente um misto de alívio e vergonha. Esse confronto com a verdade era difícil, mas talvez fosse o primeiro passo para construir algo mais honesto entre eles. Ainda assim, não teve coragem de dizer mais nada. Não queria que o loiro decidisse ir embora logo no primeiro dia. Queria viver com o namorado, ter uma família.

—Bom, arrume as suas coisas e venha até a sala. Quero te mostrar a cidade.

90 dias para casar - ChanglixOnde histórias criam vida. Descubra agora