Prólogo - O começo do fim

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Nunca imaginei que minha vida se tornaria notícia sem ser pelo que eu mesma escrevi.

Para uma jornalista, isso é como um pesadelo distante — algo que acontece com os outros, nunca conosco. Passei anos narrando histórias, mergulhando nas vidas de estranhos, tentando encontrar verdades ocultas sob camadas de segredos e mentiras. Mas, naquela manhã específica, enquanto olhava para as fotos das mulheres mortas espalhadas na mesa da redação, percebi que algo era diferente.

As vítimas. Elas eram eu.

Não só pelo cabelo semelhante ou pelos traços que parecem espelhos tortos da minha própria imagem, mas por algo mais profundo, mais perturbador. Era como se cada uma delas tivesse sido escolhida para eu lembrar de algo que eu nem sabia ter esquecido. Um irmão perdido, uma verdade enterrada, uma história que, até aquele momento, eu não sabia que precisava contar.

Esse livro não é apenas sobre o caso que mudou minha vida. Não é sobre o assassino que tentou apagá-la. É sobre o que veio depois — e, mais ainda, sobre o que havia antes. Sobre a dor de descobrir que o mundo que você acreditou conhecer nunca foi realmente seu. Sobre a raiva de ser jogado em uma guerra que você não escolheu lutar.

Mas, acima de tudo, é sobre amor.

Amor que eu não sabia que existia, até encontrá-lo nas pequenas mãos de uma menina que me chamou de "Bebeca". Amor que me surpreendeu na força de uma mulher que insistiu em ficar, mesmo quando eu me afastei. Amor que encontrei em mim mesma, em meio às ruínas de tudo que eu era.

Houve momentos em que pensei que não sobreviveria. Momentos em que o peso era grande demais, e o silêncio, enlouquecedor. Mas estou aqui. Estou escrevendo. E, se você está lendo isso, é porque, de alguma forma, optou por acreditar que a escuridão não vence.

Na capa deste livro, há uma imagem simples, mas com muito significado: um coelho de pelúcia. Ele foi um presente de Sofia, filha de Simone, entregue a mim no dia do julgamento de Matheus. Naquele momento, eu estava cercada pela dor e pelo peso de tudo o que havia perdido. Mas aquele gesto inocente, tão simples e tão puro, me lembrou de algo essencial: mesmo nos dias mais sombrios, a vida continua. Esse coelho se tornou para mim uma lembrança constante de que o amor, a esperança e as pessoas que nos cercam têm o poder de nos salvar, de nos lembrar que nunca estamos sozinhos, mesmo quando tudo parece perdido. Ele simboliza a força que encontrei em Sofia, em Simone, e na família que construímos, e é por isso que ele está na capa — para que você também se lembre disso ao me acompanhar nesta jornada.

Este livro não é uma resposta. É uma confissão. É um abraço. É uma promessa de que, mesmo quando tudo parece perdido, ainda há algo esperando por você do outro lado.

É a minha história. Mas espero que, de alguma forma, seja também a sua.

E, se for, que você saiba: há luz além das sombras. Sempre há.

Além das Sombras - Por: Rebeca AndradeWhere stories live. Discover now